O Parque Nacional de Jericoacoara, onde está inserida a vila de mesmo nome, foi criado em 2007 a partir de uma área de proteção ambiental declarada cinco anos antes com o objetivo de preservar o ecossistema costeiro e seus recursos naturais. Por isso, é proibida a construção de rodovias e estradas nos seus 8.416 hectares de área, exigindo que o acesso seja feito por veículos adequados a circular na areia.

A maioria dos turistas que visita a região busca hospedagem na vila e aproveita para curtir os atrativos mais próximos. Exemplo disso é a Praia Principal, que possui ótima estrutura de barracas, restaurantes e bares. Eu adorei que não tinha muitas ondas e era possível, nesse dia de maré baixa, ir até longe e ter uma boa vista dos arredores.

Ali também fica a Duna do Pôr-do-Sol, de onde, como o próprio nome indica, é possível ter uma vista privilegiada no fim do dia. A formação, que já chegou a ter cinquenta metros de altura, tem aproximadamente quinhentos anos e vem, aos poucos, se deslocando para junto do mar, à medida que o vento sopra os grãos de areia.

Andando pela orla, chega-se à Piscina Natural Ananias, com diversos poços d’água quentinha que se formam entre as formações rochosas. Eu gostei particularmente de ficar um tempo por lá porque o movimento é bem menor, já que a partir desse ponto não vemos mais barracas ou qualquer outra estrutura de apoio ao turista.

Essas piscina natural fica na divisa com a Praia da Malhada, praticamente deserta, com visual mais selvagem, e é ideal para quem busca paz e tranquilidade. Uma coisa que eu percebi é que o vento estava bem mais forte por ali e havia várias pessoas praticando windsurf e kitesurfe. São esportes comuns na região, que possui lojas de aluguel de equipamentos e aulas para quem ainda está iniciando.

Se estiver com mais ânimo, vale a pena subir um barranco no fim da praia para ter uma vista privilegiada a partir do Serrote de Jericoacoara, cujos morros são responsáveis por proteger a vila dos ventos e das areias das dunas. Embora não exista uma trilha específica a ser seguida, os trechos por onde as pessoas passam com mais frequência ficam bem demarcados pela falta de vegetação.

Caminhando pelo serrote, chega-se à Praia da Vitória, que chama a atenção pela quantidade de pedras. Ali fica o Poço da Princesa, piscina natural com 1,7 metros de profundidade que pode ser visitado quando a maré está baixa. Por estar distante e não ter estrutura de barraca, o local atrai poucos banhistas. As poucas pessoas que passavam por ali estavam justamente fazendo a trilha, então não ficavam muito tempo.

O objetivo final é chegar na Pedra Furada, alcançada depois de cerca de 2 km de andança sobre as falésias ou pela estrada, onde é possível contratar uma charretes. Eu fui e voltei andando mesmo para não abusar dos coitados dos animais. Esse é um dos principais cartões postais da região e é comum formar uma fila para tirar fotos. Se quiser evitar a espera, esteja disposto a acordar de madrugada e chegar bem cedo. O Farol de Jericoacoara fica ali perto e é um ótimo ponto para acompanhar o nascer do sol.
Outros atrativos ficam muito distantes para serem visitados por conta própria, mas fazem parte de passeios guiados que podem ser feitos de forma compartilhada ou particular com até dez pessoas na jardineira, até duas pessoas no quadriciclo, de duas a quatro pessoas no UTV ou até quatro pessoas no buggy.

Embora seja mais caro, é bom de fazer o passeio de forma particular por ter mais liberdade de decidir em que pontos passar e quanto tempo ficar. No passeio pelo litoral leste, por exemplo, dispensei a parada no começo da trilha da Pedra Furada, já que isso pode perfeitamente ser feito por conta própria.

Com isso, fui direto para a árvore da preguiça, que recebeu esse nome por estar confortavelmente deitada, certamente pela ação dos fortes ventos que são característicos da região. Ela também chama a atenção por não ter muita vegetação próxima, ainda mais nessa proporção de tamanho. Ali também costuma formar uma fila para tirar fotos, mas eu consegui um registro dando a volta e pegando de um ângulo diferente.

Depois passamos na Praia do Preá, vila de pescadores com boa estrutura urbana que tem se desenvolvido bastante nos últimos anos, servindo como uma alternativa de hospedagem para quem visita a região, já que é possível ir e vir com carro de passeio. Vale a pena passar lá com mais calma para comer e curtir a praia, muito procurada pelos praticantes de kitesurf e windsurf, tanto profissionais como amadores.

Tanto essa praia quanto alguns dos outros atrativos visitados a seguir fazem parte do município de Cruz, onde também fica o aeroporto que atende a região. Uma das paradas opcionais do passeio é o Lagun Beach Club, cuja entrada é cobrada à parte. Ali foi construída uma lagoa artificial de água absurdamente azul que faz muito sucesso nas redes sociais. Vale a pena passar para conhecer, ficar algumas outras ou até mesmo dedicar um dia ao local, já que funciona como um clube com restaurante e atividades.

Mas o primeiro empreendimento do tipo na região foi o Buraco Azul Caiçara, que teve um surgimento inusitado. Há alguns anos atrás, uma escavação foi feita no local para retirada de barro e areia usados na construção de uma rodovia na região. Depois de fortes chuvas, o vão se encheu de água, formando um lago que começou a atrair visitantes. A tonalidade da água se deve à composição do solo, rico em calcário, e as cores são reforçadas pelo o brilho do sol e o reflexo do céu. O acesso também é cobrado à parte.

Como é muito para conhecer em apenas um dia, eu não quis fazer uma parada longa na Lagoa Azul, já que seria necessário deixar o carro na margem e atravessar de barco até as barracas. Além do mais, achei que ficaria repetitivo quando comparado com o próximo atrativo. Passamos por lá apenas para dar uma olhada e seguimos em direção a outro dos pontos mais famosos dessa área.

As paradas na Lagoa do Paraíso já ficam no município de Jijoca de Jericoacoara e também há opção de se hospedar perto da lagoa. Esse local tem areia fina e águas calmas e transparentes, ideais para relaxar. As redes de balanço se tornaram um ícone do local. O ponto de parada mais famoso é o The Alchymist Beach Club, que tem uma estrutura mais luxuosa, mas acabei ficando no Restaurante Água Viva, bem mais simples e barato.

Já no caminho de volta, tivemos uma rápida passada pela Lagoa do Amâncio, que tem sido descoberta mais recentemente pelos turistas. Como é formada pelas águas da chuva, ela atinge seu ponto máximo no meio do ano. Eu fiz esse passeio no meio do segundo semestre e ela já estava quase sumindo, o que pode decepcionar os desavisados.

A ordem de visitação dos atrativos pode ser invertida, como é o caso do passeio que inclui a Praia de Barrinha, uma vila de pescadores que foi engolida pelas dunas. Outra possibilidade é contratar um transfer e passar o dia em um dos beach clubs.

Se está achando muito, saiba que ainda tem todos os atrativos do passeio pelo litoral oeste. Após sermos buscados no hotel, passamos algum tempo percorrendo a Praia Jeri, que é bem isolada, sem nenhuma estrutura de barracas. O objetivo é chegar na travessia de balsa para chegar ao vilarejo de pescadores chamado Guriú, já fora do parque nacional e pertencente ao município de Camocim. É um lugar pacato e ideal para quem quer relaxar, com algumas opções de hospedagem.

Ali temos a opção de adentrar o rio em canoas comandadas por pessoas da comunidade. Cobrado a parte, o passeio ecológico dos cavalos-marinhos tem como objetivo mostrá-los em seu habitat natural por um percurso que dura cerca de vinte minutos. Nesse tempo, o barqueiro vai dando informações sobre a vida do animal, incluindo sua curiosa reprodução. Confesso que fiquei um tanto receoso por capturarem um e passar para os turistas tirarem fotos, pois não sei qual é o nível de estresse que isso causa, mas são seguidas regras de nunca tocá-los, pegando em um recipiente grande de vidro e devolvendo rapidamente para a água.

Seguindo o passeio, passamos pelo local conhecido como mangue seco, um cemitério de árvores com raízes aéreas que cria um belo contraste com o azul do céu. A Praia do Guriú em si é pouco frequentada, mas parece ser bem bonita, com sua extensa faixa de areia branca, mar azul e muitos coqueiros. Assim como muitos outros lugares que visitei nessa região, havia ali vários balanços decorados com flores ou mensagens, onde as pessoas tiram fotos.

Logo partimos para as Dunas de Tatajuba, onde são feitas paradas para fazer esquibunda na areia, além de tirolesa e tobogã em uma lagoa de água doce. A profundidade varia ao decorrer do ano, já que depende da água das chuvas para ficarem cheias. Por isso, a lagoa onde é feita a parada pode mudar. Ali, forma-se uma fila grande e as atividades são pagas. De qualquer maneira, vale a pena entrar nas águas quentinhas no meio de montes de areia, uma experiência que não se tem em qualquer lugar.

A Praia de Tatajuba, considerada uma das mais encantadoras do estado, abrigava uma comunidade que foi soterrada pelo movimento das dunas na década de 1980. As famílias dos pescadores, que vivem bem integradas à natureza, reconstruíram tudo em outro espaço, agora com o nome de Nova Tatajuba. Ali há boas opções de hospedagens e a oportunidade de ouvir sobre essa inusitada história diretamente dos moradores locais.

Mas a maioria dos viajantes, nem chega a ver a vila, que não está inclusa como destino do passeio. O destino final e principal do passeio nessa região é a Lagoa de Tatajuba, também chamada de Lagoa Grande. Ali ficam várias barracas e eu aproveitei para almoçar. Fora isso, aproveitei para me refrescar na água e ficar deitado em uma das rede. Outras pessoas estavam passeando pelas dunas, brincando dentro de bolas de ar gigantes ou praticando o stand up paddle – basicamente ficar em pé e remar em uma prancha, ideal para águas calmas.
Como se pode perceber, Jericoacoara pode ser o ponto de partida para muitos atrativos distribuídos em diferentes localidades do estado do Ceará. Para ficar mais fácil de entender os passeios e se planejar, disponibilizo acima o mapa interativo onde marquei todos os pontos que visitei. Para ver mais detalhes da vila, basta aproximar, enquanto o zoom out permite ver os pontos mais distantes.