Os guias do passeio pelo litoral leste costumam deixar os turistas no começo da trilha tradicional marcada de azul no mapa abaixo, no final da Rua do Forró, e esperam pelo seu retorno para continuar o tour. Isso implica que você tem que ir até lá, tirar suas fotos e voltar, sem muita liberdade para explorar. Além disso, acaba perdendo um tempo que poderia ser usado para aproveitar melhor os atrativos que ficam distantes da vila e fazem parte do pacote.
O caminho está identificado com um ícone de cavalo no começo porque existe a opção de pegar uma charrete para percorrer a maior parte da distância – no finalzinho tem que descer um barranco por conta própria. Eu acho uma judiação com os bichos e preferi ir caminhando mesmo, mas pela trilha alternativa da praia marcada de laranja, que descrevo a seguir.

Dos atrativos que podem ser visitados por conta própria nas proximidades de Jericoacoara, esse é um dos mais procurados. Mas eu achei legal não tanto pelo destino em si, mas pela caminhada que fiz até lá, percorrendo cerca de dois quilômetros por cima das falésias, no meu próprio ritmo. A distância vai depender da sua hospedagem na vila e aqui vamos considerar que o ponto de partida é a Praia da Malhada. Trata-se de uma área mais isolada, sem barracas ou outra estrutura, onde dá para chegar caminhando pela orla, se a maré estiver baixa, ou em um dos acessos atrás da Rua da Igreja.

Quando eu fiz esse passeio, a maré estava subindo, o que não permitia fazer a caminhada pela parte de baixo, na areia da praia. Na foto dá para perceber que eu teria que passar por cima de algumas pedras e, ainda assim, acabaria me molhando em vários pontos. Isso vai depender da época escolhida para o passeio. Se quiser se planejar ou tiver curiosidade, recomendo pesquisar a página tábua de marés, que mostra com detalhes os momentos de baixa e cheia, de acordo com o dia e o horário. De qualquer maneira, acho que vale a pena ir por cima pela vista privilegiada.

Chamo a atenção para o clima, que é sempre muito quente nessa região. Será preciso caminhar por cerca de dois quilômetros com sol forte na cabeça, já que a vegetação é rasteira e não há sombras. Recomendo usar roupas adequadas, como um bom calçado de trilha, camisa com proteção UV e chapéus, além de passar e repassar o protetor solar e levar água e lanches. E é sempre bom evitar o período de chuvas, priorizando viajar da metade até o fim do ano.

A partir da praia, é fácil identificar os pontos de subida no Serrote de Jericoacoara, cujos morros são responsáveis por proteger a vila dos ventos e das areias das dunas. Embora não exista uma trilha específica a ser seguida, os trechos por onde as pessoas passam com mais frequência ficam bem demarcados pela falta de vegetação. Ali fica o ponto identificado como Morro do Pôr-do-Sol, devido à sua posição privilegiada para acompanhar a chegada do fim do dia.

Eu preferi ir mais perto da beirada para ver as praias e o mar abaixo. Além da vista linda, com o mar de águas azuis e verdes, isso tornava mais fácil identificar pontos de interesse. Eu desci, por exemplo, no Poço da Princesa, assim chamado por conta da piscina natural que se forma com 1,7 metros de profundidade em uma das rochas da praia e pode ser visitado quando a maré está baixa.

Esse poço faz parte da Praia da Vitória. Depois de subir novamente o morro, andei mais pela parte de cima e desci na parte em que há uma faixa de areia mais ampla. Achei o local bem agradável, já que atrai poucos banhistas devido à distância e falta de estrutura, permitindo curtir com tranquilidade seu visual mais selvagem. As poucas pessoas que passavam por ali estavam justamente fazendo a trilha, então não ficavam muito tempo.

Nesse ponto são formadas outras piscinas naturais, dessa vez recebendo no mapa o nome de “dekinho” – não faço ideia do porquê. Achei o lugar muito bonito para tirar fotos e até mesmo dar um mergulho. Dessa praia, faltavam apenas 350 metros para chegar ao destino final e eu preferi seguir pela orla mesmo, embora tivesse que subir em algumas formações rochosas.

A Pedra Furada tem cerca de cinco metros de altura e se destaca pelo grande buraco esculpido pela ação da natureza, formando um arco. Quem visita a região no meio do ano, pode ter a sorte de desfrutar um raro espetáculo: ver o sol descendo exatamente no meio do vão. Além disso, a luz do pôr-do-sol realça as cores vermelhas das rochas de quartzo ferruginoso, uma exceção no litoral brasileiro.

A má notícia é que muitas pessoas querem tirar fotos no local, seja no começo da manhã (com a chegada dos turistas do passeio), no fim da tarde (para pegar a golden hour) ou em outros momentos do dia. É comum se formar ali uma fila, sendo preciso ter paciência se você realmente fizer questão de registrar a visita. Fazendo a trilha por conta própria, você tem maior liberdade. Uma boa ideia chegar bem cedo – os mais animados podem até mesmo acompanhar o nascer do sol no local, que é belíssimo.

Fora isso, a Praia das Conchas não é muito procurada para passar o dia, mesmo porque não tem nenhum tipo de estrutura de barracas, faltam sombras naturais e o mar agitado afasta os banhistas. Dali, é possível seguir por mais setecentos metros para conhecer a Pedra do Frade, um pilar de rochas que marca o final do serrote. Eu preferi subir o morro, passar pelo Farol de Jericoacoara e seguir o caminho tradicional de volta para a vila. Ele não tem uma vista tão interessante quanto a trilha próxima do mar, mas é uma estrada mais larga e plana, que leva direto ao centro da comunidade. Andando sem pausas para tirar fotos, levei cerca de meia hora para chegar ao hotel onde estava hospedado.