O centro histórico de Genebra é bem grande e possui diversos pontos de interesse como igrejas, museus e parques. Obviamente que eu não conheci tudo – nem metade – nem um quarto – nem um décimo. De qualquer maneira, acho que fiz um bom roteiro e posso dizer que o passeio foi bastante satisfatório. Eu estava hospedado em Lausanne, no Hôtel Résidence du Boulevard, e tinha o plano de visitar Genebra só por um dia. Acabei voltando justamente porque tinha muita coisa para ver, então não fiz exatamente esse trajeto que mostro no mapa interativo abaixo. De qualquer maneira, acho que ele dá uma boa noção do que se pode conhecer na região.
Nessa postagem vou concentrar apenas no que visitei no centro histórico mesmo, mas também aproveitei a ida à cidade para dar uma esticadinha até o Mont Salève, que fica já na França e de onde se tem uma vista linda da região. Falo dele e de como chegar até ele em outra postagem. Outros passeios que eu fiz, dessa vez dentro de Genebra mesmo, foram um tour guiado na Organização das Nações Unidas (ONU), que também ficou separado porque está fora do centro histórico, e a ida até o Mamco – Musée d’Art Moderne et Contemporain. Todo o restante eu englobei no trajeto do centro histórico, marcado no mapa acima pela linha verde, totalizando quase 7 km de caminhada. Vamos lá.

Cheguei à cidade na Gare Genève-Corvanin e de lá peguei um transporte local até o centro da cidade para iniciar meu passeio. O primeiro ponto foi o Promenade des Bastions, um parque bastante visitado que fica ao lado da Place Neuve. Eu adorei os tabuleiros gigantes de xadrez e damas, algo que eu já tinha visto em Zurique. Algumas mesas de pingue-pongue também ficam disponíveis aos visitantes e, no verão, várias espreguiçadeiras.
O parque foi criado em 1817 por Augustin-Pyrame de Candolle, sendo o primeiro jardim botânico de Genebra. Ainda hoje, várias das árvores plantadas ali são as únicas da cidade. Outros destaques dessa área são os cafés e a Université de Genève. Para quem tiver interesse, o menu do Café Restaurant du Parc des Bastions pode ser acessado na página oficial.

Mas o que realmente chama a atenção é o Monument International de la Réformation, apoiado nas antigas muralhas da cidade. Trata-se de um paredão de pedra com representações de estadistas, pioneiros e protetores da reforma, com destaque para Guillaume Farel (um dos instigadores da reforma), Jean Calvin (personagem central do movimento que deu origem ao calvinismo), Théodore de Bèze (reitor da Académie de Genève) e John Klox (fundador do culto presbiteriano na Escócia), que aparecem juntos ao centro com uma altura de 5 metros – no total são 10 estátuas, além de escrituras e decorações. O monumento foi inaugurado em 1917 em comemoração aos 400 anos de nascimento de Calvin e 350 da criação da Academia por ele.
Saindo (ou entrando) pela Rue Saint-Léger, você irá ver o majestoso edifício Palais Eynard, construído em 1817 por um banqueiro suíço com projeto de um arquiteto florentino. Atualmente, o local é sede da administração da cidade.

Para quem gosta de história, o Musée d’Art et d’Histoire faz parte de um grupo de museus que reúne coleções multidisciplinares, incluindo pinturas, esculturas, gravuras e objetos históricos relacionados aos campos da arqueologia, artes aplicadas e belas artes, cobrindo as principais etapas da história da arte ocidental, desde a pré-história até a era contemporânea. O Museu de Arte e História, especificamente, possui cerca de 650.000 objetos, uma parte deles exposta nos cinco andares de seu prédio centenário. Além da coleção permanente, são feitas dezenas de exposições temporárias todos os anos. As informações estão na página oficial.

A Place du Bourg-de-Four é uma das principais praças do centro histórico. O nome pode ter sido originado da língua dos allobroges, uma tribo antiga, e significa “vila externa”, já que a praça ficava fora das muralhas da cidade. Ali funcionava um mercado de gado. Atualmente, o local também está ligado à alimentação, uma vez que há vários restaurantes.

Dali é possível voltar para perto do parque, mas dessa vez passando pela parte superior, no Promenade de la Treille. Esse é o passeio mais antigo de Genebra, tendo sido criado no início do século XVI e deve seu nome à sua encosta, outrora plantada com vinhas. Na foto acima, é possível ver o famoso banco do parque, que possui mais de 120 metros de comprimento e é considerado o mais longo do mundo. Como está posicionado no alto, o jardim oferece uma bela vista da região.

De volta à Place de Neuve (esse roteiro é cheio de vai e vem), vale a pena visitar o Musée Rath. Aberto ao público em 1826 pelas irmãs Rath, foi o primeiro museu de belas artes da Suíça. Entre 1916 e 1919, o museu interrompeu as suas atividades devido à Primeira Guerra Mundial. Nesse período, o prédio foi ocupado pela Agence Internationale des Prisonniers de Guerre (Agência Internacional dos Prisioneiros de Guerra), fazendo a mediação entre os prisioneiros e suas famílias. Ali são organizadas as principais exposições temporárias do grupo de museus de arte e história que citei acima. As informações podem ser encontradas na página oficial. Ao seu lado ficam o Grand Théâtre e o Conservatoire de Musique.

O centro de Genève é cheio dessas ruazinhas charmosas com prédios antigos. É uma delícia andar por ali porque em muitas delas não passa carro nenhum, o que também proporciona ótimas fotos. Você acaba descobrindo fachadas, portas e outros detalhes interessantes. Uma dessas ruas é a Rue de la Cité, da foto acima.

Infelizmente são tantas coisas para ver que não dá mesmo para entrar em todos os lugares. Uma das atrações turísticas em que eu só passei na porta foi a Maison de Rousseau et de la Littérature. Funcionando na casa onde nasceu Jean-Jacques Rousseau, é o primeiro local permanente da Suíça francófona dedicado à literatura. O espaço foi inaugurado em 2012 e oferece uma jornada audiovisual sobre a sua vida e obra, incluindo uma pequena livraria especializada em seus textos e de especialistas do iluminismo. Além disso, são realizadas reuniões com autores contemporâneos de todo o mundo, exibições temporárias e outros eventos. A agenda pode ser acessada na página oficial.

Pertinho da casa do Rousseau fica o Ancien Arsenal, na rua mesmo, aberto para quem quiser conhecer. Eu confesso que não tinha pesquisado sobre esse lugar e descobri por acaso. Trata-se de uma exposição de canhões, dois deles faziam parte da artilharia da cidade que foi requisitada pelos austríacos e levados a Viena em 1814. Os canhões e outras armas voltaram para a Suíça no início do ano seguinte por uma iniciativa pessoal do tenente Joseph Pinon. Também chama a atenção no local os mosaicos das paredes.

Ao lado fica a Maison Tavel, a mais antiga residência privada da cidade, construída. Trata-se de outro dos museus históricos de Genebra, com foco na história urbana e na vida cotidiana local. A exposição permanente, de visitação gratuita, inclui uma impressionante maquete da cidade, cômodos que reproduzem uma moradia do século XVIII, portas e placas antigas de madeira e outros materiais, as cabeças que adornavam a fachada do edifício e outros atrativos.

Também bem antiga e certamente o ponto mais importante do passeio pelo centro histórico é a Cathédrale Saint-Pierre, atualmente uma igreja protestante. A visita interna é gratuita, mas você paga para subir até as torres, de onde se tem uma vista privilegiada em 360° da cidade e da região, uma vez que a construção se encontra no topo de um morro. Também vale a pena conhecer o Site Archéologique de la Cathédrale, que releva várias descobertas sobre a ocupação do local. Sobre a igreja eu fiz duas postagens: uma sobre sua história e outra sobre a visita.

Essa região central tem muitas opções de lugares para almoçar. Eu não tinha feito nenhuma pesquisa prévia, mas passei na frente do restaurante Chez Ma Cousine e resolvemos, pelo cardápio e pelo preço, comer por lá mesmo. É um lugar simples, de comida gostosinha. Eu pedi uma salada de folhas, tomate, ovos, bacon, croutons, cebolinha e queijo gruyère. Depois comi uma mousse de chocolate de sobremesa. Nada de especial, mas deu para matar a fome e saí satisfeito.

Do ladinho da igreja fica o Musée International de la Réforme, que conta através de objetos, livros, manuscritos, pinturas e gravuras como Martin Luther, Jean Calvin e outros religiosos estiveram envolvidos na reforma da igreja católica. O museu está localizado na Maison Mallet, construída no século XVIII no local do antigo claustro da igreja, onde foi votada a Reforma em Genebra em 1536. As informações estão na página oficial.

Estou falando de vários museus, mas só de andar pelas ruas você vai ver um monte de coisas históricas. Para que elas não passem despercebidas, é importante estar atento. Um exemplo é a Fontaine Rue du Perron, uma das várias fontes espalhadas pelo centro de Genebra. Desde a Idade Média até o início do século XVIII, um poço estava presente na Rua do Perron. Em 1828, o Conselho da Cidade encomendou a criação da fonte nesse local, o que aconteceu nos anos seguintes. Você pode aproveitar que a água é potável, se refrescar e reabastecer a sua garrafa.
Outro destaque desse lugar é a Passage de Monetier, uma passagem secreta usada por soldados e fuga de civis. Infelizmente o acesso fica fechado, só abrindo por dois dias do ano, durante o Festival Escalade. Nessa ocasião, forma-se uma fila de moradores locais e turistas para passar pelo interior do túnel.

Dali seguimos em direção ao Lac Léman, que muitas pessoas chamam de Lago Genebra. No trajeto, passamos pelas Rue de la Croix-d’Or e Rue du Rhône, bem mais largas e cheias de lojas. Eu não fiz praticamente compra nenhuma na Suíça porque as coisas por lá são muito caras, mas essa região está repleta de lojas finas como Lacoste, Gucci, Chanel, Hermés, Prada e companhia. O que eu acho que vale a pena comprar são os produtos de preço padronizado, como acontece com a Apple e eletrônicos que podem ser encontrados na Fnac, por exemplo. Obviamente você também encontra alguns itens típicos da suíça, como canivetes da Victorinox, relógios, vinhos e queijos.

Voltando para uma parte mais natural, fui passear pelo Jardin Anglais. O ponto mais famoso ali é o Horloge Fleurie, o relógio de flores que muda ao longo do ano para se adaptar às flores da estação. O jardim também possui como atrativos uma bela fonte do século XIX, o pavilhão rústico, estátuas e opções gastronômicas. É um bom lugar para sentar no banco para fazer um lanchinho trazido de casa – sempre é bom economizar quando se trata de uma viagem na Suíça.

Do próprio parque você já vê o Jet d’Eau, um dos principais cartões postais de Genebra. Não satisfeito, eu fui caminhando até lá pela passarela que fica sobre o lago. Quando eu fui, na primavera, a temperatura estava bastante agradável e eu animei passar pelo jato para receber um pouco do vapor de água espalhado pelo vento.
Ali também fica um dos locais de partida e chegada dos barcos que fazem o transporte de passageiros pelo lago. Além dos passeios simples, existem alguns especiais que incluem almoço, festas e eventos. Como eu tinha muitas coisas para conhecer na cidade e já tinha feito tour de barco em outra cidade, acabei deixando para outra vez.

Essa parte do passeio eu fiz já próximo ao entardecer, no caminho de volta para a estação de trem, pois eu estava hospedado em Lausanne. Com isso passei novamente pelo jardim e atravessei a Pont du Mont-blanc, toda decorada com bandeiras da Suíça e de Genebra. Um dos seus destaques é ser o local de chegada da Marathon de Genève, além de ser um ótimo ponto de vista da queima de fogos realizada durante as Fêtes de Genève e a travessia do Lago Parade.
A ponte fica na divisão entre o lado e o rio Rhône. O legal no rio são as pequenas ilhas entre as duas margens. A primeira delas, chamada Île Rousseau, possui uma estátua do filósofo e escritor suíço.

No caminho também parei para conhecer o Jardin des Alpes, que fica na outra margem do lago. O local chama a atenção pelo Monument de Brunswick, o mausoléu de um duque alemão que deixou uma generosa herança para a cidade. Ali perto também está uma estátua da Impératrice Sissi, assassinada por um anarquista italiano no local. O parque também tem um charmoso café que funciona em um chalé de tijolinhos a vista, mas acabei não parando para comer lá.

Em compensação, em um dos dias que passei por Genebra, experimentei o Holy Cow! Gourmet Burger Company, uma hamburgueria que fica exatamente em frente à estação. A ideia deles é valorizar os ingredientes dos produtores locais e oferecer opções mais naturais em uma rede de estilo fast-food. Eu achei o hambúrguer bem saboroso e certamente voltaria lá mais vezes para experimentar outros sabores.

Por fim, cheguei à Gare Genève-Cornavin, que faz a ligação de Genebra com outras cidades Suíças, com o aeroporto e também com a França. Uma dica legal é que essas estações grandes possuem verdadeiros shoppings centers e suas lojas e supermercados ficam abertos até mais tarde e em todos os dias do ano, enquanto os da rua fecham bem cedo e nem abrem em domingos e feriados. Nas lojinhas de conveniência, dá para aproveitar e comprar sanduíches naturais para comer na viagem ou durante o dia, o que fica bem mais em conta do que ir em um restaurante.