Uma das partes mais agradáveis do passeio em Genebra foi no Jardin Anglais, um parque urbano situado às margens do lago. São mais de 25.000 m2 de área verde seguindo o modelo dos jardins ingleses, que fica próximo ao jato d’água, das luxuosas lojas e do centro histórico. Nos dias de sol, o local é ocupado por corredores, patinadores e ciclistas, além de moradores locais e turistas vindos de todos os lugares do mundo.

A margem direita do parque possui um largo calçadão chamado Promenade du Lac, onde pode ser feita uma caminhada com vista para o lago. Ali também é o ponto de partida para muitas excursões pelas calmas águas a bordo de barcos antigos da CGN – Compagnie Générale de Navigation. Os horários, preços e opções de passeio podem ser consultados na página oficial, lembrando que o bilhete é gratuito para quem estiver utilizando o Swiss Travel Pass. Para quem quiser algo mais elaborado, as opções incluem barcos com refeições e eventos a bordo, com queima de fogos em datas especiais e festas.
Um dos pontos mais famosos desse parque é o Horloge Fleurie, que combina perfeitamente a tradicional relojoaria suíça com a natureza. Criado em 1955, o relógio de flores é composto por mais de 12.000 plantas cuidadosamente instaladas por especialistas em mosaicos do Departamento Greenspace da Cidade de Genebra, com manutenção constante de jardineiros.

Para que fique sempre bela, a decoração do relógio é renovada cinco vezes por ano com flores adaptadas a cada estação, sendo duas trocas na primavera. O legal é que eles trocam não apenas as flores, mas também os desenhos. Também é usado um sistema de irrigação para fornecer água e protegê-las do calor do sol, além de um dispositivo de alarme para prevenir atos de vandalismo – nem pense em subir no canteiro para tirar selfies. Quanto ao horário marcado, pode confiar, pois a sua configuração é controlada por satélite. O ponteiro dos segundos, com 2,5 metros de comprimento, é provavelmente o maior do mundo.
Outro atrativo do jardim é o palco que funciona no antigo coreto e atualmente recebe apresentações musicais nas noites de verão, no evento chamado Fêtes de Genève.

Para quem quiser fazer uma refeição por ali mesmo, o restaurante La Pontinière fica do ladinho do coreto e atrás do Relógio de Flores. Quando eu passei por lá, o local estava sendo utilizado para um evento fechado. Pelo que pude perceber, é um ambiente bastante elegante. Para quem tiver curiosidade, o cardápio pode ser acessado na página oficial. Há outras opções de alimentação por ali, como o Bateau Genève. Esse barco ficou particularmente famoso em 1898, quando a Imperatriz Sissi foi apunhalada no coração por um anarquista italiano, correu até a embarcação, mas acabou falecendo no deck. Atualmente, o barco é uma associação beneficente que oferece apoio e refeições gratuitas para pessoas em necessidade, mas turistas também podem usufruir de seus almoços e jantares. As informações também estão na página oficial.

Outra parte histórica interessante do parque é o Pavillon Rustique, construído em 1895. O pavilhão rústico é composto por argamassa e armação de ferro imitando com perfeição as formas da natureza, como nos troncos e galhos de árvores utilizados nas balaustradas e postes e as pranchas e palhas da cobertura. Esse tipo de construção ficou bastante popular na segunda metade do século XIX. Com o tempo as cores originais acabaram se desgastando, só deixando vestígios na parte interna do telhado. Além disso, o tempo e a infiltração de água causaram outros danos estruturais, como a corrosão dos ferros e rachaduras. Atualmente, o pavilhão está bem restaurado.

Além da gastronomia, a prática de exercícios físicos, a vista para o lago, o famoso relógio e os eventos musicais, o jardim possui três bustos em homenagem aos pintores Alexandre Calame e Françóis Diday e ao escultor Auguste Rodo de Niederhausen. Também importante é o Monument National, inaugurado em 7 de setembro de 1869 em comemoração à independência do Brasil incorporação da cidade de Genebra à Confederação Suíça. Mas o que mais me chamou a atenção foi a bela Fontaine des Quatre-Saisons, datada de 1863. Enquanto a parte superior é decorada com a figura de quatro crianças, embaixo estão representados dois homens e duas mulheres, além de detalhes que evocam o Mediterrâneo e o mundo das ninfas marinhas.

Falando em fonte, uma das coisas que mais chama a atenção de quem passeia à beira do lago é o famoso Jet d’Eau, brasileiramente conhecido como jato d’água. Eu sempre questionei o motivo dessa jorrada líquida ser tão famosa a ponto de ser considerado um ponto turístico, mas o fato é que ela realmente não passa despercebida e é consideravelmente divertida. O bombeamento de até 1000 kW e 500 litros por segundo faz com que a água alcance uma velocidade de 200 km/h e uma altura de até 140 metros.

Uma passarela sobre o lago te leva até o jato e, dependendo da direção do vento, você pode aproveitar para se molhar um pouco. Só é preciso tomar cuidado porque a pista pode ficar um pouco escorregaria. Além disso, se você vai até o final da passarela e o vento muda quando você estiver voltando, você poderá ficar encurralado se a ideia for voltar sequinho. No meu caso, estava um agradável dia de primavera, então eu queria mesmo me refrescar. O legal de andar nessa passarela é que você tem uma vista ótima da cidade.
Eu estava hospedado em Lausanne, no Hôtel Résidence du Boulevard, e fui dois dias passear em Genebra. Em ambas as ocasiões, o jato estava ligado, mas li em uma placa no local que ele fica inoperante em alguns horários e datas para manutenção, podendo também ser desligado dependendo do clima. Como eu fui em maio, ele estava ligado praticamente o dia inteiro, recebendo iluminação artificial após o pôr-do-sol.

Tudo começou em 1886, quando uma empresa de Genebra bombeava e distribuía água para os artesãos da época. Como a demanda diminuía muito durante a noite, um orifício foi criado no final dessa casa de bombas em La Coulouvrenière para diminuir a pressão da água, que jorrava verticalmente alguns metros. Cinco anos depois, devido à popularidade alcançada, o Jet d’Eau foi realocado para o porto de Genebra e acabou se tornando um de seus símbolos icônicos, refletindo a identidade, a vitalidade e a internacionalmente reconhecida preocupação da cidade com o meio ambiente. Em 1951, uma sofisticada estação de bombeamento de água foi instalada no local e é utilizada exclusivamente para a operação da atração. O fornecedor local de serviços de utilidade pública SIG é o dono da infraestrutura e responsável por gerenciar seu funcionamento e manutenção.

O passeio à beira do lago ainda pode continuar pelo Quai Gustave-Ador, como é chamado o calçadão após a passarela do jato d’água. Ali há uma grande quantidade de barcos atracados e algumas lojas onde é possível alugá-los. Eu dei umas voltas pela região, mas não cheguei a ir até o Parc de la Grange, que fica logo depois. Nessa hora, preferi fazer o caminho de volta e ir andando até a estação de trem para voltar a Lausanne.