Os passeios pelo Parque Nacional Serra da Capivara são feitos, obrigatoriamente, com o acompanhamento de um dos condutores locais credenciados. Cada um deles fica responsável por um pequeno grupo de pessoas, permitindo uma experiência mais personalizada e informativa, além de garantir a preservação das gravuras e pinturas nos paredões rochosos e do meio ambiente. Eu estava viajando em um grupo de quatro pessoas e contratamos o Edu Coelho para programar e orientar as visitas.
O roteiro varia de acordo com os objetivos de cada grupo, podendo ser mais acessível e voltado para a parte histórica, ou incluir trilhas mais longas e, até mesmo, atividades radicais. O mapa interativo acima mostra os pontos que eu visitei. Recomendo pesquisar os voos para definir a melhor forma de chegar à região e alugar um carro para usar durante os passeios fora e dentro do parque.

Como a reserva tem cerca de 130 hectares e mais cento e cinquenta sítios arqueológicos preparados para receber o público geral, é interessante conhecer os principais circuitos. Duas cidades podem ser usadas como base e a maioria dos turistas acaba passando em algum momento pelas duas: São Raimundo Nonato e Coronel José Dias.
Circuito do Boqueirão da Pedra Furada
Essa pode ser considerada a área mais popular do parque porque reune uma variedade de atrativos incluindo, como o próprio nome indica, a Pedra Furada. Basicamente, trata-se de uma grande fenda em formado arredondado em um paredão rochoso que serve de plano de fundo de uma extensa praça, ponto de encontro onde são realizados eventos diversos.

Ali também fica um dos principais sítios arqueológicos da região. No Baixão da Pedra Furada foram achados os mais antigos registros da presença humana do parque e suas pinturas, que incluem a representação de um beijo e um animal com seu filhote, são usadas na logomarca e artesanatos. O espaço também pode ser visitado a noite com iluminação especial, sempre na companhia de guias, com reserva prévia e dependendo do clima, já que não é permitido entrar em dias de chuva.

Essa área conta com outros sítios arqueológicos diversos, além do Mirante das Mangueiras, de onde se tem uma bela vista da natureza. Também chama a atenção a quantidade de seixos, pequenas pedras arredondadas, incrustadas nos paredões. Isso evidencia que ali passava um grande rio.
Circuito do Caldeirão dos Rodrigues
Embora não tenha feito esse circuito completo, tive a oportunidade de ver o Caldeirão dos Rodrigues de cima fazendo uma caminhada um pouco mais longa pela floresta e subindo duas escadas que dão acesso a mirantes.

A primeira é mais antiga e perigosa, já que não possui guarda-corpo. Isso não quer dizer que a escada nova, inaugurada no final de 2021, não seja igualmente emocionante. A primeira parte é mais tensa, já que sobe-se a noventa graus e não dá para ver exatamente a parte superior. Depois ela inclina um pouco e é dividida em mais três trechos, permitindo parar com mais tranquilidade para retomar o fôlego. Ao todo, são 114 degraus para alcançar 60 metros de altura.

A recomendação é que não façam esse circuito os menores de quatorze anos, os cardíacos e os hipertensos. Além disso, se você tem medo de altura, vai ser difícil subir essas escadas ou fazer as trilhas na parte superior dos paredões.
Essa é considerada uma das mais importantes áreas do parque pela quantidade de sítios arqueológicos, incluindo a que dá nome ao circuito. Ali foi encontrado um painel de forte caráter narrativo, incluindo momentos de caça, rituais e sociabilidade.

Além das amostras de carvão, que comprovam a ocupação humana no local há mais de doze mil anos, também foram achados ali fragmentos de cerâmica e uma machadinha de pedra polida, os mais antigos de todo o continente americano.

Outro atrativo interessante foi o Mirante do Boqueirão do Pedro Rodrigues, que tem uma subida mais tranquila que o citado anteriormente porque não passa por escadas. Dali se tem uma vista muito privilegiada do parque. De um lado, dá para ver a Pedra Furada. Do outro, o Museu da Natureza se destaca em meio às árvores.
Circuito do Desfiladeiro da Capivara
Esse é o primeiro circuito visitado por muitos dos turistas que chegam à região devido à facilidade de acesso a uma mostra significativa de pinturas rupestres. Basta parar o carro e andar poucos metros, às vezes subindo alguns degraus de escada, para ter acesso às tocas. Talvez por isso mesmo esse tenha sido o primeiro local visto pela arqueóloga Niède Guidon.

Isso não quer dizer que o passeio seja limitado. Com uma caminhada tranquila você chega à Toca do Inferno, que chama a atenção pela grandiosidade das formações rochosas, por onde entram fachos de luz. Ali predomina um clima de mistério e os guias contam sobre lendas do local.

Por fim, uma trilha mais longa e a subida de uma escadaria leva ao Baixão da Vaca. Esse sítio arqueológico é mais extenso, com muitas pinturas ao longo do paredão, mas o destaque mesmo é pelo seu posicionamento mais alto, permitindo ter uma vista mais ampla do desfiladeiro.
Quando eu fiz a viagem, em 2022, esse havia sido o último circuito inaugurado no parque. Considerado de baixa dificuldade, ele fica do lado oposto aos citados anteriormente, mas também inclui registros rupestres com cenas de caça, lutas e outras passagens do quotidiano dos homens pré-históricos.

O que mais me chamou a atenção nesse passeio, entretanto, foi a Casa de João Sabino. Fato é que as tocas do parque continuaram a ser habitadas até tempos recentes e esse é um belo exemplo de como era a estrutura, a divisão dos cômodos e a vida no local.
Outro ponto que oferece uma experiência bastante particular é o Baixão das Andorinhas, de onde se tem uma vista belíssima de um vale por onde deve ter passado, há alguns milhares de anos atrás, um rio.

Essa toca foi descoberta mais recentemente porque o acesso não era tão fácil, tanto que construíram ali uma pequena escada. No paredão abaixo foram encontradas algumas pinturas rupestres. São representações de pessoas e animais em diferentes situações como caça e rituais, na maioria feitas com tinta vermelha, embora também apareçam algumas em branco.

O maior atrativo ali, entretanto, é o voo rasante das andorinhas, que buscam abrigo nas fendas do enorme cânion, com noventa metros de profundidade. Elas chegam no fim da tarde, então também é uma boa oportunidade para os visitantes de acompanharem o pôr-do-sol.
Circuito de museus
Existem dois museus na região que vale a pena serem visitados por complementarem bem o que é visto nos passeios pelo parque. Um é mais focado na parte histórica, enquanto o outro traz reflexões sobre o meio ambiente.

O Museu do Homem Americano reune os resultados das pesquisas e parte do acervo encontrado nas escavações, incluindo informações surpreendentes sobre a ocupação da região e a evolução cultural dos grupos humanos nessa área desde a pré-história. Inaugurado em 1998, ele tem uma exposição mais tradicional, mas com informações interessantes. Ele fica em São Raimundo Nonato.

Já o Museu da Natureza, aberto em 2018, tem um visual mais moderno e abusa dos recursos audiovisuais para tornar a visita mais interessante. A exposição funciona como uma linha do tempo da evolução do nosso planeta, com foco no ecossistema local. Ele fica na zona rural de Coronel José Dias, ao lado de uma das entradas do parque.

Vou citar uma opção extra que é a visita à fábrica da Cerâmica Serra da Capivara, uma das iniciativas para o desenvolvimento sustentável da região e meio de vida da população local. As peças, com tema de pinturas rupestres e cores típicas da região, são vendidas em grandes lojas pelo país e exportadas para países europeus e norte americanos. Na lojinha, é possível comprar com desconto.