Algumas pessoas que fazem os passeios pelo Parque Nacional Serra da Capivara optam por se hospedar em Coronel José Dias, que fica mais próximo dos atrativos mais famosos. Para visitar os circuitos do lado oposto do parque, entretanto, a melhor opção é dormir em São Raimundo Nonato, onde fica o aeroporto mais próximo.

Além de ser uma cidade maior e possuir mais estrutura, ela fica no meio do caminho entre as duas áreas, como pode ser observado no mapa interativo abaixo. Eu optei por me hospedar no Real Hotel e, embora tenha considerado a estrutura simples, fiquei bastante satisfeito. Seja qual for a escolha, é importante alugar um carro. No meu caso, eu fiz isso em Petrolina, no estado de Pernambuco, que é considerada uma das porta de entrada para os passeios na região. O veículo foi usado tanto para fazer a viagem entre as cidades quanto para os deslocamentos dentro do parque.
Também é preciso contratar um guia, já que não é permitido explorar a reserva por conta própria. Eu estava em um grupo de quatro pessoas e o Edu Coelho ia com a gente no carro. Se você não quiser dirigir, é importante já negociar isso com quem ficar responsável te acompanhar, pois pode ser preciso pagar um motorista. Grupos maiores também devem ficar atentos ao número máximo de pessoas por guia.

Nesse dia, o Edu nos encontrou no hotel e seguimos viagem por uma estrada asfaltada por quase quarenta quilômetros até a entrada do parque. A partir dali, pegamos o caminho de terra que leva até a guarita, onde os visitantes são registrados e pode-se usar o banheiro. Para esses passeios, é importante usar roupas e calçados adequados, com especial atenção para a proteção do sol. Outro item importante é um repelente de mosquitos, já que são feitas caminhadas na mata.

A primeira parada foi na Toca do Vento, que se formou em um afluente do rio principal que cortava a Serra Branca. Em 1973, os pesquisadores encontraram esse abrigo sendo usado por uma família que se instalou ali para coletar o látex da maniçoba e, posteriormente, plantar mandioca e produzir farinha e tapioca. Os produtos eram levados de jumento até a cidade e trocados por alimentos e querosene. Dois anos depois, os moradores deixaram o local, permitindo a realização dos trabalhos arqueológicos.

O tipo de sedimentos encontrados ali indicam a existência, em tempos pré-históricos, de um lago. Os carvões restantes de fogueiras foram datados em 8.500 anos, confirmando o fim do período tropical úmido que aconteceu na região. As escavações também permitiram descobrir pinturas enterradas e a presença de antigas cachoeiras, confirmando que praticamente todos os sítios de arte rupestre da região estavam ligados à proximidade de fontes d’água.

Percorremos cerca de quatro quilômetros de carro até a Casa de João Sabino. Além do homem que dá nome ao local, ali também vivia sua esposa, Ana Rosa da Conceição. Eles eram os responsáveis pela organização das festividades de São João, costume que teve início com uma promessa da mãe de João Sabino. Atualmente, o filho do casal e sua mulher dão continuidade à novena, realizada entre 15 e 23 de junho, com a festa no último dia.

O interessante dessa visita, além de ser algo totalmente diferente do que estava vendo nos outros dias, foi entender como se organizava a ocupação humana no local em tempos mais recentes. Nesse caso, o espaço foi dividido em cômodos como quarto, cozinha e área para os animais.

Obviamente, essas ocupações também causaram danos aos registros históricos mais antigos, como pode ser visto na Toca da Extrema II. Ali, grandes blocos cobertos de gravuras caíram sobre o solo, formando mesas naturais. Os caçadores atuais usavam a estrutura para cortar a carne da caça, adicionar sal e deixá-la secando ao sol. Em 1997, para garantir a preservação, esses blocos foram transportados para o Museu do Homem Americano.

Outros caíram com a face da pintura voltada para o solo, o que garantiu uma melhor preservação. Após passarem por um processo de limpeza, foram remontados e colocados sobre a base rochosa do abrigo, protegidos da chuva. Por outro lado, imagens feitas nas paredes após essas quedas foram cobertas por outras dos povos que viveram ali depois, permitindo traçar uma linha do tempo dos registros.

Também passamos pela Toca do João Arsena e na Toca do Veado, que ficam bem próximas uma da outra. Embora elas tenham as suas particularidades, chega um momento em que ver tantas pinturas rupestres se torna meio repetitivo. Talvez por isso mesmo o que mais me chamou a atenção por ali foram as formações rochosas.

Nossa última parada foi na Toca Pinga do Boi, cujas pinturas tem como diferencial o uso de formas geométricas que criam uma textura no corpo dos animais. Essa também foi uma parada estratégica porque nesse dia não fomos em um restaurante. Como previamente combinado com o guia, levamos frutas, biscoitos, sanduíches e sucos para fazer um piquenique, aproveitando as mesas e bancos de madeira que ficam perto da toca.

Nos outros dias a gente também levava alguns lanches leves para enganar a fome durante o dia, além de pelo menos um litro de água por pessoa. Mas essa região do parque é mais isolada em termos de estrutura urbana, então não paramos para fazer um almoço propriamente dito. Ali também parece receber menos visitantes, pois eu não passei por outros grupos durante o dia.

Depois de comer, tomamos a estrada de volta, indo em direção a São Raimundo Nonato. Mas ainda aproveitamos o período da tarde para fazer o Circuito da Serra Vermelha. O ideal é ir até lá no fim do dia para pegar o momento de chegada das andorinhas, um outro espetáculo da natureza local.