Embora eu não tenha visitado os sítios arqueológicos desse circuito, o objetivo principal nessa manhã foi subir ao mirante que dá a vista do Caldeirão dos Rodrigues. O passeio por ali teve alguns diferenciais do que eu estava fazendo no restante dos dias e é uma oportunidade para destacar outro potencial turístico da região: as trilhas de aventura.
Eu fiquei hospedado no Real Hotel, na cidade de São Raimundo Nonato, que é maior e tem mais estrutura urbana, sendo bastante usada como base para conhecer a região. A outra opção é dormir em Coronel José Dias, que é bem menor e fica mais próxima a esse atrativo, funcionando bem para aqueles que buscam se hospedar com mais contato com a natureza.
Seja qual for a opção, é importante alugar um carro, pois é necessário percorrer grandes distâncias entre os circuitos, sempre dirigindo com cuidado porque é comum encontrar animais na pista. Embora a cidade conte com um aeroporto, eu usei Petrolina, no estado de Pernambuco, como ponto de entrada para os passeios na região. O veículo foi usado para aproveitar tanto os atrativos da cidade quando para fazer a viagem pelo Piauí.
O mapa interativo acima tem os lugares que eu visitei durante os meus quatro dias de passeio, mas o roteiro pode mudar bastante de acordo com os seus interesses, tempo disponível e necessidades. Como a entrada no parque está condicionada ao acompanhamento de um guia, o ideal é combinar tudo com antecedência. Meu grupo de viagem tinha quatro pessoas e contratamos o Edu Coelho.
No Fundo do Baixão da Pedra Furada, essas figuras, que representam uma fila de emas, encontravam-se a menos de dez centímetros do chão. Como isso é incomum na região, com os registros sendo feitos mais no alto das paredes e até mesmo nos tetos das tocas, os arqueólogos decidiram pela escavação do sítio. Hoje, ele é fundamental para entender melhor as mudanças climáticas da região, permitindo determinar a época da passagem do clima tropical úmido para o semiárido.
Os resquícios de fogueiras são importantes para esse estudo, pois os homens pré-históricos as acendiam à beira de um riacho que corria em frente ao abrigo. Elas só passaram a ser preservadas quando o clima mudou e a água parou de correr por ali, fazendo com que a área passasse a ser coberta por sedimentos. A análise dos carvões determinou que a queima se deu há quase dez mil anos atrás.
A caminhada por essa área é bem interessante porque passa entre altos paredões escavados pela erosão, com árvores altas de tronco muito fino que foram subindo para aproveitar melhor a luz. Como eu fiz o passeio em maio, no final da estação chuvosa, as folhagens estavam bonitas e garantiam uma boa sombra. Apesar disso, é importante estar bem protegido do sol, que é bastante intenso na região. Também é preciso usar roupas e calçado adequados.
Mas o grande destaque desse passeio é a emocionante subida pela serra para ver a paisagem. A primeira que eu fiz foi pela escada velha, com estruturas de metal que não passam muita segurança, mas são bem firmes. No começo até que é bem tranquilo, pois elas ficam encostadas na pedra. Os últimos trechos passam em cima de vãos, dando um pouco de vertigem e representando um desafio para quem tem medo de altura.
A paisagem ali em cima é bem diferente, permitindo observar melhor as formações rochosas e outro tipo de vegetação, mais seca. Como exige um certo esforço, recomendo levar pelo menos um litro de água por pessoa e lanches rápidos, como frutas e barra de cereal. Por fim, eu também tinha na mochila um repelente de mosquitos, que usei em alguns dias.
Após descer e voltar pelo menos caminho, nos dirigimos até a escada nova, estrutura inaugurada no final de 2021. Ela é mais segura que a anterior porque possui um guarda-corpo. Ainda assim, é preciso subir com cuidado. A recomendação é que os menores de quatorze anos, os cardíacos e os hipertensos não façam esse circuito.
Na primeira parte, a subida é literalmente a noventa graus e não dá para ver exatamente o que se vai encontrar lá em cima. Depois ela inclina um pouco e é dividida em mais três trechos pequenos, permitindo parar com mais tranquilidade para retomar o fôlego. Ao todo, são 114 degraus para alcançar 60 metros de altura. Obviamente, o esforço é recompensado pelo mirante.
Lá de cima se tem uma vista bem ampla da área conhecida como Caldeirão dos Rodrigues. Como o terreno é frágil, não é permitido se aproximar das extremidades devido ao risco de queda, mas dá para explorar bem o local. Eu fiz apenas esse trecho, mas é possível combinar com o guia de fazer uma trilha extensa pela parte superior da serra, passando por outros desafios.
No momento da descida, dá para se virar de frente para ter uma noção melhor da altura. Como nem todos animaram subir, também não ficamos muito tempo lá em cima e a volta foi por volta das onze horas da manhã. Ainda deu para explorar algumas das tocas da região e fazer uma parada de almoço nas proximidades do Parque Nacional da Serra da Capivara.
Pegamos novamente o carro e fomos comer na Cerâmica Serra da Capivara, onde fica a fábrica e uma loja que vende as peças com desconto, além de outras estruturas, como um albergue e uma oficina de camisas e acessórios. O restaurante funciona como um self-service sem balança e eu achei o valor bem em conta, principalmente considerando que é possível se servir quantas vezes quiser. Mas eu não quis exagerar porque continuaria passeando no período da tarde.
Viajento 