Serra da Capivara – Circuito do Boqueirão da Pedra Furada

Essa é área mais visitada da Serra da Capivara e reune diferentes tipos de atrativos, incluindo alguns dos sítios arqueológicos mais famosos, mirantes com vista do parque e trilhas com diferentes níveis de dificuldade. 

Quem vai passar pouco tempo na região ou quer focar os passeios nesse ponto pode se hospedar em Coronel José Dias. Como eu tinha mais tempo e queria explorar atrativos mais espalhados, optei por ficar no Real Hotel de São Raimundo Nonato, que é uma cidade maior e possui mais estrutura.

Eu usei Petrolina, no estado de Pernambuco, como porta de entrada, já que fica ali o aeroporto mais próximo. Depois de pesquisar bastante, decidi alugar um carro, que usei para aproveitar a cidade e percorrer os trezentos quilômetros de viagem até o interior do Piauí. O mesmo veículo serviu para os passeios pelo parque, que são feitos, obrigatoriamente, com um guia da região.

Meu grupo era composto por quatro pessoas e contratamos o Edu Coelho, que ia com a gente no carro, parando próximo de cada ponto visitado. Esse dia começou com a ida até o Centro de Visitantes, onde há fotografias, mapas e cartazes falando sobre os trabalhos arqueológicos e a natureza. Explicações bem completas são dadas durante a visita, então não me detive muito tempo no local, que serve mais como uma estrutura de apoio.

O espaço também recebe exposições temporárias e, quando passei por lá, o tema eram lampiões. Também dei uma olhada nos produtos da loja, que comercializa a cerâmica produzida na região e outros itens diversos, incluindo roupas e acessórios. Falando nisso, é importante se proteger bem do sol e levar pelo menos um litro de água por pessoa e comida. Eu também tinha um repelente de mosquitos, que usei em alguns dias. Caso você não tenha ido devidamente preparado, dá para comprar algumas coisas na loja. Ali também tem uma lanchonete e banheiros.

O Boqueirão da Pedra Furada chama a atenção entre as outras tocas visitadas durante o passeio pela sua extensão, mas também pela quantidade de pinturas nas paredes. São registros feitos ao longo de milhares de anos que resistiram a alterações climáticas e novas ocupações. Ali é possível ver diferentes estilos e temas, tornando a coleção muito rica. De fato, esse é o sítio onde se encontram algumas das figuras mais famosas do parque, como a que mostra o que parece ser um animal com o seu filhote.

Mas outros achados de grande importância passariam desapercebidos pelo olhar dos visitantes. É o caso de fragmentos de carvão, restos de fogueiras que são usados para determinar o período em que os humanos ocuparam a região. O material, datado por laboratórios europeus e norte-americanos, revelou a presença de comunidades locais há pelo menos cinquenta e nove mil anos. Também foram encontradas ferramentas feitas com pedra lascada.

Entre as décadas de 1970 e 80, a maioria dos textos científicos afirmavam que essa região não havia sido habitada durante a pré-história. As novas descobertas no Parque da Serra da Capivara encontraram grande resistência no meio acadêmico, principalmente por arqueólogos americanos, porque questionavam essas teorias. Obviamente, eles não queriam abrir mão da versão que defende que a ocupação humana nos continentes americanos teve início por lá.

Naturalmente, os visitantes são atraídos pelos atrativos mais grandiosos. Talvez por isso mesmo um dos pontos mais fotografados sejam a Pedra Furada, literalmente um grande buraco no meio de uma formação rochosa. Ali  foi construída uma ampla praça onde são realizados eventos diversos, funcionando como ponto de encontro. Até alguns anos atrás, as pessoas ainda tiravam foto na abertura, mas a subida foi proibida devido a danos causados na estrutura.

Já na Toca do Macário, que fica ao lado, estava permitido escalar por um paredão que exige um certo esforço, mas ficou fácil com a indicação do guia pelo melhor caminho. Em um minutinho você está no topo e, apesar de ter poucos metros de altura, achei a vista ali de cima muito bonita.

Outro ponto que pode ser visitado com o mesmo objetivo é alcançado com uma trilha e subida leves, pelo menos para quem está acostumando com esse tipo de atividade. Na Vista das Mangueiras, é possível perceber a diferença nas camadas que formam o solo. Como eu fiz esse passeio em maio, no fim da estação chuvosa, a vegetação estava exuberante.

Eu fiquei quatro dias fazendo passeios no Parque da Serra da Capivara e, em determinado momento, chegou a ficar repetitivo ver tantas pinturas rupestres. Apesar disso, cada sítio arqueológico acaba tendo algum diferencial e vale a pena ser visitado, ainda que seja bem rapidamente. Foi o caso da Toca da Fumaça, que estava ali no caminho.

Também fiz uma caminhada que passa pela Toca da Roça do Carlindo e o que mais me chamou a atenção ali foram as árvores bem altas, que crescem entre as pedras em busca da luz do sol. Achei essa especialmente interessante porque ela se apoia na estrutura e ficou com as raízes expostas, certamente aproveitando a água que desce do paredão e se acumula no solo.

Pode parecer muita coisa, mas todo esse circuito foi percorrido sem pressa no período da manhã. Nesse dia, almoçamos no Restaurante Trilha da Capivara, que fica em uma comunidade rural próxima e tem uma comidinha caseira bem gostosa. O espaço também conta com uma pousada, ideal para quem ficar perto do atrativo e fazer passeios mais longos.

Um pouco mais para dentro dessa mesma área, por exemplo, ficam as escadas que dão acesso ao mirante do Caldeirão dos Rodrigues, que pode ser visitado rapidamente. Aqueles que gostam de turismo de aventura podem fazer uma trilha bem longa pelo local. Eu achei a própria subida emocionante, mas teria feito o circuito completo caso tivesse mais tempo.

Por fim, também fica ali pertinho o Museu da Natureza, que conta com uma pegada moderna e interativa que mostra desde a formação do mundo até as perspectivas para o futuro. Embora possa ser encarado como um panorama geral, ele trata mais especificamente sobre essa região. Eu achei a exposição interessante por complementar o que é visto no parque, além de trazer variedade ao passeio.

O roteiro é definido junto ao guia de acordo com os interesses dos visitantes, que podem focar somente no básico se tiver pouco tempo, se aprofundar bastante no tema, fazer passeios com mais acessibilidade ou experiências mais radicais. A ordem e a combinação de circuitos também varia bastante. No mapa interativo acima eu marquei os pontos que eu visitei, sendo possível aproximar para ver mais detalhes ou afastar para ter um panorama geral.