Entre as mais de mil tocas espalhadas pelo parque, a do Sítio do Meio é considerada uma das mais importantes. Para visitar o local, é possível tomar como base uma das duas cidades mais próximas. São Raimundo Nonato tem um pouco mais de estrutura e eu fiquei hospedado lá, no Real Hotel. A outra opção é dormir em Coronel José Dias, que é menor, mas fica mais próxima dessa área.

Seja qual for a opção, é necessário percorrer grandes distâncias entre os circuitos, sempre dirigindo com cuidado porque é comum encontrar animais na pista. Para ter mais liberdade, eu optei por alugar um carro. Fiz isso em Petrolina, no estado de Pernambuco, cidade que fica a cerca de trezentos quilômetros de distância, me serviu de ponto de entrada na região. O veículo foi usado para aproveitar os atrativos da cidade e fazer a viagem pelo Piauí.
Há alguns anos não é cobrada entrada para o parque, mas é obrigatório estar acompanhado por um guia para fazer os passeios. Eu estava em um grupo com quatro pessoas e contratamos o Edu Coelho, que montou um roteiro de acordo com as nossas indicações. No mapa interativo acima é possível ver os pontos que eu visitei nos nossos quatro dias de passeios por lá.

É preciso usar roupas e calçado adequados, incluindo uma boa proteção do sol. Recomendo levar pelo menos um litro de água por pessoa e lanches rápidos, como frutas e barra de cereal. Por fim, eu também tinha na mochila um repelente de mosquitos, que usei em alguns dias. Se esquecer algo, tem uma pequena loja na entrada do parque, onde também é feito o registro dos visitantes e pode-se usar o banheiro.

O Sítio do Meio foi descoberto pelos arqueólogos em 1973 e conta com um painel de figuras muito rico, com forte caráter narrativo. Eu achei interessante ficar imaginando o que elas representam, sendo possível identificar momentos de caça, rituais e sociabilidade. O guia indica os pontos que devem ser observados com mais atenção, além dar informações históricas. Na maioria dos casos, as pinturas foram feitas com pigmento vermelho e ali foram encontrados restos de cobre datados de mais de dez mil anos atrás.

Pelas descobertas já feitas, esse abrigo é considerado um dos mais importantes da arqueologia mundial. Ali foram achados diversos produtos da atividade humana, como amostras de carvão extraídas de fogueiras com mais de doze mil anos; fragmentos de cerâmica de quase nove mil anos, considerada a mais antiga no continente americano; uma machadinha de pedra polida de mais de nove mil anos, também a mais velha já encontrada no continente; entre outros.

Também estão ali algumas gravuras que se diferenciam por serem feitas raspando sulcos na pedra. O estudo do espaço também diz muito sobre a formação geológica do parque. A parte mais baixa revela que o abrigo se formou com a erosão causada por um rio que descia do boqueirão há cerca de vinte mil anos atrás. Também foram identificados desabamentos que desviaram o curso d’água e isolaram a toca, permitindo que fosse usada como abrigo.

Partindo dali, pegamos o carro para percorrer uma estrada de terra até o ponto de parada do próximo atrativo. Encontramos uma cobra atravessando majestosamente o caminho e paramos para tirar algumas fotos. Foi uma exceção encontrar um animal tão grande, já que na maior parte do tempo o máximo que víamos eram os mocós, pequenos roedores endêmicos na região. Obviamente, também avistamos pássaros, aranhas, formigas e insetos de um modo geral.

A próxima parada foi no Boqueirão do Pedro Rodrigues. Esse é o nome que se dá à abertura natural cavada por um rio, formando um vale profundo. Esse circuito está na Serra Talhada e ficamos algum tempo margeando esse paredão que, junto com as árvores, criava uma boa sombra. Eu fiz essa viagem no fim da estação chuvosa e encontrei as árvores bem vistosas, mas quem visita o local na época da seca fica mais exposto ao sol.

O objetivo ali era subir uma encosta para ter a vista do Mirante do Boqueirão, o que nem todos do grupo se animaram a fazer. É importante combinar direitinho com o guia os objetivos do passeio, já que pessoas com alguma dificuldade motora não vão conseguir visitar alguns pontos. No nosso grupo foi mais uma questão de disposição mesmo, mas ninguém se importou de esperar um pouquinho. Lá de cima, é possível ver uma grande extensão do parque. O Museu da Natureza, que fica bem na entrada desse circuito, se destaca em meio à paisagem.

Ali de cima também é possível ver, do lado oposto e ao longe, a Pedra Furada. Trata-se de um dos cartões postais do parque, tanto pela sua forma inusitada quando pela facilidade de acesso, já que é possível parar o carro exatamente em frente a ela. Como fica em um espaço mais aberto, com uma grande praça, o local também é usado na realização de eventos diversos.

Eu fiz esse circuito em poucas horas, no período da tarde, e achei ele interessante por incluir caminhadas um pouco mais longas pelas trilhas. Além disso, do mirante dá para ter uma noção da dimensão gigantesca do Parque Nacional da Serra da Capivara.