Título Original: Fantastic beast and where to find them
Ano: 2016
Direção: David Yates
Elenco: Eddie Redmayne, Katherine Waterston, Dan Fogler, Alison Sudol, Ezra Miller, Samantha Morton, Jon Voight, Carmen Ejogo, Ron Perlman e Colin Farrell.
O mundo mágico criado por J. K. Rowling nas histórias de Harry Potter tem encantado gerações de crianças, adolescentes e adultos de todo o mundo desde o lançamento do primeiro livro, em 1997. O sucesso foi tão grande que as obras foram adaptadas com grande alvoroço para o cinema, além de ter gerado outros produtos diversos como brinquedos, jogos de videogame, peça de teatro e outros. A própria autora fez alguns trabalhos paralelos, entre eles o livro Animais fantásticos e onde habitam, que era usado pelos alunos na escola de Hogwarts. Também foi lançado um livro com o roteiro original do filme.
Depois de oito filmes e o fim da saga de Harry Potter nos cinemas, chegou a vez de criar uma nova série, dessa vez sem a necessidade de se prender às histórias contadas nos livros. O primeiro dos cinco filmes da série Animais Fantásticos chegou aos cinemas novos personagens e também locações diferentes, já que se passa em Nova York. Não é à toa que o filme foi indicado ao Oscar de direção de arte e venceu o prêmio de melhor figurino com a criatividade permitida pelo gênero e a representação da época.

A história se passa 70 anos antes dos acontecimentos de Harry Potter e acompanha a saga de Newt Scamander, autor do livro que dá título ao filme, na Nova York de 1926. Ao entrar no território americano, o atrapalhado bruxo deixa alguns animais escaparem, o que causa um rebuliço na cidade e no Congresso Mágico dos Estados Unidos, que precisa manter sua sociedade escondida dos não mágicos devido ao medo da população. Aliás, gostei que o filme trata de tantos assuntos que podem ser aplicados aos dias atuais, como preconceito, imigração, pobreza, luta por direitos, abuso de poder, o papel da mídia, burocracias, condições de trabalho, guerras, direitos ambientais, pena de morte, intolerância religiosa, alimentação e outros.

A produção se concentrou na Inglaterra, mais precisamente no Leavesden Studios, a norte de Londres, onde foram feitos os oito filmes anteriores e fica o passeio turístico Harry Potter Studio Tour. A atual cidade de Nova York é muito diferente da época retrata, então é melhor recriá-la em estúdio e complementar as imagens com efeitos digitais.
Diferentemente de Hogwarts, a escola de magia britânica frequentada pelos jovens bruxos e onde se passava a maior parte dos filmes anteriores, Nova York é um local real e muitas cenas se passam em pontos facilmente reconhecíveis. Embora não tenha havido nenhuma filmagem por lá, vários pontos da cidade foram recriados ou serviram de inspiração para o filme.

O lugar mais adequado para começar a história é na Estátua da Liberdade, um dos maiores símbolos da cidade e o monumento visto pelos imigrantes que chegavam de barco em Nova York. No filme também é mostrado o processo pelo qual passavam as pessoas na alfândega. Quem fez o passeio pela estátua e visitou o museu em Ellis Island sabe que ali havia um controle de entrada de pessoas, que passavam por uma inspeção médica e podiam ficar de quarentena no local, além da revista dos objetos trazidos nas malas.

Os personagens principais do filme se conhecem no New York County National Bank, baseado no Steen National Bank. É interessante observar como era a parte interna dos bancos da época, com os caixas funcionando atrás de grades de ferro pintadas de dourado, certamente uma referência à riqueza do ouro. Também é possível ver os cofres e como funcionava a segurança. O prédio em estilo neoclássico foi fundado em 1907 e serviu realmente como um banco durante a década de 1920. Posteriormente, o local foi convertido em apartamentos residenciais.

Já o prédio do Magical Congress of the United States of America – Macusa, foi inspirado no Woolworth Building. Inaugurado em 1913, esse prédio era o mais alto de Nova York à época. Um detalhe arquitetônico que o insere perfeitamente no mundo de magia retratado na história é a presença de uma coruja esculpida no topo da entrada principal. O toque foi dado pelo arquiteto Cass Gilbert, responsável pelo projeto e conhecido por seu estilo neogótico.

Para a decoração do apartamento do personagem Jacob Kowalski, foram buscadas referências no Tenement Museum, que fica no Lower East Side. O prédio de cinco andares foi construído em 1864 e pode ser visitado em walking tours, durante os quais pode-se ter uma ideia das condições em que viviam as pessoas na virada do século XX.

Já o local onde vivem as bruxas Tina e Queenie é baseado em uma casa construída para a família Astor ao norte do Madison Square Park no século XIX. Famosa por sua fachada de tijolinhos vermelhos, granito polido e terracota, agora abriga a agência literária Writers House.

Na história, a Second Salem Church é onde mora a personagem Mary Lou Barebone, cuja família cheia de filhos adotivos está engajada na luta contra a comunidade bruxa. Na cena mostrada no filme, é possível ver a Manhattan Bridge ao fundo. É preciso lembrar que o país foi marcado pelo julgamento de Salem no século XVII, quando várias mulheres foram condenadas e mortas acusadas de bruxaria.

O Diamond District fica em um trecho da 47th Street entre a 5ª e a 6ª Avenidas. O local, como o nome indica, é famoso pelas lojas de joias, principalmente de diamantes. Essa rua fica no caminho dos personagens para o Central Park, outro lugar obrigatório para filmes que se passam em Nova York.

Do Central Park é mostrada a área que fica no comecinho do parque, bem perto da 5ª Avenida. Primeiro vemos algumas crianças patinando no gelo do The Pond perto da Gapstow Bridge. Logo depois os personagens chegam ao Central Park Zoo. Aberto em 1864 como um menagerie (coleção de animais), esse foi o primeiro zoológico da cidade.

Outro local real mostrado no filme é a prefeitura ou New York City Hall. Construída entre 1810 e 1812, é uma das mais antigas sedes governamentais com ocupação contínua no país.

Ali perto ficava uma estação de metrô chamada City Hall, construída em 1904 e fechada para o público em 1945. Embora os trens não façam mais paradas ali, a estrutura ainda é usada para virar os veículos da linha 6. Membros do New York Transit Museum podem explorar esse ponto turístico através de visitas guiadas.

Durante a década de 1920, o comércio de álcool era proibido nos Estados Unidos, o que levava muitas pessoas a procurarem lugares discretos para o consumo das bebidas contrabandeadas. Embora não tenha sido baseado em um local específico, o bar mostrado é baseado nos lugares onde era feita a venda ilegal e a atmosfera sombria e a performance de jazz ajudam a compor o clima. Não é à toa que, no filme, ele é chamado de The Blind Pig, expressão usada para descrever esse tipo de negócio na época.

Também é mostrada uma grande loja de departamentos no estilo da Macy’s, rede fundada em 1858 e famosa pelas suas dimensões, promoções, a parada do dia de Ação de Graças e a queima de fogos em comemoração à independência dos Estados Unidos. A direção de arte teve o cuidado de decorar o local com itens natalinos, já que a história se passa no fim do ano.

Por último, mas não menos importante, temos uma versão ainda não tão escandalosamente brilhante quanto a Times Square de hoje em dia. Esse também é um dos pontos mais famosos e reconhecíveis de New York. Na minha mais recente viagem para a cidade, fiquei hospedado no Double Tree by Hilton Metropolitan, que dá para ir a pé até o local. É uma região que concentra vários dos pontos turísticos, incluindo Times Square, Broadway, Central Park, Grand Central Terminal, New York Public Library e outros.