A Vila de Jericoacoara foi descoberta há poucas décadas pelo turismo e tem atraído cada vez mais pessoas pela sua localização especial. Naturalmente protegida por um campo de dunas, tem acesso dificultado, mas já era conhecida há séculos por povos indígenas. De fato, a versão mais aceita é que seu nome viria do tupi-guarani para buraco das tartarugas, sendo yuruco (buraco) e cuara (tartaruga), o que faz sentido por ser um local de desova de tartarugas marinhas. Já os antigos pescadores contam que seria uma referência ao formato das rochas que, vistas de alto mar, lembram um jacaré deitado. A expressão local “um jacaré quarando ao sol” teria se transformado em jacarequara e, depois, no nome final.

Segundo historiadores, os portugueses aportaram ali pelo primeira vez em 1499 com o navegador Vicent Pinzon, capitão de uma das caravelas de Cristovão Colombo, mas o registro não teria sido feito devido ao Tratado de Tordesilhas. Oficialmente, eles chegaram através do mar somente no início do século XVII e ergueram uma pequena fortaleza com estacas de madeira no local hoje conhecido como Serrote de Jericoacoara, esse com o tal formato de jacaré. O então vilarejo de Nossa Senhora do Rosário teria sido usado como base de apoio para batalhas contra os franceses, que ocupavam o atual estado maranhense, além de piratas que vinham saquear as comunidades.

Mas a dificuldade para a chegada fez com que Jericoacoara ficasse quase isolada bem depois disso. Foi somente no século XIX que a área ao redor da Lagoa de Jijoca, mais conhecida pelos turistas como Lagoa Azul e Lagoa do Paraíso, começou a ser ocupada por agricultores que fugiam da seca, quando a economia do couro estava em declínio. Para assistir a missas e novenas, os habitantes iam até uma cidade vizinha. Somente em 1963 foi erguida a Igreja de Santa Luzia, onde se desenvolveria a cidade de Jijoca de Jericoacoara.

Já na vila de mesmo nome, que fica a cerca de quinze quilômetros dali, destaca-se a Igreja de Nossa Senhora de Fátima. Construída pelos próprios habitantes, em 1945, ela possui fachada de pedras retiradas do serrote, cujos tons avermelhados são reforçados no fim do dia. Ali são celebradas missas dominicais e realizados eventos diversos ao longo do ano, como a Coroação de Maria (maio), os festejos da Padroeira (outubro) e a Missa do Galo (dezembro).

Em 1984, o governo brasileiro criou uma área de proteção ambiental que, anos depois, foi ampliada e passou a compor o Parque Nacional de Jericoacoara. No começo da década seguinte, Jijoca de Jericoacoara foi elevada à categoria de município e a Vila de Jericoacoara se tornou seu distrito. Até esse momento, o local era apenas uma pequena e isolada aldeia de pescadores, mas logo começou a se destacar como um destino turístico, passando a ser matéria de várias publicações importantes e programas de televisão.

Com uso de geradores, apenas alguns pontos do vilarejo eram iluminados. A energia elétrica só chegou em 1998, por meio de uma rede subterrânea. Para preservar o visual rústico e a iluminação natural da lua e das estrelas, não foram erguidos postes de iluminação. A Praça Edvá Esmerino da Silva, inaugurada em 2012 e também conhecida simplesmente como Pracinha de Jeri, é um importante ponto de referência da vila. Além de ser bastante agradável, com seus bancos em formato de canoa, quiosques cobertos de palha e o letreiro onde todos os turistas tiram fotos, o local está rodeado de restaurantes e é palco de diversos eventos.

Como é proibida a construção de rodovias e estradas nos seus mais de 8.000 hectares de área, o acesso é feito por veículos adequados a circular na areia. Para chegar e sair da vila, bem como visitar os atrativos dentro do parque ou nas cidades vizinhas, o melhor é contratar transfers e passeios guiados, que podem ser compartilhados ou privados. Mas também há opções próximas que podem ser alcançadas a pé, como a Duna do Pôr-do-Sol. A formação, que já chegou a ter cinquenta metros de altura, tem aproximadamente quinhentos anos e vem, aos poucos, se deslocando para junto do mar, à medida que o vento sopra os grãos de areia.

O vilarejo tem crescido bastante devido ao seu potencial turístico e conta com variadas opções de hospedagem, incluindo hotéis, pousadas, albergues, apartamentos, casas e até mesmo acampamento. São mais de trezentas propriedades, um número impressionante se levarmos em conta o tamanho do local. Entre os atrativos mais próximos, pode-se citar as praias de mar calmo e vento forte, onde profissionais e amadores praticam windsurf e kitesurfe, além de outros esportes aquáticos.

Também por conta própria, é possível fazer a Trilha da Pedra Furada, percorrendo cerca de dois quilômetros pelo serrote. Atrativos mais distantes como praias, a árvore da preguiça, lagoas artificiais e naturais são o foco no passeio pelo litoral leste. Partindo na direção oposta, é possível conhecer mais sobre a vida dos cavalos-marinhos, visitar um mangue seco e fazer diversas atividades em um campo de dunas e lagoas no passeio pelo litoral oeste.

Também chama a atenção a riqueza cultural da região. Com o cair da noite, os viajantes retornam para a vila, que ganha vida com a exposição de trabalhos artesanais na rua principal. São usados os materiais mais diversos, como cabaças, cocos, palhas, conchas, sementes, pedras, cipós, couros, linhas, tecidos, metais e reciclados

Essa também é a hora que os restaurantes e bares ficam lotados, muitos deles focados na gastronomia local com peixes, frutos do mar, panelada, galinha caipira e baião de dois. Entre os lanches, destacam-se o pastel de arraia e tapiocas. Já na sobremesa, pode-se citar as cocadas, doces feitos com caju e banana. Mas tem comida para todos os gostos, com vários estabelecimentos voltados para a culinária internacional.

Por fim, vale a pena conferir o trabalho de músicos e artistas locais ou que vêm de outros lugares. Muitos estabelecimentos têm som ao vivo, mas também são realizadas festas na praça ou na praia principal, com as típicas barraquinhas de bebidas e comidas. Com o sucesso da vila como destino turístico, cidades próximas também tem recebido muitos viajantes, agitando a economia da região.

Inaugurado em 2017, o Aeroporto Comandante Ariston Pessoa facilitou muito o acesso dos turistas a essa parte do litoral cearense, além de ser usado pelas indústrias da região para o escoamento da produção agrícola. Até então, era necessário fazer uma viagem percorrendo cerca de trezentos quilômetros a partir da capital do estado. O aeroporto, que fica na cidade de Cruz, recebe voos comerciais e fretados, sendo possível comprar passagens aéreas em sites de comparação de preços de voos, que permitem ver o trajeto que melhor se adequa às necessidades de cada um.