O mais famoso bairro de Salvador, na Bahia, está localizado no centro histórico e se destaca pelo conjunto arquitetônico colonial, principalmente em estilo barroco. O espaço oferece inúmeras atrações como igrejas, museus, restaurantes, bares, teatros e lojas, funcionando também como um shopping ao ar livre e tendo noites agitadas por diversas opções musicais e artísticas. A história do Pelourinho está ligada à da cidade, fundada em 1549 por Tomé de Sousa, o primeiro governador-geral do Brasil. A escolha do espaço foi estratégica, já que se encontra no alto de uma elevação abrupta do terreno que serve como proteção natural e facilita a defesa, separado da Cidade Baixa.

Apesar disso, era um bairro mais residencial, concentrando as melhores moradias da cidade até o início do século XX. A modernização e a transferência das atividades econômicas para outras regiões acabaram ocasionando mudanças físicas e sociais no espaço, que passou a abrigar uma população mais humilde e se tornou o palco da cultura negra. Ali se originaram vários grupos culturais e comunitários, muitos com grande atuação política. A situação das construções, entretanto, era de abandono. Somente a partir da década de 1980, com o reconhecimento do conjunto arquitetônico como Patrimônio da Humanidade pela UNESCO, e dos anos 1990, com a desapropriação de casas e a revitalização, é que ele ganhou uma nova cara.

O Pelourinho é composto por diversas ruas estreitas e tortuosas, com calçamento de paralelepípedo e ladeiras, o que pode dificultar o acesso. Ainda assim, a forma ideal de explorar o espaço é fazendo uma caminhada, já que são diversos atrativos muito próximos uns aos outros e cada cantinho rende ótimas fotos. Além disso, é proibido circular de carro em algumas áreas e é sempre chato ficar procurando estacionamento. Só é preciso ter cuidado com os equipamentos eletrônicos e demais pertences pessoais, já que os bandidos aproveitam a distração dos turistas para assaltar.

Mas os problemas vão além dos roubos tradicionais, já que também são aplicados ali diferentes tipos de golpes. Um muito comum é chegarem te oferecendo uma fitinha dizendo que é presente e já amarrando no seu pulso. Só isso eu já acho extremamente invasivo, mas a partir daí eles tentam te vender alguma pulseira ou outro produto em um processo que inclui técnicas para separar grupos, convencimento através de intimidação e outras coisas – basicamente uma extorsão de dinheiro. Também há aqueles que se oferecem para ser guias no passeio, não informando o valor do serviço e cobrando um absurdo no final. O ideal é andar em grupo, não fazer contato visual com essas pessoas e só pedir informações a funcionários uniformizados.
Eu acho interessante fazer um passeio guiado pelo bairro porque é um local com séculos de história e há muitas informações sobre a arquitetura e os acontecimentos que vão simplesmente passar batido ao caminhar lá por conta própria. Nesse caso, a melhor alternativa é fazer a reserva online do free tour pelo Pelorinho e o centro histórico, que passa por diversos pontos turísticos e você paga o quanto quiser de acordo com sua disponibilidade financeira e nível de satisfação.
Obviamente que você pode fazer tudo ou complementar a experiência por conta própria, já que são muitos os pontos de interesse. São mais de três mil imóveis datados dos séculos XVI a XIX, com destaque para a arquitetura religiosa e as construções civis de uso público e privado. São igrejas, conventos, museus, arquivos, teatros, cinemas, espaços culturais, grupos, ateliês, galerias, antiquários, sebos e outros. O mapa interativo acima permite fazer a aproximação para ver com mais detalhes os atrativos e as ruas, o que ajuda a traçar o seu próprio roteiro. Abaixo eu cito alguns dos muitos pontos turísticos que podem ser visitados no trajeto.

Uma das mais antigas construções religiosas da região é a Venerável Ordem Terceira Nossa Senhora do Carmo, também conhecida como Igreja Nossa Senhora do Carmo de Salvador. Além da rica arquitetura, destaca-se no local a sacristia, as catacumbas, os túneis que ligavam as igrejas e a antiga senzala onde eram abrigados os escravos acolhidos pelos irmãos carmelitas. Também chama a atenção uma imagem de cristo esculpida em cedro no século XVIII pelo escravo Francisco Xavier das Chagas, o Cabra, com dois mil fragmentos de pedras de rubi indiano representando o sangue. Parte do edifício foi adaptado para servir como hotel, dando origem ao Pestana Convento do Carmo.

Uma coisa que você vai ver em todas as igrejas, lojas e sabe-se lá onde mais são as famosas fitinhas coloridas, usadas para fazer um pedido ou agradecimento. Diz a tradição que elas tiverem sua origem no costume de utilizar tiras das roupas de santos para ter sorte ou proteção. Com o passar do tempo, com os tecidos ficando cada vez mais raros, passou-se a utilizar fitas produzidas artesanalmente. O mais indicado seria usá-las no pulso esquerdo com duas voltas e três nós, cada um deles correspondendo a um pedido feito em silêncio. As requisições seriam realizadas com o rompimento natural, tempos depois. Outra regra é que elas deveriam ser recebidas como um presente e não compradas. Com o passar do tempo e a popularização, o apetrecho foi sendo colocado em todo lugar.

A Igreja do Santíssimo Sacramento do Passo foi construída na metade do século XVIII em um terreno de forte declive, podendo ser acessada por uma rua estreita ou pela grande escadaria à sua frente, usada como cenário no filme O pagador de promessas, em que aparece como Igreja de Santa Bárbara. Além da arquitetura barroca, chama a atenção os altares e retábulos em estilo neoclássico criados no século seguinte. Ao lado fica a casa onde morou Castro Alves. Ali perto também está a Casa de Benin, que abriga uma rica coleção de objetos e obras de arte originários da região africana de onde foi trazida a maioria dos negros que povoaram o Recôncavo Baiano.

Uma das partes mais populares do bairro, o Largo do Pelourinho, é oficialmente chamado Praça José de Alencar. Durante muitos anos, esse foi um local de suplício, já que os criminosos condenados eram amarrados a uma coluna e castigados. Essa estrutura de pedra ou madeira é chamada pelourinho e foi o que deu nome ao bairro. Ali fica a Venerável Ordem Terceira do Rosário de Nossa Senhora às Portas do Carmo ou, simplesmente, Igreja Nossa Senhora do Rosário dos Pretos, fundada por uma das primeiras irmandades de homens pretos do Brasil. A estrutura atual foi construída a partir de 1704 pelo próprio grupo, incluindo alguns escravos.

Exatamente ao lado funciona o Museu da Gastronomia Baiana, que destaca a culinária local com influências africanas e indígenas. Ali é mostrado que, durante as constantes travessias entre a colônia brasileira e países da costa africana, houve uma profunda troca de sabores, receitas e ingredientes. Da África foi trazido o dendê, enquanto exportamos a mandioca, por exemplo. Para quem gosta da comida baiana, o Restaurante Escola Senac é uma ótima opção porque possui preço único e você pode comer livremente todos os pratos de buffet, incluindo sobremesa.

Subindo um pouco mais a ladeira, chega-se à Casa de Jorge Amado. Inaugurada em 1987, a fundação funciona em um casarão colonial de quatro andares e tem como objetivo preservar, estudar e difundir o trabalho do romancista com edições de seus livros em diversos idiomas, fotografias, vídeos, cartazes, objetos, cartas, manuscritos e documentos diversos. Também é tratada a obra de sua esposa, Zélia Gattai, e outras manifestações artísticas da cultura baiana.

Essa região tem várias opções culturais como o Museu Abelardo Rodrigues, com uma coleção de centenas de objetos da arte sacra; o Solar do Ferrão, uma casa nobre de seis andares com exposições de arte africana, arte popular e instrumentos musicais tradicionais; o Museu Tempostal, com um dos maiores acervos de cartões postais, fotografias e estampas do país; o Museu Udo Knoff, com mostras de arte e azulejaria; e outros. Você também sempre corre o risco de presenciar alguma manifestação musical na rua, como essa que eu vi em frente ao Instituto Mauá, onde funciona um centro de artesanato. Subindo pelo Largo Quincas Berro d’Água, chega-se ao Museu Eugênio Teixeira Leal, que conta a história do dinheiro.

A duas quadras dali já fica o Largo do Cruzeiro de São Francisco. Atualmente, as construções da área são ocupadas por hospedagens, restaurantes, bares, agências de turismo e comércio em geral, tendo como ponto central uma cruz de mármore, elemento típico dos templos franciscanos da época. A presença de vendedores ambulantes e de carros quebra um pouco o clima, mas não tem muito como escapar.

Quem olha a Igreja de São Francisco pode achar que se trata de uma igreja comum, principalmente quando vista de longe. De fato, o templo erguido com os recursos do governo português e as doações de fiéis tem uma fachada relativamente simples. Mas, reparando bem, as torres são revestidas de azulejos e o frontão, em estilo barroco, possui diversas volutas e é toda coberta de arenito esculpido. Além da imagem do santo, a parte superior possui o brasão de armas de Portugal e o símbolo da ordem franciscana – o braço de Cristo cruzado com o de São Francisco.

Já no interior, as esculturas, pinturas, azulejos, móveis e objetos podem ser considerados obras primas da arte sacra, além da quantidade de ouro que cobre o espaço do chão ao teto. Aliás, é justamente o dourado que cria uma unidade entre a profusão de elementos decorativos e a riqueza de detalhes é capaz de deixar qualquer visitante impressionado. A construção principal foi iniciada em 1708 e finalizada somente em 1720, data que aparece gravada na fachada. A partir desse ano, entretanto, é que foi dada maior ênfase nos trabalhos de ornamentação, que se estenderam por décadas e continuou passando por alterações ao longo dos séculos seguintes.

Já a Igreja da Ordem Terceira de São Francisco tem o interior mais simples e a fachada super trabalhada, tendo sido objeto de análise de vários estudiosos. São vários detalhes em estilo barroco e figuras de sereias, atlantes, querubins, carrancas, motivos florais e coroas reais. A figura central em destaque é São Francisco, acima do qual duas sereias seguram outra coroa e, por fim, aparece uma carranca de feições felinas e uma águia que carrega no bico uma fita com a inscrição per penitentiam coelo apronpinquamus, que significa “pela penitência nos aproximamos do céu”. Por fim, a fachada superior possui um escudo de Portugal, anjos em alto relevo e uma cruz.

A visita às igrejas permite conhecer as sacristias e outros ambientes. O complexo também inclui as dependências do Convento de São Francisco, do qual se destaca principalmente o claustro concluído no ano de 1749 e ornamentado com o maior conjunto de azulejos portugueses em terras brasileiras. As dezenas de painéis retratam cenas pagãs da mitologia greco-romana com conteúdo moral e apelo cristão, trazendo citações do poeta romano Horácio.

O Largo Terreiro de Jesus, oficialmente denominado Praça 15 de Novembro, também teve grande importância histórica para a cidade, já que ali foi erguido o Colégio dos Jesuítas e a primeira capelinha de taipa no século XVI. Essa estrutura seria depois substituída por uma suntuosa igreja, considerada a mais imponente do século XVII no Brasil. O chafariz, em ferro fundido com mármore carraca e estilo neoclássico, foi inaugurado em 1856 para fornecimento de água à população e tem alegorias que representam as riquezas baianas como plantas, animais marinhos e rios. Em 1933, após a demolição da antiga Igreja da Sé, a igreja dos jesuítas passou a ser a nova catedral.

A Catedral Basílica de Salvador possui fachada maneirista construída, a partir de 1657, com blocos de pedra de lioz trazidas de Portugal. O interior é composto por magníficos retábulos de talha dourada em estilo maneirista e barroco e teto de madeira esculpida. Além da catedral, o largo abriga a Igreja de São Domingos Gusmão e a Igreja de São Pedro dos Clérigos. Já o antigo Colégio dos Jesuítas passou a ser usado por um hospital e, em 1808, pela primeira faculdade de medicina do país. Ali também ficam o Museu de Arqueologia e de Etnologia e o Museu Afro-Brasileiro.

Atrás da catedral é possível visitar a Casa do Carnaval da Bahia, inaugurada em 2018. Ali encontram-se centenas de bonecos feitos de cerâmica que representam figuras típicas da festa, adereços, instrumentos e outros objetos, uma sala com iluminação e música, um cinema interativo e uma biblioteca de livros sobre o carnaval. Trata-se do primeiro museu do país dedicado exclusivamente ao tema.

Embora esteja situada em pleno centro histórico, a Praça da Sé é relativamente nova – principalmente quando comparada com o entorno. Isso acontece porque ela surgiu após a demolição de dois quarteirões de prédios antigos na década de 1930, incluindo a Igreja da Sé. Atualmente, o espaço é usado para apresentações culturais e faz parte da rota do carnaval do Pelourinho. Entre os seus atrativos estão o Museu de Energia e a estátua de Zumbi dos Palmares.

Também na praça encontra-se o Palácio Arquiepiscopal de Salvador, inaugurado em 1715 como residência dos arcebispos. Com três pavimentos sobre a rua e um no subsolo, o prédio tem influência da arquitetura italiana dos palácios renascentistas em seu interior e a fachada externa com frontão barroco em pedra de lioz. O edifício era ligado à igreja por passadiços elevados.

A demolição da igreja se deu em 1933 para a passagem dos trilhos do bonde que fazia parte da estrutura do transporte público da cidade. Em homenagem (ou crítica) ou desaparecimento dessa construção datada de 1553, foi erguido o Monumento da Cruz Caída. Inaugurado em 1999, a obra do artista baiano Mário Cravo tem 12 metros de altura e faz referência à grandeza arquitetônica da antiga igreja. Dali se tem uma bela vista da Cidade Baixa. A praça ainda conta com o Memorial das Baianas e o Museu da Misericórdia.

A Praça Tomé de Sousa é considerada o berço da civilização brasileira, já que ali se reuniam os prédios da administração pública construídos no século XVI com paredes de taipas cobertas de palhas. Conhecida também como Praça Municipal, permanece cercada por prédios públicos como o Palácio Tomé de Sousa, sede da prefeitura, a Câmara de Vereadores e o Palácio do Rio Branco (antiga sede do governo estadual). A estátua original do primeiro governador-geral do país que dá nome à praça, obra em bronze do italiano Pasquale de Chirico, se encontra dentro desse último palácio, mas uma réplica se encontra do lado de fora. Outro atrativo do local é o mirante, que dá vista para a Baía de Todos os Santos.

O Elevador Lacerda, inaugurado em 1873 com 63 metros, é considerado o primeiro elevador urbano do mundo, ligando a Praça Visconde de Cairu, na Cidade Baixa, à Praça Tomé de Sousa, na Cidade Alta. É, hoje, um dos principais pontos turísticos e cartão postal da cidade, com 72 metros de altura e duas torres – a segunda construída durante os trabalhos de reestruturação da década de 1930. Dezenas de milhares de pessoas utilizam o transporte todos os dias por um custo de poucos centavos.

Como se pode perceber, o Pelourinho tem atrativos suficientes para preencher mais de um dia de passeio. Considerando que o local também possui uma vida noturna agitada, vale a pena dar uma conferida nas hospedagens. Eu aproveitei para dormir uma noite por ali quando estava indo para Morro de São Paulo, já que o catamarã sai do terminal náutico que fica bem próximo.