A história da Cidade Baixa remonta das primeiras décadas da colonização do país. Nessa época, a praia ainda chegava até os pés da montanha, mas faixa de terra foi constantemente ampliada para permitir a construção de fortificações, portos e armazéns de mercadorias. A área principal é conhecida como Conceição da Praia e surgiu em 1549 por ordem de Tomé de Souza, o primeiro Governador-Geral do Brasil.

O ponto central para visita desse espaço é a Praça Visconde de Cairu, construída no fim do século XIX. O nome é uma homenagem a José da Silva Lisboa, político baiano e ativista pela independência do Brasil mais conhecido como Visconde de Cairu. A estátua de bronze foi criada em 1934 e, do outro lado da rua, encontra-se a casa onde ele morava. Como se pode ver na foto, é ali que você chega ao descer o Elevador Lacerda, que faz a conexão desse lugar com o centro histórico da Cidade Alta.

Na esquina da praça com a Rua Portugal encontra-se o edifício conhecido como Sobrado Azulejado. Construído no final do século XIX, ele tem a fachada principal revestida por azulejos nas cores azul e branco. Algumas ruas depois fica o prédio da Associação Comercial da Bahia, construído em 1817 em estilo neoclássico inglês sobre as fundações do antigo Forte de São Fernando. Seguindo por esses lados, você pode visitar a Igreja Nossa Senhora do Carmo, que foi construída durante a expansão da cidade no século XVII. Parte do edifício foi adaptado para servir como hotel, dando origem ao Pestana Convento do Carmo. Outro destaque dessa região é o funicular criado em 1897 e eletrificado em 1912, o Plano Inclinado do Pilar.

Mas voltando para a praça, o ponto mais visitado é o Mercado Modelo, construído como um centro de abastecimento para substituir as feiras livres mantidas por vendedores ambulantes em diversas partes da cidade. Após um grande incêndio ocorrido, o mercado passou a ocupar o prédio ao lado em estilo neoclássico datado de 1861. Atualmente, o maior centro de compras de artesanato do país possui centenas de lojas de produtos locais e diversas opções gastronômicas, sendo também é possível visitar o subsolo onde ficavam os escravos antes de serem vendidos, um dos mais tristes e marcantes episódios da nossa história.

Já local do antigo prédio que pegou fogo foi erguido o Monumento à Cidade de Salvador, uma escultura com fonte de água assinada por Mário Cravo Júnior, escultor, pintor, gravador, desenhista e poeta que faz parte da primeira geração de artistas plásticos modernistas da Bahia. As formas modernas dessa escultura se destacam no meio de tantos prédios antigos e, embora seja descomprometida com a representação exata de algo real, muitas vezes é associada às velas dos barcos que costumavam atracar na rampa.

O Cais da Rampa era onde chegavam os saveiros, típica embarcação baiana usada no transporte de mercadorias como legumes, frutas, cereais, animais, fumos, bebidas e artigos de candomblé que abasteciam os mercados da região. No início do século XX, centenas de embarcações desse tipo navegavam pela Baía de Todos os Santos. Atualmente, poucas ainda resistem como uma tentativa de manter viva a tradição.

A Baía de Todos os Santos foi de fundamental importância não somente para a cidade de Salvador, mas também para o desenvolvimento da colônia nos primeiros séculos após a chegada dos portugueses, já que praticamente não existiam vias terrestres e quase todo o transporte de pessoas e mercadorias era feito pelo mar. Atualmente, é possível observar a passagem de grandes navios cargueiros com seus containers coloridos, mas as águas também são usadas para o transporte de passageiros. Foi do Terminal Turístico Náutico da Bahia que eu peguei um catamarã com destino a Morro de São Paulo, por exemplo. Já a Bahia Marina possui, além da infraestrutura para embarcações de clientes permanentes e visitantes, um grande centro de lazer onde são realizados eventos musicais de grande porte, competições esportivas e outros.

O Forte de São Marcelo é uma das estruturas militares que fazia a defesa das águas. Com formato quase circular inspirado no Castello de Sant’Angelo de Roma, o forte começou a ser construído em 1650 sobre um banco de areia, mas só foi concluído no século seguinte. Mais tarde, especificamente em 1812, recebeu um anexo em formato de anel com salas no seu interior. O prédio foi batizado de “umbigo da Bahia” pelo escritor Jorge Amado.

Ali pertinho está a Basílica Santuário Nossa Senhora da Conceição da Praia. Uma capela de taipa de pilão foi erigida em 1549, mas a estrutura foi substituída por outras até chegar à igreja atual em estilo barroco, construída entre 1739 e 1849. A fachada tem também características neoclássicas realçadas pela implantação das torres em diagonal. Assim como muitos outros prédios da região, a igreja é tombada pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional – IPHAN.

Construído no século XVII, o conjunto arquitetônico do Solar do Unhão é um dos principais representantes da arquitetura colonial na cidade, contando com a casa-grande, cujos cômodos principais eram decorados com painéis de azulejos portugueses, a senzala na parte inferior, uma capela em estilo rococó tardio e jardins onde, hoje, ficam expostas diversas esculturas. O edifício abriga desde 1963 o Museu de Arte Moderna, considerado o principal espaço para a arte contemporânea na Bahia e um dos mais importantes do país, com obras de renomados artistas baianos, brasileiros e estrangeiros.

A Cidade Baixa se estende por uma grande faixa do litoral com atrativos turísticos que incluem fortes, igrejas, prédios antigos, centros culturais e outros, incluindo o Forte de Monte Serrat e a Igreja de Nosso Senhor do Bonfim, mas nessa postagem eu coloquei apenas os pontos concentrados próximos ao Mercado Modelo. A região tem um clima de centro de cidade, com trânsito intenso, algumas áreas bastante sujas e construções velhas que clamam por uma restauração – e alguns já foram reformados desde que eu passei por lá da última vez. Ainda assim, tem a sua beleza e vale a pena ser explorada.

Por fim, voltamos ao Elevador Lacerda, inaugurado em 1873. Idealizado e construído pelo engenheiro Antônio de Lacerda, ele faz a ligação entre as duas “cidades” com quatro elevadores que percorrem 74 metros em poucos segundos, ligando a praça ao Pelourinho. Milhares de moradores e turistas fazem uso do transporte todos os dias e não dá para visitar Salvador sem passar por ele.
Uma das cidades do Brasil que mais tenho curiosidade de conhecer! Excelentes imagens 🙂
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Vale a pena, é um lugar cheio de história ☺️
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Poderia ser melhor só faltou fotos da ribeira montserrat bonfim beira mar etc
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Fica para a próxima.
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O maior centro de compras de artesanato do Brasil é a Casa da Cultura, no Recife, que funciona no extraordinário prédio da antiga Casa de Detenção, a maior do Brasil em meados do século XIX. Sobre os escravos no subsolo do Mercado Modelo, não passa de engodo turístico, até porque o tráfico de escravos se encerrou em 1850. E o Elevador Lacerda atual é de 1930.
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Sempre tem variações de acordo com os critérios adotados e é fato que cada um puxa a sardinha pro seu lado, normal.
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Entendo que exista uma tendência do ser humano a “puxar a sardinha”, mas é visível que a Casa da Cultura do Recife é maior. Procure fotos e veja você mesmo. A propósito, a Casa da Cultura e o Hospital Pedro II no Recife são, ao lado da Santa Casa de Misericórdia e do antigo Hospício Pedro II no Rio de Janeiro, as maiores construções erguidas em alvenaria estrutural no Brasil. Já a mais alta construção em alvenaria estrutural no país é a Basílica do Carmo do Recife, com torre de 50 metros.
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A questão é que os critérios podem ser muitos. Maior em área, público, número de lojas, diversidade de produtos, volume de vendas, movimentação de dinheiro, etc etc etc. Abraço.
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