Entre as centenas de igrejas existentes na cidade de Salvador, existem algumas especialmente notáveis pela sua história e arquitetura. É o caso da Igreja da Ordem Terceira de São Francisco, erguida no período colonial. As ordens terceiras eram compostas por homens brancos leigos sem um papel específico na hierarquia católica, mas que tinham prestígio social e importância na construção de templos e nos eventos religiosos. Um dos destaques do local é a Sala da Mesa, uma das mais significativas do gênero em todo o Brasil e onde a confraria se reunia. O piso superior da igreja também guarda um acervo de vestimentas utilizadas pelos padres e papas, além de objetos do cotidiano como telefones antigos, baús, arcas e vitrolas.

Os franciscanos ergueram uma pequena capela nesse local assim que chegaram à Bahia. A estrutura inicial seria substituída pela atual com uma rápida construção entre 1702 e 1703, mas a fachada só foi concluída dois anos depois. O projeto de Gabriel Ribeiro, considerado um dos responsáveis por trazer o estilo barroco à nossa terra, se destaca pela fachada inteiramente esculpida em arenito, sendo um dos únicos exemplares no país com características espanholas, comparada apenas com a Igreja de Nossa Senhora da Guia, na Paraíba, essa outra bem mais simples. Pouco mais de um século depois, a fachada da Igreja da Ordem Terceira de São Francisco foi toda coberta de argamassa, já que sua estética era considerada datada.

A decoração original só foi redescoberta em 1932, quando um eletricista que fazia a instalação de luzes arrancou um pedaço do reboco. Desde então, a riqueza dos detalhes foi objeto de análise de vários estudiosos. No nível térreo há três portas em arco redondo, sendo a central mais alta e larga, enquanto abrem-se óculos elípticos sobre as laterais. No meio, um pequeno medalhão destaca a data da construção e o torso de duas sereias. Também chama a atenção as pilastras cujos capitéis ostentam rostos e volutas jônicas, ornamentos em espiral que lembram pergaminhos enrolados.

A parte do meio é ainda mais ornamentada, contando com quatro esculturas de atlantes, seres condenados por Zeus a sustentar os céus. Os dois internos estão em cima de querubins e possuem características de divindades pagãs e fluviais, podendo ser uma referência às riquezas da província que chegavam pelos rios, e têm as cabeças adornadas por projeções que lembram asas, o que pode simbolizar Hermes, o deus dos comerciantes, já que a construção foi financiada por eles. As duas estátuas externas são sustentadas por carrancas e, entre os motivos florais, é possível ver duas grandes coroas reais. A figura central em destaque é São Francisco, acima do qual duas sereias seguram outra coroa e, por fim, aparece uma carranca de feições felinas e uma águia que carrega no bico uma fita com a inscrição per penitentiam coelo apronpinquamus, que significa “pela penitência nos aproximamos do céu”. As pequenas sacadas de portas verdes possuem grades de ferros trabalhado. Por fim, a fachada superior possui um escudo de Portugal, anjos em alto relevo e uma cruz.

Quando comparada à Igreja de São Francisco, que faz parte do mesmo complexo, a parte interna pode até parecer modesta, mas é também muito rica. A decoração barroca original foi quase toda substituída por talhas douradas em estilo renascentista em 1827 e 1828. As pinturas no teto são atribuídas a Franco Velasco, datadas de 1831, e encontram-se inseridas em caixotes. Nas laterais estão distribuídos seis altares ricamente decorados pelo mestre entalhador José de Cerqueira Torres, que também foi o responsável pelos trabalhos das tribunas, arco, caixa do órgão, púlpitos, grade do coro e molduras.

O altar principal é separado do ambiente por um longo arco decorado e apresenta a figura de Jesus Cristo crucificado. Na igreja é possível ver diversos objetos como castiçais, cruzes, ramalhetes e jarras folhados a ouro, todos encomendados na reforma do século XIX. Os grandes quadros e as pinturas dos nichos dos altares são obras de José Rodrigues Nunes. Da decoração original barroca restam dois medalhões nas paredes laterais e uma série de azulejos distribuídos por vários espaços do complexo arquitetônico do Convento de Santo Antônio.

A Casa dos Santos abriga imagens em tamanho natural e vestidas com trajes de tecidos conhecidas como estátuas de roca, um gênero que adquiriu considerável importância no culto católico durante o período barroco por serem usadas nas procissões até meados do século XIX. Algumas das peças participam ainda da Procissão das Cinzas, que teve início em 1648.
A entrada e o passeio nas igrejas e no convento são cobrados e sempre tem alguém no local oferecendo o trabalho de guia. Eu acho interessante fazer a visita com uma orientação, já que há muitos detalhes que passariam desapercebidos aos nossos olhares. Entretanto, não acho seguro simplesmente seguir alguém que encontrou na rua e depois ser surpreendido por uma cobrança absurda ao final, um tipo de golpe bastante aplicado em Salvador. A melhor alternativa, na minha opinião, é fazer a reserva online do free tour pelo centro histórico, que passa por diversos pontos turísticos da região e você paga o quanto quiser no de acordo com sua disponibilidade financeira e nível de satisfação.
Uau! Parece fabulosa, com detalhes incríveis. Cada vez tenho mais vontade de conhecer Salvador 🙂
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Vale a pena visitar essa igreja, é muito linda!
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Linda!! Minha Arte do Afeto! Excelente descrição. Parabéns
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Acho linda também!!! Obrigado!
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