Convento de São Francisco

Salvador – Igrejas e Convento de São Francisco

É impossível separar a história do Brasil da religião, já que missionários vieram para a nossa terra logo no início da colonização portuguesa, tendo grande influência na organização social, política e cultural do país. Em Salvador, na Bahia, os primeiros franciscanos chegaram em 1587 e logo começaram a construção de um pequeno convento. Algumas décadas depois, com a invasão holandesa de 1624, as dependências dos frades ficaram em mau estado.

Fachada principal
Igreja de São Francisco

Mais que simples reformas e ampliações, também necessárias devido ao aumento da comunidade, os trabalhos iniciados em 1686 podem ser considerados como uma reconstrução completa do convento e das igrejas. Devido à sua grandiosidade, as obras se estenderam por muitos anos e gerações. A pedra fundamental da igreja principal, por exemplo, foi colocada em 1708. A inauguração se deu cinco anos depois, mas a construção só foi concluída em 1723. Já a decoração interna levou décadas para ficar pronta.

Altar principal
Altar principal

Considerada um dos maiores êxitos do barroco brasileiro, a igreja impressiona com suas esculturas, pinturas, azulejos, móveis e objetos que podem ser considerados obras primas da arte sacra, além da quantidade de ouro que cobre o espaço do chão ao teto. Somente no altar principal, é possível ver várias esculturas como a de São Francisco aos pés de Cristo crucificado, um lampadário de prata com quase dois metros de altura, azulejos nas típicas cores portuguesas apresentando passagens da vida do santo, piso de mármore colorido e trabalhado para representar folhagens, móveis de jacarandá esculpido e muitos outros detalhes. Devido à complexidade do local, acabei fazendo uma postagem separada para a Igreja de São Francisco.

Sacristia da igreja
Sacristia da igreja

Também vale a pena visitar a sacristia, onde grandes arcas de madeira com motivos barrocos e renascentistas são usadas para guardar os paramentos sacerdotais e cerimoniais. Entre elas, há um belíssimo altar em talha dourada com a imagem em marfim de Cristo crucificado. As pinturas mostram cenas da vida de São Francisco, motivo que é repetido no teto. Já na parede oposta fica o lavabo de pedra com uma imagem de Santo Antônio.

Igreja da Ordem Terceira de São Francisco
Igreja da Ordem Terceira de São Francisco

Outra estrutura que faz parte do conjunto e recebeu um texto exclusivo foi a Igreja da Terceira Ordem de São Francisco. Ao contrário da anterior, ela chama mais a atenção pela sua fachada toda trabalhada em arenito esculpido com diversas colunas, esculturas, querubins, carrancas e outros elementos. Construída a partir de 1702, ela teve sua parte externa toda coberta de argamassa um século depois, quando já era considerada fora de moda. A decoração original só foi redescoberta em 1932, quando um eletricista que fazia a instalação de luzes arrancou um pedaço do reboco. Desde então, a riqueza dos detalhes foi objeto de análise de vários estudiosos.

Interior com decoração renascentista
Interior com decoração renascentista

A parte interna pode até parecer modesta, mas é também muito rica. A decoração barroca original foi quase toda substituída por talhas douradas em estilo renascentista em 1827 e 1828. As pinturas no teto são atribuídas a Franco Velasco, datadas de 1831, e encontram-se inseridas em caixotes. Nas laterais estão distribuídos seis altares ricamente decorados pelo mestre entalhador José de Cerqueira Torres, que também foi o responsável pelos trabalhos das tribunas, arco, caixa do órgão, púlpitos, grade do coro e molduras. Também é possível ver diversos objetos como castiçais, cruzes, ramalhetes e jarras folhados a ouro, todos encomendados na reforma do século XIX. Os grandes quadros e as pinturas dos nichos dos altares são obras de José Rodrigues Nunes.

Reserva de passeio ou atração

Esses detalhes da história só serão descobertos com uma visita guiada. Entretanto, não acho seguro simplesmente contratar alguém que encontrou na rua, já que há muitos relatos de golpes como a cobrança de um preço absurdo ao final do tour daqueles que se esquecem de combinar o valor antes. Uma alternativa é fazer a reserva online do free tour pelo Pelorinho e o centro histórico, que passa por diversos pontos turísticos durante uma caminhada e você paga o quanto quiser de acordo com sua disponibilidade financeira e nível de satisfação. Obviamente, você também pode fazer tudo por conta própria.

Corredor com decoração de azulejos
Corredor com decoração de azulejos

A visita ao Convento de São Francisco é feita mediante o pagamento de uma pequena taxa e inclui a livre exploração de diversos ambientes. É interessante perceber a diferença entre a decoração esplendorosa das igrejas, voltadas para o culto divino, e a simplicidade das demais dependências como refeitórios, salas e celas dos frades, mais condizentes com o voto de pobreza dos franciscanos. Os aposentos, por exemplo, possuem como mobiliário somente uma cama, um armário e uma escrivaninha simples.

Pintura no teto
Pintura no teto

O acesso se dá por uma sala que tem como destaque a pintura no teto atribuída a José Joaquim da Rocha. Utilizando técnicas de perspectiva e ilusão de ótica, a obra retrata a Virgem Maria rodeada de santos e figuras alegóricas. Dali se tem acesso a diversas áreas e eu confesso que senti a falta de receber um panfleto que tivesse um mapa e explicações sobre cada um dos locais. Na maioria dos ambientes, há painéis de azulejos, pinturas, esculturas e altares, então é recomendado reservar um bom tempo para fazer a visita com calma.

Sala do Capítulo
Sala do Capítulo

A Sala do Capítulo, geralmente encontrada nesse tipo de construção, é onde acontecem as reuniões entre os monges e seus superiores para discutir as regras da ordem e questões relacionadas à administração do convento. Aqui ela aparece com o teto decorado por pinturas que representam virgens mártires, azulejos pintados, painéis com temática do ciclo mariano e um imponente altar dedicado a Nossa Senhora da Saúde. A Biblioteca possui estantes com madeira esculpida em estilo mais próximo ao rococó.

Claustro do convento
Claustro do convento

O convento é organizado em volta de um amplo pátio interno. Esse claustro, concluído no ano de 1749, é ornamentado com o maior conjunto de azulejos portugueses em terras brasileiras. O nível superior possui vigas aparentes e cobertura de telhas, enquanto a parte interior tem pilastras com acabamento abobadado e arcadas, um modelo que se inspira nos claustros portugueses do século XVI.

Painéis de azulejos portugueses
Painéis de azulejos portugueses

Distribuídos em volta do claustro, as dezenas de painéis de azulejos são reproduções de pinturas do holandês Otto Van Veen para o livro Teatro moral da vida humana e de toda a filosofia dos antigos e modernos e retratam cenas pagãs da mitologia greco-romana com conteúdo moral e apelo cristão, trazendo citações do poeta romano Horácio. Datados de 1737, parte deles é de autoria de Bartolomeu Antunes de Jesus e retratam cenas do cotidiano de Portugal e a vida de São Francisco.

Ossuário no subsolo
Ossuário no subsolo

Já em volta do pequeno pátio da Igreja da Ordem Terceira de São Francisco, é possível ver diversas sepulturas de membros do clero e de famílias abastadas no chão, já que se tinha o costume de enterrar as pessoas o mais próximo possível da igreja – em muitos casos, na parte interna mesmo, junto ao altar. Já no ossuário, localizado no subsolo, o espaço é todo tomado por pequenas caixas organizadas simetricamente. É bem interessante para quem não tem medo desse tipo de ambiente.

Casa dos Santos
Casa dos Santos

A Casa dos Santos abriga imagens em tamanho natural e vestidas com trajes, sendo conhecidas como estátuas de roca.  Trata-se de um gênero que adquiriu considerável importância no culto católico durante o período barroco por serem usadas nas procissões até meados do século XIX. Algumas das peças participam ainda da Procissão das Cinzas, que teve início em 1648. Eu confesso que acho esse tipo de escultura meio estranha, pois são feitas em tamanho real e adornadas com perucas e roupas, parecendo manequins de lojas, mas é interessante de conhecer mesmo assim.

Sala da Mesa
Sala da Mesa

Outro destaque do local é a Sala da Mesa, uma das mais significativas do gênero em todo o Brasil e onde a confraria se reunia. As ordens terceiras eram compostas por homens brancos leigos sem um papel específico na hierarquia católica, mas que tinham prestígio social e importância na construção de templos e nos eventos religiosos. O piso superior da igreja também guarda um acervo de vestimentas utilizadas pelos padres e papas, além de objetos do cotidiano como telefones antigos, baús, arcas e vitrolas.

Imagem de Santa Ifigênia
Imagem de Santa Ifigênia

Com tantos anos de história, as igrejas e o convento de São Francisco passaram por diversas reformas e reestruturações. Intervenções foram realizadas, por exemplo, no início do século XX, quando foram retiradas várias peças danificadas e criados novos ornamentos. Atualmente, os trabalhos de conservação têm uma preocupação maior com a memória, envolvendo ampla pesquisa para preservar a arquitetura, as obras de arte e os objetos próximos de seu estado original. Foi durante restaurações recentes, por exemplo, que voltaram à Igreja de São Francisco as imagens de São Luís de Toulouse e de Santa Ifigênia, previamente removidas.

Largo do Cruzeiro de São Francisco
Largo do Cruzeiro de São Francisco

Tombado pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional – IPHAN como um patrimônio da humanidade, esse conjunto arquitetônico é um dos pontos imperdíveis para visitação na cidade de Salvador, tendo como ponto de partida o Largo do Cruzeiro de São Francisco, no Pelorinho, junto à cruz de mármore, elemento típico dos templos franciscanos da época. O passeio pode ser combinado com diversos outros atrativos da região.

2 comentários

  1. Você fecha negócio sem antes negociar valor? Você sabe como encontrar um profissional guia de turismo? Achei uma falta de respeito com os Guias de Turismo de Salvador. A profissão de guia está regulamentada pela Lei 8.623/93, e os profissionais possuem cadastro no Ministério do Turismo pelo Cadastur. Oriente seu público como buscar um profissional qualificado e habilitado para apresentar a história e os monumentos da cidade para eles. Uma visita guiada faz toda diferença em uma viagem. Existe sindicatos, agências, sites especializados e o profissional free lancer que oferta o seu serviço. Os guias de turismo estudam, investem em idiomas, atendimento, qualificação… Sabia que médicos, arquitetos, jornalistas etc… falsos também existem? Não generalize.

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