Título original: Apollo 13
Ano: 1995
Direção: Ron Roward
Elenco: Tom Hanks, Kevin Bacon, Bill Paxton, Gary Sinise, Ed Harris e Kathleen Quinlan.
Aqui no Brasil a gente não tem lá muito contato com essas coisas de viagens espaciais, visto que não existe um programa muito relevante nessa área. O máximo que eu fiz com relação ao tema no nosso país foi visitar o Centro de Cultura Aeroespacial em Alcântara, no Maranhão, que é bem simples. Já nos Estados Unidos o assunto é sério, tanto porque eles têm muita grana para investir quanto pela disputa histórica ocorrida com a Rússia na época da Guerra Fria, quando a corrida espacial se tornou um desafio político. Empolgado com o assunto depois de visitar o Space Center Houston, resolvi assistir a alguns filmes sobre o tema. Já falei aqui d’O primeiro homem, que mostra a trajetória pessoal de Neil Armstrong até chegar à lua com o Apollo 11. Também em 1969, o Apollo 12 levaria astronautas ao astro da Terra. Já a missão Apollo 13 aconteceria no ano seguinte.

Como eu vi os dois filmes praticamente em sequência, é impossível não fazer comparações. A principal diferença é que O primeiro homem, lançado em 2018, é a biografia de um personagem, enquanto Apollo 13 é sobre a viagem em si. As duas ideias poderiam ser igualmente bem-sucedidas, mas eu gostei bem mais do filme de 1995. Isso porque os acontecimentos dramáticos da missão que levaria os astronautas de volta à lua são muito mais bem aproveitados do ponto de vista cinematográfico. O público que vai ao cinema ou assiste a um filme em casa quer ser entretido, se envolver com os personagens, torcer pelo seu sucesso. E é isso que acontece.

Grande parte desse envolvimento se dá porque os acontecimentos da viagem são acompanhados por um bom desenvolvimento da personalidade e trajetória das pessoas envolvidas, principalmente os astronautas, já que temos a oportunidade de ver um pouco da sua vida familiar. Ao mesmo tempo em que todos estão muito excitados com a chegada do homem à lua, também existe uma preocupação das esposas, dos filhos e dos próprios homens com relação aos perigos das missões.

A missão é comandada por Jim Lovell, personagem central da trama interpretado por Tom Hanks, acompanhado pelos pilotos Fred Haise (Bill Paxton) e John Swigert (Kevin Bacon). Também possuem destaque Ken Mattingly (Gary Sinise), que acabou ficando de fora da viagem por ter sido exposto a uma doença, Gene Kranz (Ed Harris), diretor da equipe de voo que acompanha tudo da sala de controle, e Marilyn Gerlach Lovell (Kathleen Quinlan), a esposa do comandante. Também é mostrada uma boa parte dos treinamentos, testes e solução de problemas, o que me lembrou imediatamente a visita ao Astronaut Training Facility (NASA).

É impressionante a quantidade de detalhes que precisam ser observados em uma situação extrema como viajar para fora do nosso planeta. E não estou falando apenas da questão tecnológica, mas também do ambiente. Eu já achei exótico fazer uma travessia no deserto quando viajei de San Pedro do Atacama, no Chile, para o Salar de Uyuni, na Bolívia. Tinha que prestar atenção às mudanças provocadas no corpo pela altitude, limitação do oxigênio, temperaturas extremas e outros fatores… imagina ter que aprender a comer, usar o banheiro, não ter nenhum acesso a tratamentos em caso de problemas de saúde, ficar em gravidade zero, não ter como respirar ao ar livre, expor seu corpo a movimentos bruscos e tantas outras coisas.

Aliás, esse é outro acerto do roteiro, que mostra que um projeto dessas proporções exige o trabalho conjunto de pessoas de diferentes áreas e não apenas dos astronautas. Uma grande parte da trama se passa na sala de controle, onde uma equipe formada por profissionais de diferentes áreas monitora a missão. A importância dos engenheiros, cientistas, médicos e outros profissionais é destacada quando os problemas começam a aparecer. Essas cenas também me levaram de volta aos passeios feitos no Space Center Houston, já que lá tive a oportunidade de conhecer o Mission Control Center (NASA).

Aliás, acho que estou bem influenciado a gostar desse filme devido a essa viagem para Houston. É como se eu tivesse sido transportado para alguns meses atrás, quando eu estava descobrindo tantas coisas novas sobre essas viagens espaciais, incluindo a visita ao Rocket Park e Saturn V Facility (NASA). É incrível como as duas experiências se complementam e hoje eu entendo tão bem sobre o funcionamento dessas missões para a lua que poderia fazer parte de uma equipe de astronautas agora mesmo (SQN).

Uma das preocupações nessa produção foi a reconstrução fiel dos ambientes. Os interiores das naves foram réplicas perfeitas, inclusive com o uso de alguns materiais originais do Apollo, mas com partes removíveis para permitir a movimentação das câmeras para as filmagens. As roupas também eram reproduções exatas. A NASA chegou a oferecer o espaço da sala de controle para filmagens, mas o diretor Hon Howard optou pelo uso de cenários construídos do zero. Um empregado do Johnson Space Center, que trabalhava como consultor para a produção, disse que o set de filmagem era tão perfeito que ele esquecia que não estava no seu local de trabalho original.

Já para as cenas que exigiam gravidade zero, foram feitas imagens no avião KC-135 que, durante o voo, era capaz de criar cerca de 23 segundos de leveza. Esse é o mesmo método usado pela NASA para treinar os astronautas para as suas missões no espaço. O resultado foram movimentações extremamente convincentes dos atores, muito melhores do que o que vemos em muitos filmes atuais em que é perceptível o uso de cabos e fundos verdes, apesar de todo o avanço tecnológico na produção de efeitos especiais.

É interessante também como o filme retrata a mídia da época. Como já haviam ocorrido duas missões de sucesso à lua, o tema já não era nenhuma novidade e foi praticamente ignorado pelas estações de rádio e televisão. O interesse dos jornalistas só aconteceu quando problemas técnicos transformaram a empreitada em uma luta pela sobrevivência, o que mostra que não é de hoje que os ouvintes e espectadores buscam notícias sensacionalistas e dramáticas. De fato, a viagem do Apollo 13 teria passado praticamente em branco se não tivesse dado muito errado. E agora você vai querer ver também!