A maioria das pessoas que eu já perguntei qual é a capital da Suíça respondeu Zurique ou Genebra – e a gente acha ruim quando apontam o Rio de Janeiro ou São Paulo no caso do Brasil. O fato é que não sabemos tanto sobre outros países como queremos acreditar e é por isso que eu gosto de ler um pouco da história dos locais que visito.
A origem do nome da cidade é incerta. É dito que, em 1191, o Duque Berthold V de Zähringen prometeu fundar a cidade com nome do primeiro animal que sua caçada encontrasse na mata que seria derrubada para dar espaço às construções. Eles pegaram primeiro um urso (bär, em alemão) e é por isso que a cidade se chama Bern (Bärn, em alemão bernense). O urso é o animal heráldico do selo e do brasão de armas de Berna desde, aproximadamente, o ano de 1220. Também se considera provável que tenha sido uma referência à cidade italiana Verona, na época conhecida como Bern no idioma alto-alemão médio (anterior ao alemão moderno). Outra possibilidade é que o termo tenha origem celta, possivelmente da palavra berna que significa “fissura”.

Não há evidências arqueológicas que indiquem um local exato da cidade antes do século XII. A região já era ocupada séculos antes de Cristo, tendo havido um povoamento celta ao norte da atual capital e, posteriormente, um assentamento romano. O fato é que a cidade medieval foi fundada oficialmente pela família real de Zähringer. Com a morte do duque em 1218 sem deixar herdeiros, Berna se tornou uma Cidade Imperial Livre.

Sabe-se que a Idade Média era uma época de muitos conflitos nessa região. Não é à toa que todas as cidades suíças tenham tido muralhas proteção. Inicialmente, a torre Zytglogge demarcava a fronteira ocidental da cidade. O problema é que, com a expansão e a necessidade de construir mais casas, era preciso construir uma nova muralha. Em Berna, isso aconteceu em 1345, quando a Käfigturm assumiu o papel de portão da cidade. Já em 1353, passou a integrar a Confederação Suíça, tornando-se um dos oito cantões do país.

Outro grande problema dessa época eram os incêndios, uma vez que a maioria das construções eram de madeira. Em 1405, a cidade foi devastada pelo fogo e os edifícios foram gradualmente substituídos por casas de enxaimel e, posteriormente, de arenito. Esse último material se tornaria uma característica da cidade velha. Ainda assim, o fogo era uma preocupação. Não é à toa que uma das funções do guardião da torre da Berner Münster era observar pontos de incêndio e alertar a população através dos sinos da catedral.
Fato é que, apesar da peste que atingiu a Europa no século XIV, a cidade continuou a crescer. A população aumentou de 5.000, no século XV, para 12.000, no século XVIII.

Nessa época, Berna tornou-se a maior cidade-estado ao norte dos Alpes Suíços, que compreende o que é hoje os cantões de Berna e Vaud. Mas os conflitos não cessaram nessa época. Em 1798, Berna foi ocupada pelas tropas francesas e perdeu parte de seus territórios. A reconquista veio logo depois e, já em 1848, a cidade foi transformada Cidade Federal. A designação como capital do país requereu a construção da nova sede do Bundeshaus, o Parlamento.

Um dos moradores ilustres da cidade foi Albert Einstein. Durante seu tempo em Berna, entre 1902 e 1909, Einstein publicou 32 trabalhos científicos. Dois deles estão entre os seus mais importantes, datados de 1905, quando ele ainda tinha apenas 26 anos de idade, incluindo a teoria da relatividade e um ensaio sobre física quântica, pelo qual ele ganhou o Prêmio Nobel. A Einstein-Haus é um museu que funciona na casa onde ele morou com sua família, na rua principal do centro histórico da cidade. A visita no pequeno espaço conta com um vídeo de 20 minutos sobre a vida do físico, seus estudos e trabalhos, além da reprodução de como era a sua casa com objetos pessoais e retratos.

Outra personalidade de destaque é Paul Klee, artista suíço influenciado e participante do cubismo, expressionismo e surrealismo. Seus trabalhos estão expostos no Zentrum Paul Klee, um museu de arte com arquitetura moderna e espaços amplos onde são realizadas mostras, concertos, leituras, apresentações de dança e teatro, workshops e outros eventos diversos. Apesar de ser uma cidade histórica, tendo recebido o título de Patrimônio da Humanidade pela UNESCO em 1983, Berna também é bastante moderna.

Em comparação com as grandes cidades brasileiras, Berna é bem pequena. Para se ter uma ideia, a população é de cerca de 140 mil pessoas, das quais uns 30% são estrangeiros. Os números ultrapassam os 600 mil se considerada toda a região metropolitana. Se formos levar em conta apenas a região do centro histórico, que é onde se concentra a maior parte dos pontos turísticos, é possível dizer que um dia é suficiente para conhecer bem a capital. Obviamente há também outros atrativos, incluindo os Alpes Suíços e cidades menores na área. Nas próximas postagens, falarei mais sobre cada passeio feito nessa região.