Um eremita é um indivíduo que, por penitência, religiosidade, misantropia ou simples amor pela natureza, vive em um lugar deserto, isolado. Em 612, um monge chamado Gallus fundou seu eremitério nesse local. Esse é o mesmo irlandês que passou por Arbon, que fica a pouco mais de 10 km dali, deixando sua influência e passos no centro histórico da cidade. Como se pode imaginar, o nome da cidade de St. Gallen veio justamente de Gallus.
No século seguinte, a estrutura desse eremitério foi ampliada para uma abadia, que tinha residências para os monges, uma igreja de pedra, um abrigo para os pobres e uma casa para leprosos, continuando a crescer rapidamente. No século IX, o monastério já havia adquirido considerável influência religiosa, erudita e econômica. Graças às suas escolas e à sua biblioteca, o Stiftsbezirk St. Gallen se tornou um dos principais centros culturais do mundo ocidental. Atualmente, é o ponto central do turismo da cidade, como pode ser observado no mapa interativo abaixo.
No final da Idade Média, houve um declínio do mosteiro. Outro período de glória veio nos séculos XVII e XVIII, quando era o mais importante da confederação suíça. O esplendor dessa época é evidenciado pelos magníficos edifícios barrocos e rococó da abadia. Entretanto, o principado espiritual passou a enfrentar problemas a partir da década de 1780, quando a comunidade estava dividida sobre questões financeiras e o direito ao voto. Além disso, o espírito do Iluminismo se espalhava pela Europa e os ideais da Revolução Francesa, país vizinho da Suíça, logo passou a influenciar a população local. Apesar das concessões feitas pelo mosteiro, no início do século XIX, por motivações políticas, a Abadia de St. Gallen foi desfeita e sua biblioteca passou a ser administrada pelo governo.

O primeiro lugar que visitei foi a Kirche St. Laurenzen, que parece ser bem simples por fora, mas me impressionou com suas paredes decoradas com formas geométricas coloridas, um tema bem diferente do que estamos acostumados a ver em igrejas. Outra coisa diferente é o teto que, em vez de ter afrescos mostrando temas bíblicos, é apenas um fundo azul escuro com estrelas douradas. A entrada é gratuita e você pode explorar livremente o seu interior, com exceção das torres, cuja subida acontece em horários pré-determinados.

Dali fui para a praça que fica ao lado. A Klosterplatz é um extenso gramado rodeado por prédios que compunham a abadia da cidade. Um deles, à esquerda da fonte, é o Stiftsarchiv, onde são armazenados os arquivos do monastério. Os edifícios que estão aparecendo na foto acima são o Neue Pfalz, que serve como sede administrativa do cantão (entenda isso como um estado) de St. Gallen, e, à direita, a sede do tribunal de justiça, Hofkeller.

A fachada oriental da Stiftskirche, a catedral da abadia e principal igreja da cidade, fica voltada para essa praça. Trata-se de uma construção do século XVIII bastante imponente que conta com duas torres altas e uma fachada cheia de detalhes. A parte interna é interessante porque se diferencia bastante das igrejas que costumo visitar, pois tem as paredes brancas, detalhes em gesso coloridos e pinturas bem escuras, criando um contraste bem forte entre cada elemento.

Todo esse conjunto da abadia é Patrimônio Mundial da UNESCO, mas o que eu mais gostei de conhecer foi a foi a biblioteca. A entrada na Stiftsbibliothek é paga, mas vale muito a pena para conhecer uma das mais belas bibliotecas que eu já visitei. Construída em estilo barroco, possui cerca de 170.000 títulos, muitos deles manuscritos antigos cheios de história que são expostos de acordo com temas definidos pela curadoria.

Dali segui para a Gallusplatz, que fica de frente para a entrada da catedral e é rodeada de edificações antigas. Fora esses pontos principais ligados à abadia, vale a pena andar pelas ruas fechadas para o trânsito de carro do centro histórico observando a arquitetura das casas, as fontes de água, as praças e museus. Não se pode esquecer também que esses lugares são repletos de comidas típicas, como uma especialidade local chamada Biber que consiste em uma massa com castanhas e mel.

O passeio é feito todo em um dia, sendo possível fazer um bate e volta a partir de outra cidade e até combinar com outro passeio. Eu estava hospedado em Arbon, que fica bem próximo de St. Gallen, e aproveitei para incluir a ida aos alpes suíços nesse mesmo dia. Depois de dar uma volta pelo centro histórico, fui caminhando até a estação de trem e de lá segui viagem para Säntis.