Começando no Parque Nacional das Nascentes do Rio Parnaíba, esse curso de água corre em direção ao norte separando os estados do Piauí e Maranhão por mais de mil quilômetros. Em determinado ponto, se subdivide em cinco braços formando um delta, nome dado à configuração triangular na desembocadura. Geralmente isso não acontece porque as variações da maré levam os sedimentos trazidos pelo rio. Mas, nesse caso, o rio depositou na foz as partículas vindas com as água e se formaram diversas ilhas, dunas e mangues.

O Delta do Parnaíba, que faz parte do complexo turístico da Rota das Emoções, pode ser visitado em diferentes embarcações a partir de Parnaíba. Como é a segunda maior cidade do estado piauiense, ela possui boa estrutura para receber os turistas, inclusive um aeroporto internacional. Eu fiquei hospedado na Pousada Vila Parnaíba, que fica bem perto do Porto das Barcas, onde há algumas agências que fazem o passeio, mas não é de onde saem os barcos. Escolhi a lancha rápida, que tem capacidade para menos pessoas. A outra opção era um barco grande, com música alta e muita gente.

O objetivo principal desse passeio é ver o voo das aves no fim do dia. Como tem duração de umas quatro horas, o transporte nos buscou na hospedagem no início da tarde. Dali, atravessamos a ponte para a Ilha Grande de Santa Isabel e percorremos uns dez quilômetros no ônibus, que era confortável e tinha ar-condicionado. O destino é o Porto dos Tatus, de onde partem as embarcações e começa o passeio em si. Ali tem uma lojinha para aqueles que desejam comprar água e lanche. Quem está de carro alugado) por fazer esse percurso por conta própria, com mais liberdade de fazer paradas pelo caminho, como na Casa das Rendeiras.

Logo no início da navegação, passamos para o lado maranhense percorrendo um dos braços do rio. Esses cursos d’água são protegido por duas unidades de conservação federais: a Área de Proteção Ambiental Delta do Parnaíba e a Reserva Extrativista Marinha do Delta do Parnaíba, sendo essa última a responsável por conciliar a sustentabilidade natural com o modo de vida e o território das populações tradicionais que vivem da pesca artesanal. Para isso, é essencial que os pilotos de embarcações e os os praticantes de atividades esportivas respeitem a natureza, evitando a área onde os pescadores estão trabalhando e, ao passar próximo, reduzam a velocidade para evitar danos aos instrumentos, por exemplo.

A vantagem da lancha é que seu tamanho reduzido permite adentrar em igarapés menores e com vegetação mais densa. Embora já tivesse visto isso durante o Circuito Canárias, que fiz no dia anterior, não pude deixar de curtir o clima tranquilo novamente, com o barqueiro explicando detalhes sobre a fauna e a flora. Ele contou também sobre a cultura e até as famosas lendas locais. É garantido que se veja muitos caranguejos e algumas aves, mas também há relatos de pessoas que foram surpreendidas por macacos e outros animais.

A primeira parada é na Baía do Caju, cujo nome vem dos campos de cajueiros que ficam na parte central da ilha, sendo uma parte natural e outra de plantações. Interessante notar que essa é uma propriedade privada. Uma família de origem inglesa detém a posse desde 1847 e o Instituto Ilha do Caju Ecodesenvolvimento e Pesquisa (ICEP) realiza um bom trabalho de conservação do espaço e seu entorno, que possui cinco ecossistemas: mangues, dunas, matas, campos e alagados de água salgada.

Nós paramos no Morro do Meio, que faz parte da Ilha das Canárias e sintetiza alguns desses biomas. É uma área bastante isolada e sem estrutura de apoio, então é preciso levar seus próprios lanches e bebidas. Também é importante usar roupas leves e se proteger do sol com protetor solar, óculos escuros e chapéu bem preso à cabeça, para não sair voando com o vento nos momentos de deslocamento. Não se esqueça também da roupa de banho e toalha, já que a parada pode ser usada para um gostoso banho de rio. Eu preferi subir uma das dunas para ter uma vista geral da região.

Quando começou o pôr-do-sol, voltamos para a embarcação e fiquei impressionado com a amplitude do rio e a luz do fim do dia sobre as águas. Nesse momento, a expectativa cresceu para ver o espetáculo que é o ponto principal do passeio e todos ficaram olhando em volta. Logo aparecem cinco, trinta, incontáveis aves cruzando o céu em direção à Ilha dos Pássaros.

A Revoada dos Guarás é um espetáculo realmente impressionante. A origem do nome do bicho é controversa, mas alguns autores dizem que vem do tupi awa-rá, que significaria vermelho. O termo faz sentido, já que as aves possuem a característica coloração que é adquirida através do consumo de caranguejos, ricos em betacaroteno. Quando criados em cativeiro, a mudança de alimentação fazem as plumas ficarem um rosa apagado. Os filhotes nascem de cor escura e peito branco, tornando-se completamente vermelhos após um ano e meio de vida. Logo as árvores estão todas coloridas.

Os guarás são típicos do litoral atlântico na América do Sul, reproduzindo-se sobretudo em regiões de mangue. Infelizmente, as fotos tiradas com um celular não fazem justiça à beleza da chegada dos bandos à ilha, onde passam a noite. O espetáculo também dura pouco e, assim que começa a escurecer, partimos de volta para a cidade. Acho interessante ter algum tipo de agasalho, mesmo que seja apenas uma canga de praia. Embora a temperatura continue alta na região o dia inteiro, o vento pode fazer com que se sinta frio, principalmente para aqueles que estão com roupa de banho molhada.

Nesse momento já estava bem escuro e a imensidão do rio pode assustar um pouco, mas logo chegamos ao Porto dos Tatus e o veículo da agência já estava a postos para levar todos de volta para suas hospedagens. Eu ainda aproveitei para ir rapidinho no banheiro antes de seguir viagem, já que leva um tempinho até o centro de Parnaíba.