Após percorrer mais de mil quilômetros dividindo os estados do Piauí e Maranhão, o Rio Parnaíba se abre em cinco braços e vários igarapés, envolvendo mais de setenta ilhas fluviais até encontrar o mar, um trecho conhecido como Delta do Parnaíba. Sua exuberante paisagem contempla dunas de areia, mangues e ilhotas que formam um santuário para animais e vegetação. O atrativo faz parte da Rota das Emoções.

A cidade de Parnaíba, segunda maior do estado piauiense, possui boa estrutura para receber os turistas e é considerada a porta de entrada para os passeios de barco que exploram o rio. O primeiro que eu fiz foi o Circuito Canárias, reservado em uma das agências no Porto das Barcas. Existem algumas opções de embarcações e eu escolhi o tour compartilhado em lancha rápida, com duração média de quatro horas. A outra opção era um barco grande, com muita gente e música alta, algo que eu não estava no clima. Simplesmente acho que a natureza combina mais com calma e contemplação.

Esse passeio é feito durante a manhã e, no horário combinado, o motorista passou para nos buscar na porta da Pousada Vila Parnaíba, onde eu e outros dos viajantes estávamos hospedados. Dali, atravessamos a ponte para a Ilha Grande de Santa Isabel e percorremos uns dez quilômetros no ônibus, que era confortável e tinha ar-condicionado. O destino é o Porto dos Tatus, de onde saem as embarcações e começa o passeio em si. Ali tem uma lojinha para aqueles que desejam comprar água e lanche. Quem está de carro alugado por fazer esse percurso por conta própria, com mais liberdade de fazer paradas como na Casa das Rendeiras.

É importante usar roupas leves, chapéu bem preso à cabeça e muito protetor solar, pois faz bastante calor na região e boa parte do tempo ficamos sob o sol. A primeira parada é nas Dunas do Morro Branco. Nos primeiro semestre do ano, as águas das chuvas vão se acumulando e formam diversas lagoas de água doce em meio aos montes de areia. Como eu fiz o passeio em outubro, elas já estavam secas, mas dava para aproveitar a parada tirando fotos da paisagem ou se refrescando no rio.

Dali seguimos para o Igarapé dos Periquitos, que é percorrido com menos velocidade para não perturbar a paz do local e o trabalho dos pescadores. Durante o trajeto, o guia vai contando detalhes sobre o que estamos vendo, como as espécies de plantas e seus usos. Mas também são relatados costumes e lendas da população ribeirinha, o que torna o passeio mais interessante.

Nesse trecho é possível avistar alguns animais, sendo que o mais comum são os caranguejos, que se destacam com a cor vermelha. Ao passar por uma armadilha, o barqueiro aproveitou para explicar como funciona a pesca e até mostrou a diferença entre as fêmeas e os machos, sendo que somente esses últimos podem ser consumidos como forma de preservar a espécie. Também vimos pássaros, mas ouvi relatos de gente que encontrou macacos e outros bichos.

O curso d’água é protegido por duas unidades de conservação federais: a Área de Proteção Ambiental Delta do Parnaíba e a Reserva Extrativista Marinha do Delta do Parnaíba, sendo essa última a responsável por conciliar a sustentabilidade natural com o modo de vida e o território das populações tradicionais que vivem da pesca artesanal. Para isso, é essencial que os pilotos de embarcações e os os praticantes de atividades esportivas respeitem a natureza, evitando a área onde os pescadores estão trabalhando e, ao passar próximo, reduzir a velocidade para evitar danos aos instrumentos, por exemplo.

A próxima parada, dessa vez mais longa, foi feita na Ilha dos Poldros, uma das mais famosas do delta. Ali as pessoas do meu passeio e de outras embarcações que estavam ancoradas se dividiram entre tomar banho de rio ou no mar, contratar um buggy para ir até pontos mais distante ou simplesmente dar uma volta a pé para explorar o local. São muitos quilômetros de praia e é preciso estar atento ao relógio para voltar ao barco no horário combinado.

Esse é o ponto principal do passeio, na Baía das Canárias. Obviamente que, com o tempo limitado, não é possível aproveitar tanto, mas a água estava tão quentinha e gostosa que a vontade seria passar o dia inteiro ali. A boa notícia é que isso é possível, já que há algumas hospedagens na Ilha das Canárias, que pertence ao município maranhense de Araioses.

Infelizmente eu estava apenas de passagem mesmo, mas achei algumas opções interessantes como o Paraíso das Canárias e a Casa de Caboclo. É uma ótima opção para aqueles que querem conhecer melhor o local e curtir uma hospedagem tranquila. De qualquer maneira, paramos por lá para almoçar no Restaurante da Doca, com indicação do barqueiro.

Além do ambiente agradável e relaxante, e nessa hora já estava batendo uma moleza devido ao horário e o sol quente, também aproveitamos uma boa refeição. Para combinar com a paisagem, pedimos uma moqueca de peixe com arroz e pirão que serviu bem três pessoas, mas demorou um bocadinho para ficar pronto.

Depois nos sugeriram pedir de sobremesa um doce caseiro de caju que estava simplesmente divino. A textura e a aparência lembravam uma ameixa em calda, mas com o gosto característico da fruta e servido com um creme para contrabalancear o açúcar. Só de rever a foto me dá água na boca.

No comecinho da tarde, chegou a hora de voltar, aproveitando novamente a paisagem do Rio Parnaíba. Algumas pessoas, principalmente quem está com menos tempo disponível na cidade, já ficam no porto para emendar com o Circuito Revoada dos Guarás, mas eu acho que fica muito cansativo e preferi dividir em dois dias. Com isso, pegamos o transporte da agência para voltar ao hotel e aproveitei para dar uma voltinha no centro histórico da cidade.