Um dos grandes dramas da minha vida é não dedicar mais tempo à leitura, uma atividade que eu acho extremamente rica. Com trabalho, academia, escrita de textos para o blog, namoro, saída com amigos e outras atividades que aparecem no dia-a-dia, eu acabo ficando física e mentalmente cansado. Com isso, os horários vagos acabam sendo preenchidos com atividades mais relaxantes e rápidas como assistir ao capítulo de uma série, jogar videogame ou simplesmente ficar navegando na internet. A consequência é que eu acabo lendo bem menos do que gostaria. Ainda assim, esse ano foram dez. Dentro das retrospectivas de 2018, além de falar das viagens, músicas, filmes e séries, vou postar os livros que mais me agradaram.
Essa obra de regionalismo misturado com realismo fantástico foi a mais diferentona que eu li esse ano. O enredo de Pedro Páramo nos leva ao México e a história é narrada em uma mistura de primeira e terceira pessoa, com alternância de personagens. Não há divisão por capítulos, mas sim vários fragmentos desorganizados, sem uma sequência temporal lógica, na qual vamos descobrindo aos poucos sobre o caráter e a vida do personagem principal e também o contexto social do país, que passava por conflitos. Esse foi o primeiro livro de Ruan Rulfo e não foi muito bem recebido pelo público à época, provavelmente pela sua estrutura intricada e de difícil assimilação, mas é considerado, atualmente, o mais aclamado da literatura mexicana.
O romance escrito pelo russo-americano Vladimir Nabokov é bastante controverso nos dias de hoje, imagina quando foi lançado, em 1955. Outro dia li algumas críticas dizendo que a obra não deveria ser lida por romantizar o abuso sexual de uma criança. Sinceramente, achei o texto bem crítico com relação às atitudes de seu protagonista-narrador, que sabe estar errado e inclusive se questiona em relação a isso. Imagino que essa seja a realidade de muito pedófilos, então vejo como um enredo bem realista. Evitar a leitura, nesse caso, seria um tipo de censura ou querer tampar o sol com a peneira. Nesse caso, não haveriam livros, filmes, jogos, séries ou qualquer outro tipo de meio de se contar histórias que tratassem de temas polêmicos. Dito isso, Lolita é, realmente, bastante chocante e tem passagens bastante pesadas.
A guerra não tem rosto de mulher – Svetlana Aleksiévitch
Um dos melhores livros que eu li nesse ano foi A guerra não tem rosto de mulher, que conta com transcrições de entrevistas de mulheres russas que participaram da Segunda Guerra Mundial e nunca haviam tido suas histórias registradas. Pelo contrário, elas eram levadas a se calar pelo machismo da sociedade, julgadas por terem deixado as suas famílias (ainda que tenha sido para defender seu país). A escritora Svetlana Aleksiévitch, vencedora do prêmio Nobel de Literatura de 2015, não cria um personagem específico. A colagem de diversos testemunhos individuais é usada com o objetivo de alcançar a substância humana dos acontecimentos. O resultado é arrasador, não tem como não se sensibilizar por aquelas vidas e também entender a guerra sob uma nova perspectiva. Falei mais sobre a leitura nessa postagem.
The Handmaid’s Tale – Margaret Atwood
Assim que começou o burburinho sobre a série de televisão, eu fiquei com vontade de assistir tudo. No entanto, ao descobrir que se tratava da adaptação de um livro, eu preferi ler primeiro. Isso porque eu geralmente acho a obra original mais interessante. De fato, a leitura foi bastante impactante. No Brasil, o título é O conto da aia, mas mantive o nome original nessa postagem porque acabei lendo o livro de Margaret Atwood em inglês e também foi como ele acabou ficando mais conhecido recentemente por causa da série. Eu gostei bastante. Não é tão impactante para mim quanto o 1984 de George Orwell, com o qual tem várias semelhanças, mas a perspectiva feminina é suficientemente diferente para lhe dar vida própria. Para quem não sabe, o livro foi lançado em 1985.
Cem anos de solidão – Gabriel García Marquéz
O único livro que eu já tinha lido do Gabriel García Marquéz tinha sido Memórias de minhas putas tristes há muitos anos atrás. Eu já sabia que ia gostar das outras obras do autor e, esse ano, resolvi li a mais famosa delas. Cem anos de solidão narra a trajetória de diversas gerações de uma mesma família em um vilarejo fictício e isolado, mas onde chegam consequências das transformações sociais por que passam a Colômbia. Assim como em Pedro Páramo, vemos uma mistura de regionalismo com realismo fantástico, mas em uma leitura mais fácil, embora bem mais extensa. Eu confesso que não fiquei apaixonado como a maioria das pessoas, mas considerei um bom livro. Eu gostei bastante da história, mas não vi muita necessidade em ser tão longa.
As outras leituras do ano foram:
A casa dos budas ditosos (luxúria) – João Ubaldo Ribeiro
Punição para a inocência – Agatha Christie
Christine – Stephen King
Se eu fechar os olhos agora – Edney Silvestre
Suicidas – Raphael Monte
Além da versão impressa, também é possível ler no Kindle, dispositivo que mudou a minha relação com a leitura ao permitir carregar uma quantidade enorme de livros em um aparelho cuja bateria dura por vários dias, tem uma tela que não cansa os olhos, dá acesso imediato a dicionários de significado e tradução, marca e compila trechos e outras vantagens.