Conhecer um pouco da história de uma cidade que se está visitando possibilita entender melhor o estilo de vida, a arquitetura, a arte e vários outros aspectos da cultura local. Por isso, sempre faço uma pesquisa básica e visito museus locais. Compartilho aqui um pouco do que descobri sobre Lucerna que, há milhões de anos atrás, era toda coberta de gelo. Isso pode ser testemunhado no Gletschergarten, que possui evidências geológicas da Era Glacial.

A população começou a se concentrar nessa área depois da queda do Império Romano, no século VI, mas o crescimento só foi impulsionado com a fundação do Monastério Beneditino de St. Leodegar, em 750. No meio do século seguinte, a propriedade foi adquirida pela Abadia de Murbach e, nessa época, a região já recebia o nome de Luciaria. A origem do nome é incerta, mas é possível que seja uma referência a lucius, nome latim dado à lança usada na pescaria. Uma associação etimológica popular também é feita com lucerna, que significa “lanterna”. Seja como for, a cidade tornou-se independente da abadia em 1778 e foi, provavelmente, fundada oficialmente nesse mesmo ano.

Em 1290, Lucerna já era uma cidade autossuficiente com cerca de 3.000 habitantes. Nessa época, a região estava sob o domínio do rei Rudolph I von Habsburg. A população, insatisfeita com a crescente influência da monarquia, se juntou aos cantões de Uri, Schwyz e Unterwalden para formar a Eidgenssenschaft – Confederação Suíça, em 1332. Posteriormente, cidades como Zürich, Zug e Bern se juntaram à aliança, ajudando a acabar com o domínio austríaco, principalmente após a vitória de Lucerna na Batalha de Sempach, em 1386. Uma recordação dessa época pode ser vista no interior da Franziskanerkirche, que tem pinturas das bandeiras tiradas dos inimigos na sua nave principal.

No século seguinte, a cidade desenvolveu sua infraestrutura, aumentou os impostos e escolheu seus próprios oficiais locais. Os avanços só foram abalados com a Peste Negra, que dizimou cerca de 40% da população. Entre as construções da Idade Média no centro histórico da cidade, destacam-se os edifícios com fachadas decoradas. Há várias praças que merecem ser visitadas, como a Kornmarkt, a Hirschenplatz e a Weinmarkt.

Entre as cidades suíças da época, Lucerna era particularmente popular em atrair novos residentes. Predominantemente católica, viu a maioria das comunidades próximas se tornarem protestantes a partir de 1520. Com isso, perdeu sua força na confederação. As pinturas expostas na Kapellbrücke contam a história da região sob o viés católico, uma clara tentativa de conter o avanço da Reforma Protestante na cidade. Nos séculos seguintes, guerras e epidemias se tornaram menos frequentes, o que permitiu o aumento da população.

A Jesuitenkirche, primeira igreja barroca na Suíça, foi erguida de 1666 a 1677. Assim como as outras igrejas da região, você pode entrar e fazer a visita gratuitamente. A parte interna se destaca pelas paredes brancas e pinturas pontuais. O estilo me lembrou bastante a Stiftskirche, a catedral da abadia de St. Gallen, embora aquela tivesse no teto pinturas mais escuras. A obra que fica no altar mor foi criada pelo artista Domenico Torriani de Mendrisio entre 1667 e 1673.

Em 1798, nove anos após o começo da Revolução Francesa, os exércitos daquele país invadiram a Suíça, que se tornou um governo democrático. O impacto na indústria local, entretanto, demorou a acontecer e não foi tão expressivo. A agricultura, que empregava cerca de 40% dos trabalhadores, continuou sendo a base da economia da região. Os negócios cresceram a partir da metade do século XIX, quando as ferrovias passaram a ligar a cidade a outras localidades. O Löwendenkmal, também chamado de monumento do leão, é uma escultura feita entre os anos de 1820 e 1821. A obra homenageia as tropas suíças que protegiam o rei francês e foram dizimadas durante a revolução.

Já em tempos atuais, mais especificamente 2007, as populações de Lucerna e da adjacente Littau votaram pela união das duas cidades, que continuou com o nome de Luzern. Juntas, passaram a ter 80.000 habitantes, se tornando a sétima mais populosa cidade da Suíça. É possível que o mesmo seja feito com outras comunidades próximas no futuro, criando uma metrópole.