A Kappellbrücke, literalmente traduzida para o português como “ponte da capela”, é uma das estruturas de madeira da cidade que passa sobre o rio Reuss. O nome é uma referência à St. Peters-Kapelle, que fica em uma das margens. Originalmente construída em 1365 (a primeira referência escrita é de dois anos depois) como parte das fortificações de Lucerna, essa é a mais antiga ponte coberta da Europa e também a mais velha ponte de treliça ainda existente de todo o mundo. Sua função era ligar a cidade velha e a nova, além de proteger a cidade de ataques vindos do lago. À época, ela possuía 270 metros de comprimento. Devido ao preenchimento das margens do rio, a extensão agora é de 204,7 metros.

A passagem por ali é praticamente obrigatória para qualquer visitante da cidade. Além de possibilitar a vista do rio, de um lago, e do lago, do outro, também é possível ver de perto a Wasserturm, cujo nome pode ser traduzido como “torre da água”. Isso não quer dizer que se tratava de uma fonte ou caixa d’água, mas sim que foi construída sobre o rio, inclusive cerca de trinta anos antes da própria ponte. Ao longo dos séculos, a estrutura octogonal teve usos variados, servindo como prisão, câmara de tortura, cofre de tesouros e arquivo municipal. Atualmente, a visitação está fechada para o público, mas a torre abriga uma associação local de artilharia e uma loja.

A Kapellbrücke é, sem dúvida, um dos pontos mais famosos de Lucerna, sendo considerada um símbolo da cidade medieval. Aberta somente para o tráfego de pedestres, é uma movimentada passagem entre as duas margens, visitada tanto por moradores quanto por turistas. É natural, portanto, que fosse colocada ali uma loja de souvenirs. Eu confesso que só passo e dou uma olhada rápida nesse tipo de estabelecimento, dificilmente compro algo para evitar aumentar o peso da mala e, depois, acumular objetos em casa. Uma diferença dessas lojas na Suíça é que elas incluem itens bastante caros, como relógios e os famosos canivetes da marca Victorinox.

Outra coisa que chama a atenção nesse passeio pela ponte são as pinturas em formato triangular dispostas em sua parte superior e datadas do século XVII. As obras foram feitas por um artista católico local chamado Hans Heinrich Wägmann e mostram a história da cidade sob uma perspectiva religiosa tradicional. As criações foram feitas durante a Contra-Reforma, que pretendia combater o avanço do protestantismo, e promoviam a Igreja Católica. Patrocinadas por membros do conselho da cidade, algumas delas apresentam brasões pessoais. Embaixo de cada figura, há um texto descritivo pouco revelador – pelo menos para mim que não entendo nada de alemão.

Parte dessas obras, datadas de 1611, é dedicada a Mauritius, um oficial egípcio que servia o exército romano e protegia a região onde hoje é a Suíça. Recusando-se a adorar os deuses romanos, ele e sua legião foram assassinados. Posteriormente, Mauritius foi honrado como santo padroeiro dos católicos da Suíça e de Lucerna. Com a redução da extensão da ponte em 1834, essas pinturas haviam sido retiradas do local. Entretanto, um incêndio em 1993 atingiu dois terços da ponte, destruindo e danificando a maior parte das obras. Com isso, algumas das obras que retratam Mauritius retornaram para a ponte a partir de 2003. Também foram deixadas pinturas carbonizadas no local como testemunho desse trágico evento.

Das 110 pinturas do teto expostas na ocasião, menos da metade puderam ser salvas e restauradas. Com isso, algumas das obras que retratam Mauritius retornaram para a ponte a partir de 2003. Também foram deixadas pinturas carbonizadas no local como testemunho desse trágico evento.
Durante o período do carnaval, as pinturas antigas são retiradas e substituídas por obras modernas com representações festivas. É uma oportunidade para novos artistas extrapolarem a criatividade, além de proteger as relíquias. A parte danificada da ponte foi totalmente reconstruída.