Ao visitar o Parque Nacional Serra da Capivara, no interior do estado do Piauí, é fácil perceber como o patrimônio arqueológico está intimamente ligado ao meio ambiente, uma vez que a conservação do primeiro depende do equilíbrio dos ecossistemas locais. Uma quantidade absurda de pinturas rupestres, que podemos ver durante as visitas ao parque, foram feitas em abrigos sob rochas, formados pela erosão na base dos paredões rochosos.

Os vestígios encontrados sustentam a teoria de que a humanidade chegou ali há dezenas de milhares de anos, quando a região tinha um clima tropical úmido, coberta por uma vegetação exuberante e fauna rica, com a passagem de grandes rios, que criavam lagos e cachoeiras. As condições eram ideais para o surgimento de assentamentos e aumento das populações. Com a diminuição das chuvas, o clima semiárido transformou o cenário e acabou com a mega fauna, mas não inviabilizou a sobrevivência humana, que tinha como fonte de alimentação espécies de pequeno porte.

O povo pré-histórico usou as partes protegidas dos abrigos como acampamento ou casa permanente, usando as paredes para criar painéis de desenhos que representavam sua tradição oral. Ao longo dos séculos, essas pinturas eram cobertas por sedimentos. As paredes eram, então, usadas pelas próximas gerações com o mesmo fim, criando camadas de registros que permitem aos estudiosos fazer a linha do tempo das ocupações humanas. O parque foi criado em 1979, em grande parte devido ao trabalho da arqueóloga Niède Guidon, que dedicou sua vida aos trabalhos na região.

As cidades de São Raimundo Nonato, maior e com mais estrutura, e Coronel José Dias, mais próxima de alguns dos pontos mais famosos, são usadas como base para visitar o parque, que possui uma área aproximada de 130 mil hectares. Na primeira delas fica o aeroporto, ainda com número de voos limitado se levarmos em conta o potencial turístico da região. Também dá para chegar a partir de Petrolina, que fica a cerca de 300 km de distância, ou Teresina, capital do estado a mais de 500 km dali. Recomendo pesquisar os voos para determinar qual é a melhor opção no seu caso.

Embora seja marcado pela caatinga, o parque possui matas com transição para o cerrado na parte norte. A vegetação é formada por arbustos com galhos curtos e duros, com ramificações que parecem espinhos. O tronco das árvores é liso e as folhas pequenas, deixando passar a luz. Também é possível ver muitos cactos. Já a vegetação herbácea costuma desaparecer nos períodos de seca. Essas ilhas de florestas são cercadas de grandes cânions, criando paisagens impressionantes.

A fauna também é rica, contando com muitas espécies de mamíferos, morcegos, aves, lagartos, serpentes e anfíbios. Destaca-se a presença do mocó, um pequeno mamífero roedor endêmico da caatinga que pode ser visto em vários dos sítios arqueológicos. Também vivem por lá macacos-prego, que usam ferramentas de pedra e madeira para obter seus alimentos, na comunicação e para se defender de ameaças. Já o maior predador é a onça-pintada que, felizmente, não é comumente encontrada durante os passeios.

A visita do Museu da Natureza é um bom complemento ao que é visto do lado de fora. Sua exposição conta com doze salas organizadas em forma cronológica a partir do buraco negro, com a criação do nosso universo; passa por transformações geológicas, climáticas e biológicas; e chega às perspectivas para o futuro. Inaugurado em 2018, o museu usa de recursos tecnológicos e interação para tornar o conteúdo informativo mais interessante.

Pela tabela com as médias do clima acima, é possível perceber que as temperaturas se mantém elevadas durante todo o ano e não há uma grande variação na duração do dia. O que pode ser levado em conta para determinar a melhor época para fazer a viagem é a época de chuva, que se concentra entre os meses de novembro a abril. Mas há ocorrência de períodos em que as precipitações desaparecem por dois a cincos anos.

Como a maior parte dos passeios é feita em áreas abertas, as chuvas podem acabar atrapalhando e até inviabilizando o acesso a algumas áreas, já que as trilhas ficam escorregadias e perigosas. Dá para viajar durante todo o ano, mas quem não quer correr riscos deve se programar para ir entre maio e outubro. Eu passei por lá no começo da estação seca e peguei dias muito bonitos e outros mais nublados. Como tinha acabado de sair de uma estação molhada, a vegetação ainda exuberante.