Há muito tempo eu tinha vontade de conhecer esse santuário católico, ainda que eu não siga nenhuma religião específica. É inegável a beleza do local, com seu templo neogótico e todo o complexo arquitetônico cercado de belas montanhas em uma reserva florestal. Passei por lá um dia enquanto estava em Catas Altas, mas pretendo voltar com mais calma para explorar melhor os atrativos.

O Santuário do Caraça fica a cerca de cento e vinte quilômetros de Belo Horizonte, podendo até mesmo ser visitado em uma viagem de bate e volta. Mas é pouco tempo, já que o Parque Nacional do Caraça possui diversas trilhas para cachoeiras, grutas, lagoas e mirantes, além do complexo religioso, recebendo dezenas de milhares de visitantes ao ano. Os horários de funcionamento, valor da entrada e regras de visitação podem ser acessados na página oficial.

Eu me fiquei na região por um fim de semana e escolhi a Pousada Capão da Coruja, mas também é possível se hospedar no santuário e vivenciar melhor seus séculos de existência. Embora já houvessem registros de ocupação na região, cujas minas foram exploradas em busca de minerais valiosos, a história do santuário em si teve início em 1770. O terreno foi comprado pelo Irmão Lourenço, que ali construiu uma casa de hospedagem para os peregrinos e uma pequena capela barroca dedicada a Nossa Senhora Mãe dos Homens, inauguradas quatro anos depois.

Morto aos 95 anos, o cristão foi sepultado no local sem realizar o sonho de ver a área repleta de missionários, o que aconteceria pouco tempo depois. A propriedade foi herdada pelo rei D. João VI e, depois, entregue à Congregação da Missão. Os padres foram os responsáveis pela transformação da hospedaria em um colégio para garotos, que se tornou uma das mais tradicionais instituições de ensino do país. Entre 1820 e 1968, estima-se que mais de dez mil alunos passaram pelo local.

Em 1876, a estrutura da capela já não era suficiente para atender à quantidade de fiéis que visitavam o local e foi substituída pela Igreja Nossa Senhora Mãe dos Homens. Sob o comando do Padre Cavelin, foi construída em estilo neogótico e inaugurada em 1883, sendo a primeira desse tipo em todo o Brasil. Não foi usada mão de obra escrava no empreedimento, que contou com trabalhadores imigrantes portugueses e espanhóis. Já a matéria prima era local: pedra sabão, mármore o quartzito retirados da serra e cidades próximas. Tudo isso foi unido usando um produto a base de cal, pó de pedra e óleo.

O santuário ganhou tal importância que foi visitada pelos imperadores. Dom Pedro I buscou o aconselhamento dos primeiros padres da missão. Conta-se que ele só foi saudado na igreja a noite para não interromper as aulas do colégio, respeitando as rigorosas regras da instituição. Já Dom Pedro II foi conhecer, além da estrutura, as montanhas e a natureza mineiras. Uma pedra onde ele teria escorregado e caído ainda preserva os dizeres “PII – 1881”.

O templo possui como destaques: a imagem barroca talhada em madeira de Nossa Senhora Mãe dos Homens, que chegou ao local vinda de Portugal no ano de 1784; o corpo preservado de São Pio Mártir, o primeiro de um santo a vir para terras brasileiras, chegado em 1797; a Santa Ceia pintada em 1828 por Manuel da Costa Ataíde, também responsável pelos altares laterais, originalmente pertencentes à capela, e outras obras; os vitrais franceses que representam passagens bíblicas, tendo sido o central doado por Dom Pedro II em sua visita ao santuário; e o órgao com 628 tubos portugueses, franceses e de madeira local inaugurado junto à igreja.

Após formar milhares de alunos, alguns dos quais se tornaram presidentes, governadores e deputados, além de outras tantas personalidades, o colégio encerrou suas atividades em 1968, após um grande incêndio. Parte de sua estrutura foi restaurada e abriga um museu, que possui em seu acervo mobiliário e artefatos religiosos, artísticos e do colégio. Também conta com uma biblioteca com livros dos séculos XVI, XVII e XVIII; um arquivo histórico e fotográfico; e um centro de convenções.

A partir da década de 1980, um dos irmãos passou a deixar uma vasilha com carne na frente da igreja para alimentar os lobos guarás, que reviravam o lixo em busca de alimentos e atacavam os galinheiros. Com costumes noturnos, os animais passaram a frequentar o local sempre no mesmo horário, tornando-se uma atração a mais para os turistas. Aqueles que desejam testemunhar sua chegada, entretanto, precisam se hospedar no santuário, pois não é permitida a permanência de visitantes após o fim da tarde.

Ainda no complexo arquitetônico, é possível visitar as catacumbas onde estão enterrados os restos mortais tanto de religiosos que moraram no local quanto de alguns estudantes ilustres. Outros pontos também chamam bastante a atenção, como o bem cuidado jardim que fica ao lado da igreja e tem uma bela vista das montanhas. Dali, subi para o calvário, que possui esculturas de Jesus, Maria e São João, além dos passos da via crucis.

Além do incêndio no colégio, o Santuário do Caraça também foi palco de uma tragédia ocorrida em 1982, quando um avião caiu na serra e matou todos os seus passageiros e tripulantes. Os destroços do acidente aéreo ainda encontram-se em meio à mata fechada. Mas são as trilhas que atraem muitos dos visitantes. Entre os atrativos, elas levam a cachoeiras, grutas, lagos, mirantes e até mesmo outras construções, como uma capela e um oratório.

Como eu fiz uma visita mais rápida, optei por fazer a trilha que leva até a Cascatinha, uma das mais procuradas justamente pela facilidade de acesso. São menos de dois quilômetros de caminhada por uma estrada de terra sem grandes variações de altitude e bem sinalizada, podendo ser percorrida por pessoas de todas as idades. Apesar do nome no diminutivo, a cachoeira é formada por quatro quedas d’água, cada uma com sua própria piscina natural, totalizando quarenta metros de altura.
Como ainda ficaram muitas trilhas e atrativos a serem visitados no parque, ainda pretendo fazer outras visitas. No mapa interativo acima, é possível ver o que já pude conferir ou citei nas postagens sobre a região. Basta aproximar para ver mais detalhes ou afastar para ter um panorama geral.