Esse templo católico faz parte do Santuário do Caraça, um complexo religioso inserido em meio às montanhas perto do município de Catas Altas, no estado de Minas Gerais. A primeira capela, datada do século XVIII, comportava poucas pessoas e, devido ao aumento do número de alunos do colégio e da presença do seminário, onde se estudava filosofia e teologia, foi decidido derrubá-la para dar lugar a um grande templo.

Assim foi erguida, entre 1876 e 1883, a Igreja Nossa Senhora Mãe dos Homens, no auge do período da exploração mineral na região, onde antes existia a Ermida do Irmão Lourenço. Da estrutura original, podem ser visto os dois altares laterais, um de cada lado, logo na entrada. Também estão presentes outros elementos como imagens e pinturas.

Também conhecida como Igreja do Caraça, ela foi erguida em estilo arquitetônico francês e sem o uso de mão-de-obra escrava. Para a construção, foram usados materiais regionais como: a pedra sabão retirada de perto da Cascatona; o mármore das proximidades de Mariana a e Itabirito; e o quartzito da região do Caraça e vizinhanças. Tudo isso foi unido usando um produto a base de cal, pó de pedra e óleo com projeto e supervisão de um padre da missão.

A fachada principal tem como destaques o símbolo de São Francisco de Assis, segundo padroeiro da igreja, caracterizado com duas mãos que se cruzam. Também aparecem as datas de 1775, o marco inicial da construção da antiga ermida, e de 1880, o cinquentenário da manifestação de Nossa Senhora das Graças à Irmã Santa Catarina Labouré. Suas imagens se encontram, respectivamente, em frente a uma rosácea e no frontispício. A torre possui 48 metros de altura e, junto ao relógio, foi gravada a frase Omni temporais hora – aeternitatis Deum adora, que pode ser traduzida como “Em todas as horas que marco e bato, adora ao Deus eterno”.

A arquitetura colonial mineira é bastante representativa do barroco, mas no caso dessa igreja foi usado o estilo neogótico, mais racional e organizado. Nessa época, passou-se a defender a ideia de que os fiéis poderiam alcançar Deus a partir de sua inteligência e reflexão, usando as ciências e novos conceitos existenciais em um mundo aberto e iluminado. Isso se traduz em mais claridade vindas de aberturas como grandes portas e janelas, além de vitrais e rosáceas.

De fato, chamam a atenção os vitrais franceses. O mais central foi doado por Dom Pedro II em sua visita ao santuário, no ano de 1881. Nele aparece o brasão do império e a assinatura do membro da realeza logo abaixo do Menino Jesus. São cinco grandes vitrais retratando Jesus em diversas situações, da esquerda para a direita: o nascimento; apresentação aos pais; aos doze anos discutindo com os doutores da lei; trabalhando junto aos pais; e a transformação de água em vinho.

O altar principal traz a imagem barroca de Nossa Senhora Mãe dos Homens, que chegou ao local vinda de Portugal no ano de 1784. Ela foi talhada em madeira e traz roupas pintadas em ouro e nuvem em prata. Em outro altar está São Pio Mártir, o primeiro corpo de um santo a vir para terras brasileiras, chegado em 1797. Por muito tempo, esse foi considerado o maior tesouro católico no país. Ele encontra-se revestido de cera e num cálice há areia de seu túmulo e um pouco de sangue. Outro destaque é a imagem da Santa Ceia, pintada em 1828 por Manuel da Costa Ataíde.

O artista também foi o responsável pela pintura dos altares laterais, em estilo barroco e pertencentes à antiga capela. À direita da entrada encontra-se a imagem de Nossa Senhora da Piedade. À esquerda, está a imagem do Sagrado Coração de Jesus. Ao longo da igreja, encontram-se outros dez altares menores, representando: São Francisco de Sales, Santo Antônio, São Paulo, São Francisco de Assis e São José, à direita; e São João Batista, São Luís Gonzaga, São Pedro, São Vicente de Paulo e o Sagrado Coração de Jesus, à esquerda.

O órgão foi feito pelo Padre Luis Gonzaga Boavida especificamente para a igreja e inaugurado junto a ela, em 1883. São 628 tubos portugueses (provavelmente da antiga ermida), franceses e de madeira local. O instrumento, que também usa pinheiro e jacarandá, funcionava movido a força humana, sendo adaptado a um motor para encher os foles de ar a partir de 1974. Ele ainda é tocado em algumas ocasiões, chamando a atenção dos visitantes.

Também aproveitei para dar algumas voltas pelo jardim da área externa, que também funciona como um mirante para as montanhas do entorno. Do outro lado, o estacionamento de uso exclusivo para os hóspedes do Santuário do Caraça. Também vale a pena conferir o claustro, o museu, o calvário e as demais estruturas religiosas do complexo.
Por fim, a visita também vale a pena pelos atrativos naturais, que incluem diversas trilhas que levam a mirantes, cachoeiras, grutas, rios e outros. No mapa interativo acima, é possível conferir alguns desses destinos que já visitei ou citei nas postagens, mas pretendo fazer uma nova viagem à região para explorar melhor a área.