Embora a capital mineira não seja vista por muitos como um destino turístico, há diversos atrativos interessantes espalhados pela cidade. Uma parte considerável deles está distribuída no entorno da Lagoa da Pampulha, criada artificialmente com o represamento de um ribeirão. O objetivo era amenizar as enchentes que assolavam a região e contribuir para o abastecimento de água local e os trabalhos tiveram início na gestão do então prefeito Otacílio Negrão de Lima.
O projeto ganhou maiores proporções durante o mandato de seu sucessor, Juscelino Kubistcheck. Então pouco habitada, a área logo ganhou uma grande estrutura de lazer, com destaque para a construção do complexo arquitetônico moderno idealizado por Oscar Niemeyer, o trabalho técnico do engenheiro Joaquim Cardozo e a colaboração de artistas e paisagistas. Atualmente, também é possível visitar áreas verdes revitalizadas, o zoológico, um parque de diversões, o estádio de futebol, um ginásio e alguns museus. O local também é palco de diversas competições esportivas, como a Volta Internacional da Pampulha.

Você pode começar o passeio em qualquer ponto, mas há um marco zero da quilometragem na pista de caminhada que fica próximo à entrada principal do Parque Ecológico e serve como referência. Ao longo dos anos, a ocupação desordenada em torno da lagoa gerou um processo de assoreamento. Os sedimentos retirados da bacia eram depositados nesse local e acabaram criando uma ilha. Após um processo de recuperação ambiental que levou cerca de uma década, o novo espaço foi inaugurado em 2004. São trinta hectares de área verde com espaços para realizar de eventos, fazer caminhadas, andar de bicicleta, praticar slackline, soltar pipa, fazer piqueniques e descansar. Ali pertinho do parque fica o Elite BH Paintball.

O Jardim Zoológico foi inaugurado em 1959 e conta com mais de mil animais das mais variadas espécies, incluindo gorilas, onças, leões, onças, rinocerontes, hipopótamos, girafas, elefantes e muitos outros separados por áreas temáticas como um borboletário, um grande aquário de água doce que retrata exclusivamente a vida da bacia do Rio São Francisco, a casa de répteis cheia de cobras, a praça das aves e outros. O espaço também abriga um jardim japonês, criado em comemoração ao centenário da imigração, e o jardim botânico. Bem próximo está o Centro de Preparação Equestre.

Se você reparar no mapa interativo que eu coloquei no começo da postagem, é possível ver que há um longo trecho sem muitos atrativos. Isso não quer dizer que não valha a pena visitar o local, que tem como vantagem estar, geralmente, menos cheio de turistas e possui espaços tranquilos como o Porto Rampa da Lagoa e o Mirante do Biguá. Nesse último, há um pequeno estacionamento e os visitantes aproveitam para fazer exercícios nos aparelhos.

Em algumas dessas paradas, ficam uns vendedores de bebidas e comidinhas. Eu sempre faço algumas paradas para repor as energias, principalmente quando vou lá para uma caminhada mais longa, dar a volta completa de bicicleta ou visitar os pontos turísticos com mais calma. Também já passei por várias lanchonetes, incluindo as que funcionam nas lojas de aluguel de bicicletas, patins e triciclos. Importante notar que nem todos esses lugares aceitam cartão, então é sempre bom andar com uns trocados.

Um dos meus espaços preferidos é o edifício projetado por Oscar Niemeyer que abrigava um cassino, a maior atração do conjunto à época de sua construção, sendo o responsável por trazer até mesmo visitantes de outras cidades e estados. Posicionado em um terreno mais elevado, destaca-se na paisagem, ao mesmo tempo em que se integra com o ambiente externo de forma harmônica. Os jardins foram desenhados pelo paisagista Roberto Burle Marx e também contam com esculturas de Ceschiatti, Zamoyski e José Pedrosa. Com a proibição dos jogos de azar poucos anos depois de sua inauguração, o cassino foi fechado e o espaço foi reaproveitado para a instalação do Museu de Arte da Pampulha.

Caminhando pouco mais de 1 km, você chega até um mirante no encontro das avenidas Otacílio Negrão de Lima e Presidente Antônio Carlos Luz. Ali fica outra academia a céu aberto e também o vertedouro tulipa, construído em formato de taça na década de 1940 para controlar a vazão das águas. É interessante registrar que a barragem se rompeu em 1954 e causou muitos estragos, chegando a atingir a pista do Aeroporto da Pampulha. Felizmente, poucas pessoas moravam pela região nessa época e não houve registro de mortes. Um segundo vertedouro, dessa vez com estrutura retangular, foi feito no começo dos anos 2000.

Um local diferente, que nem todos conhecem, é a Praça Alberto Dalva Simão. Além dos jardins e canteiros projetados por Burle Marx, chama a atenção uma pérgula de concreto e grandes estruturas de pedra-sabão que formam uma estrutura que lembra uma casa aberta, uma fonte d’água (há muito tempo vazia) e canteiros criados com minério trazido da Serra da Piedade. O local recebe há mais de cinquenta anos as festas de comemoração da Festa de Iemanjá, com homenagens à entidade e purificação da estátua.

Um puxadinho próximo da lagoa acabou ficando conhecido como Praça de Iemanjá, de onde se tem uma bela vista das águas e da escultura Rainha do Mar, obra do artista José Synfronini de Freitas Castro datada de 1982. Inicialmente produzida em mármore sintético branco, a figura de dois metros de altura e pesando 500 kg ficava em um deck de madeira e acabou sendo bastante depredada. Em 1988, foi substituída por uma feita em bronze, material bem mais resistente. Já em 2003, foi fixada no espelho d’água, a dez metros de distância da margem. O Portal da Memória, de autoria de Jorge dos Anjos, foi inaugurado anos depois e homenageia as matrizes culturais africanas.

Outro ponto próximo que merece ser visitado é o Mirante Santa Rosa, principalmente se você estiver passando pela área perto do horário do pôr-do-sol. Algumas vezes, quando eu não quero fazer uma caminhada mais longa, passeio de bicicleta ou visitar outros atrativos da região, eu paro ali só para aproveitar um pouco da paisagem. Nem preciso dizer que a golden hour rende fotos lindíssimas.

Voltando para a arquitetura modernista, outro dos meus locais preferidos da orla é a Casa do Baile, que abrigava um salão de festas com mesas, pista de dança e um pequeno restaurante. Frequentada pela alta sociedade, a área de eventos recebia muitos visitantes que saíam do cassino e faziam a travessia da lagoa de barco. Com a ilegalidade dos jogos de azar, o público acabou se tornando escasso, o que ocasionou o fechamento da casa e o seu posterior uso para fins diversos nas décadas seguintes. Atualmente, funciona no local o Centro de Referência de Urbanismo, Arquitetura e Design.

Perto dos atrativos principais, foram colocados pequenos murais com textos explicativos, mas muitos já foram danificados. Alguns até ainda dá para ler, mas outros estão totalmente apagados. Para quem quiser saber mais, a dica é visitar o Centro de Informações Turísticas, onde é possível consultar mapas e pegar alguns folhetos. Nem todas as vezes que eu passo por lá ele está aberto, mesmo porque vale a pena visitar o entorno da lagoa também em horários alternativos, como depois de cair a noite.

Andando a partir dali por mais algumas centenas de metros, chega-se ao Iate Tênis Clube. Concebido como atrativo público de lazer e esportes, ele possui piscinas, quadras esportivas e acesso à lagoa, já que antigamente era permitida a prática de atividades náuticas como remo e vela. É estranho pensar que até pouco tempo era possível nadar nessas águas, atualmente poluídas pelo esgoto. O destaque arquitetônico do edifício é seu telhado em V, popularmente chamado de borboleta, que serve para recolher a água da chuva por uma calha central. Após a privatização, o espaço manteve seu uso como local de lazer e práticas desportivas.

Há diversos mirantes ao longo das margens, geralmente pequenos. Como a lagoa tem um formato todo irregular e cheio de reentrâncias, como pode ser visto no mapa, cada um proporciona uma vista diferente. O Mirante São Luiz se destaca por ter uma pracinha maior e ser voltado para a igrejinha, que é considerada por muitos o principal cartão postal da cidade. Como ali tem uns degraus, também dá para ficar ali sentado um pouco para descansar as pernas ou mesmo para curtir o lugar.

Você pode aproveitar que está na área para conhecer o Estádio Mineirão, construído na década de 1960 com a capacidade para abrigar mais de sessenta mil pessoas em jogos de futebol. Eu gosto particularmente de aproveitar a Esplanada do Mineirão, ampla área no entorno do estádio, para dar umas voltas de patins e bicicleta, mas muita gente também vai lá para andar de skate, fazer caminhadas e correr. Ali são realizados muitos eventos, como feiras e apresentações artísticas. Quase ao lado fica o Ginásio Mineirinho, inaugurado em 1980 e com capacidade para 25 mil pessoas, tendo como principal função abrigar partidas de vôlei, futsal e artes marciais mistas, mas também servindo como palco de espetáculos.

A Capela Curial São Francisco de Assis, conhecida popularmente como Igrejinha da Pampulha, foi a primeira igreja em estilo moderno a ser construída no Brasil. Não é surpresa que não tenha sido bem aceita pela comunidade religiosa da época, só sendo aberta para a realização de missas anos depois. Destacam-se os painéis e pinturas criados por Cândido Portinari, o alto relevo esculpido por Alfredo Ceschiatti, o mosaico de Paulo Werneck e o paisagismo de Burle Marx. Ali também fica a praça que leva o nome do santo e o Parque Guanabara, com diversos brinquedos como carrinho de bate-bate, trem-fantasma, roga-gigante e uma pequena montanha-russa.

Para fechar os atrativos arquitetônicos, vale a pena andar mais 1 km até o menos conhecido, mas muito interessante, Museu Casa Kubitscheck. Como o próprio nome indica, trata-se da antiga residência de fim de semana do político. Construída entre 1940 e 1943, a casa foi projetada pelos mesmos artistas responsáveis pelo conjunto moderno da Pampulha. A estrutura principal encontra-se bastante recuada no terreno para preservar a intimidade da família e apresenta o mesmo telhado em estilo borboleta do clube. Após décadas de uso privativo, a posse foi transferida para a prefeitura, que realizou obras de restauração e adaptação, inaugurando o museu em 2013.

Praticamente em frente à casa há duas pequenas áreas com vista para o lago. O Mirante Niemeyer é bem modesto e pode até passar desapercebido. Coladinho nele fica o maior e mais interessante Mirante Bandeirantes, que tem algumas estátuas em tamanho real feitas por Vânia Braga com a participação de Diego Rodrigues. A obra, intitulada Eterna Modernidade, representa quatro figuras centrais do trabalho coletivo que resultou na criação do conjunto arquitetônico moderno da lagoa: o então prefeito da cidade, Juscelino Kubitscheck, o arquiteto Oscar Niemeyer, o paisagista Burle Marx e o pintor Cândido Portinani.

O próximo, seguindo pouco mais de um quilômetro pelas margens, é o Mirante do Bem-te-vi, que possui estacionamento, academia e um espaço mais aberto que algumas das outras pracinhas. Geralmente tem alguma van parada por lá com pessoas vendendo comes e bebes. Eu gosto de sentar em algum dos bancos do local e dar uma descansada enquanto curto o ambiente, já que a vista é bem ampla e sem árvores na frente. Esse é o último atrativo antes de chegar novamente ao marco zero, que defini como o começo do passeio nessa postagem. Isso quer dizer que foram percorridos os dezoito quilômetros do calçadão da Pampulha.

Apesar de todo o potencial turístico, ainda se esbarra no problema de poluição das águas. Até os anos 1980, a lagoa era usada por banhistas e desportistas, mas o despejamento de dejetos a tornou imprópria para o banho. No começo dos anos 2000, foi iniciado um esforço de recuperação, mas ainda há dois córregos, Xangrilá e Sarandi, cujas águas não são tratadas. Além disso, a presença das fofíssimas capivaras gera alertas devido aos carrapatos-estrelas, agentes transmissores da febre maculosa e volta e meia aparece um jacaré nas margens da lagoa. Os animais não oferecem grande risco, desde que você mantenha distância e respeite a proibição de entrar na água. E talvez você veja alguém pescando por lá, mas não se aventure, pelo menos por enquanto.