Caminhada na orla da Lagoa da Pampulha

Belo Horizonte – Lagoa da Pampulha

Embora esteja inserida em uma área bastante movimentada da cidade e receba um número considerável de pessoas em seus diversos atrativos, principalmente nos finais de semana e feriados, o entorno da lagoa possui uma atmosfera tranquila. Ali, é possível passear em um calçadão com pista de caminhada e ciclovias que percorrem os dezoito quilômetros das margens, curtir momentos de lazer nos parques, praticar exercícios físicos, visitar museus, conhecer as construções que marcaram a arquitetura moderna por volta da metade do século passado, participar de eventos culturais e outros.

A chamada região da Pampulha é uma área grande, com mais de 50 km2, que engloba dezenas de bairros e vilas e, estima-se, abriga cerca de 350 mil habitantes. Mas o destaque fica mesmo para o entorno da Lagoa da Pampulha, criada a partir do represamento das águas do córrego de mesmo nome com o objetivo de contribuir para o abastecimento de água da capital mineira e diminuir o risco de enchentes. Ela faz parte da bacia hidrográfica do Rio das Velhas, que desemboca no Rio São Francisco.

Mirante do Vertedouro Tulipa
Mirante do Vertedouro Tulipa

A profundidade máxima da lagoa é de pouco mais de quinze metros nas proximidades da barragem, que fica no encontro das avenidas Otacílio Negrão de Lima e Presidente Antônio Carlos Luz. Ali há um mirante com vista para o vertedouro tulipa, construído em formato de taça na década de 1940 para controlar a vazão das águas. É interessante registrar que a barragem se rompeu em 1954 e causou muitos estragos, chegando a atingir a pista do Aeroporto da Pampulha. Felizmente, poucas pessoas moravam por lá nessa época e não houve registro de mortes. Um segundo vertedouro, dessa vez com estrutura retangular, foi feito no começo dos anos 2000 e ambos se encontram em uso nos dias atuais.

O Abraço, escultura de Alfredo Ceschiatti
Lagoa Moderno da Pampulha

O projeto de represamento teve início em 1936, no mandato do primeiro prefeito eleito da cidade, Otacílio Negrão de Lima, mas só seria concluído na década seguinte. Foram os planos de seu sucessor, Juscelino Kubitschek, que trouxeram mais modernização para a cidade e elevaram o potencial turístico local. Ele foi o responsável por encomendar a criação do conjunto arquitetônico com desenho do arquiteto Oscar Niemeyer, então em começo de carreira, e projetos estruturais do engenheiro Joaquim Cardozo. São datados dessa época os quatro principais atrativos às margens da lagoa, antecipando os conceitos que seriam utilizados, posteriormente, na construção de Brasília.

Lagoa vista do interior da igreja
Igrejinha da Pampulha

A Capela Curial São Francisco de Assis, conhecida popularmente como Igrejinha da Pampulha, foi a primeira igreja católica em estilo moderno a ser construída no Brasil. Não é surpresa que não tenha sido bem aceita pela comunidade religiosa da época, só sendo aberta para a realização de missas anos depois – atualmente, elas acontecem todos os domingos, mas você pode fazer a visita à parte interna em outros dias com o pagamento de uma pequena taxa. Destacam-se os painéis e pinturas criados por Cândido Portinari, o alto relevo esculpido por Alfredo Ceschiatti, o mosaico de Paulo Werneck e o paisagismo de Burle Marx. Obras de outros artistas também aparecem no conjunto, incluindo August Zamoyski e José Pedrosa.

Jardim do Museu de Arte da Pampulha
Museu de Arte da Pampulha

O Museu de Arte da Pampulha foi idealizado e usado como cassino até a proibição dos jogos de azar, poucos anos depois. Era a maior atração do conjunto à época de sua construção, sendo o responsável por trazer até mesmo visitantes de outras cidades e estados. Posicionado em um terreno mais elevado, destaca-se na paisagem, ao mesmo tempo em que se integra com o ambiente externo de forma harmônica. Mesmo que não haja nenhuma exposição no local, vale a pena a visita interna ou pelos jardins, onde há grandes chances de se avistar as simpáticas capivaras. Mas é importante evitar se aproximar, já que se tratam de animais selvagens e seus carrapatos podem transmitir doenças.

Lagoa da Pampulha vista da Casa do Baile
Casa do Baile

A Casa do Baile abrigava um salão de festas, pista de dança e um pequeno restaurante. A área de eventos recebia muitos visitantes da alta sociedade, que saíam do cassino e faziam a travessia da lagoa de barco. Com o fechamento do salão de jogos, o público acabou se tornando escasso, o que ocasionou o fechamento da casa e o seu posterior uso para fins diversos nas décadas seguintes. Atualmente, funciona no local o Centro de Referência em Urbanismo, Arquitetura e Design. Também vale a pena visita-la pela beleza de suas formas e pelos seus jardins.

Iate Tênis Clube
Iate Tênis Clube

Já o Iate Tênis Clube mantém sua função original, embora esteja há muitos anos sob administração privada. Concebido como atrativo público de lazer e esportes, ele possui piscinas, quadras esportivas e acesso à lagoa, já que antigamente era permitida a prática de atividades náuticas como remo e vela. O destaque arquitetônico do edifício é seu telhado em V, popularmente chamado de borboleta, que serve para recolher a água da chuva por uma calha central. Após a privatização, o espaço manteve seu uso como local de lazer e práticas desportivas, mas também recebe festas e eventos.

Museu Casa Kubitscheck
Museu Casa Kubitscheck

O Museu Casa Kubitscheck é o menos conhecido entre os atrativos arquitetônicos da época. Como o próprio nome indica, trata-se da antiga residência de fim de semana do político. Construída entre 1940 e 1943, a estrutura principal encontra-se bastante recuada no terreno para preservar a intimidade da família e apresenta o mesmo telhado em estilo borboleta do clube. Após décadas de uso privativo, a posse foi transferida para a prefeitura, que realizou obras de restauração e adaptação, inaugurando o museu em 2013.

Praça Alberto Dalva Simão
Praça Alberto Dalva Simão

O conjunto ainda inclui a Praça Alberto Dalva Simão, à época chamada Santa Rosa, mirantes e outros atrativos. Com o aumento do interesse na região, foram construídas novas estruturas próximas, como o Aeroporto da Pampulha, o campus da Universidade Federal de Minas Gerais e todo um complexo de lazer, que inclui o Parque Guanabara. Também há uma boa estrutura de restaurantes e opções de hospedagem por lá.

Esgoto a céu aberto
Esgoto a céu aberto

Em 2016, as obras do conjunto arquitetônico receberam o título de Patrimônio Cultural da Humanidade pela Unesco. Junto ao reconhecimento, foi reforçada a cobrança por trabalhos de revitalização e preservação do espaço, que tem passado por adequações como desassoreamento da lagoa e limpeza das águas. Na década de 1980, a Lagoa da Pampulha estava bastante poluída pelo despejamento de esgoto e pelas fábricas em seu entorno, o que acabou causando a proibição de seu uso por banhistas e desportistas. Em 2002, foi inaugurado um vertedouro de tratamento das águas, mas ainda há muito a ser feito.

Parque Ecológico
Parque Ecológico

O trabalho de retirada de sedimentos realizado entre os anos de 1979 e 1996 acabou gerando a perda de grande parte do espelho d’água original, criando uma ilha artificial na região de desembocadura dos córregos Ressaca e Sarandi. Após um processo de recuperação ambiental que levou cerca de uma década, esse acúmulo de terra foi transformado no Parque Ecológico que leva o nome do Promotor Francisco Lins do Rego. O espaço foi inaugurado em 2004 e possui trinta hectares de área verde com espaços para realizar de eventos, fazer caminhadas, andar de bicicleta, praticar slackline, soltar pipa, fazer piqueniques e descansar.

Jardim Zoológico
Jardim Zoológico

O Jardim Zoológico foi inaugurado em 1959 e conta com mais de mil animais das mais variadas espécies, incluindo gorilas, onças, leões, onças, rinocerontes, hipopótamos, girafas, elefantes e muitos outros. Há separações por áreas temáticas como o borboletário, o grande aquário de água doce que retrata exclusivamente a vida da bacia do Rio São Francisco, a casa de répteis cheia de cobras, a praça das aves e outros. O espaço ainda abriga um jardim japonês, criado em comemoração ao centenário da imigração, e o jardim botânico.

Esplanada do Mineirão
Esplanada do Mineirão

Você também pode aproveitar que está na área para conhecer o Estádio Mineirão, construído na década de 1960 com a capacidade para abrigar mais de sessenta mil pessoas em jogos de futebol – há um museu sobre o tema lá dentro. Eu gosto de aproveitar a Esplanada do Mineirão, ampla área em volta do estádio, para andar de patins e bicicleta, mas muita gente também vai lá para fazer manobras de skate, caminhar e correr. Ali também são realizados muitos eventos, como feiras e apresentações artísticas. Quase ao lado fica o Ginásio Mineirinho, inaugurado em 1980 e com capacidade para 25 mil pessoas, tendo como principal função abrigar partidas de vôlei, futsal e artes marciais mistas, mas também servindo como palco de espetáculos.

Praça de Iemanjá
Praça de Iemanjá

Outro ponto muito procurado é a Praça de Iemanjá, de onde se tem uma bela vista das águas e da escultura Rainha do Mar, obra do artista José Synfronini de Freitas Castro, datada de 1982. Inicialmente produzida em mármore sintético branco, a figura de dois metros de altura e pesando 500 kg ficava em um deck de madeira e acabou sendo bastante depredada. Em 1988, foi substituída por uma feita em bronze, material bem mais resistente. Já em 2003, foi fixada no espelho d’água, a dez metros de distância da margem. O Portal da Memória, de autoria de Jorge dos Anjos, foi inaugurado anos depois e homenageia as matrizes culturais africanas.

Mirante Bandeirantes
Mirante Bandeirantes

Há diversos pontos de observação com pequenas praças ao longo da orla. Um dos destaques é o Mirante Bandeirantes, inaugurado em 2006 com estátuas em tamanho real feitas por Vânia Braga e participação de Diego Rodrigues. A obra, intitulada Eterna Modernidade, representa as quatro figuras centrais do trabalho coletivo que resultou na criação do conjunto arquitetônico moderno da lagoa: o então prefeito da cidade, Juscelino Kubitscheck, o arquiteto Oscar Niemeyer, o paisagista Burle Marx e o pintor Cândido Portinani.

Mirante Santa Rosa
Mirante Santa Rosa

Outro ponto próximo que merece ser visitado é o Mirante Santa Rosa, principalmente se você estiver passando pela área perto do horário do pôr-do-sol. Algumas vezes, quando eu não quero fazer uma caminhada mais longa, passeio de bicicleta ou visitar outros atrativos da região, eu paro ali só para aproveitar um pouco da paisagem.

Aluguel de bicicleta
Lagoa da Pampulha

A partir de 2008 passou a ser discutido a verticalização da região, permitindo a construção de prédios. O projeto, que não teve boa aceitação popular, foi vetado anos depois. Mas a exploração comercial pode ser notada nas luxuosas casas ao redor da lagoa, já que muitas delas acabaram sendo adaptadas para funcionar como salões de festas e realização de casamentos. Felizmente, nada que atrapalhe de curtir um dos melhores lugares para passear em Belo Horizonte, tanto para moradores quanto para turistas.

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