Um dos principais pontos turísticos de Belo Horizonte, a lagoa possui 18 km de orla, com pista de caminhada durante todo o percurso. Eu já fiz algumas vezes a volta completa de bicicleta e acho que é um programa ótimo, já que une exercício físico, lazer e turismo em uma mesma atividade. Já na caminhada, me aventurei apenas em uma ocasião, levando cerca de quatro horas para percorrer tudo em um ritmo constante e tranquilo. Como leva muito tempo e é mais cansativo, sugiro um trajeto parcial passando pelos pontos turísticos mais importantes, incluindo o conjunto arquitetônico moderno tombado como Patrimônio Mundial da Humanidade pela Unesco.

A Lagoa da Pampulha surgiu em 1936, quando o então prefeito da cidade, Otacílio Negrão de Lima, iniciou o represamento do ribeirão Pampulha com o objetivo de diminuir o risco de enchentes na região e contribuir para o abastecimento da capital. Juscelino Kubistchek, que assumiu a prefeitura nos anos seguintes e possuía um grande espírito empreendedor, foi o responsável por encomendar ao jovem Oscar Niemeyer, ainda em início de carreira, o projeto de alguns edifícios a serem construídos no entorno. Decidiu-se pela construção de um cassino, uma igreja, uma casa de baile e um clube.

Esse edifício abrigava um cassino, a maior atração do conjunto à época, sendo o responsável por trazer visitantes de outras cidades e estados. Posicionado em um terreno mais elevado, destaca-se na paisagem, ao mesmo tempo em que se integra com o ambiente externo de forma harmônica. Os jardins foram projetados pelo paisagista Roberto Burle Marx e também contam com esculturas de Ceschiatti, Zamoyski e José Pedrosa. Com a proibição dos jogos de azar poucos anos depois de sua inauguração, o cassino foi fechado e o espaço foi reaproveitado para a instalação do Museu de Arte da Pampulha.

Caminhando pouco mais de 1 km, você chega até um mirante no encontro das avenidas Otacílio Negrão de Lima e Presidente Antônio Carlos Luz. Ali fica o vertedouro tulipa, construído em formato de taça na década de 1940 para controlar a vazão das águas. É interessante registrar que, em 1954, a barragem se rompeu e casou muitos estragos, chegando a atingir a pista do Aeroporto da Pampulha. Felizmente, poucas pessoas moravam pela região nessa época e não houve registro de mortes. Um segundo vertedouro, dessa vez com estrutura retangular, foi feito no começo dos anos 2000.

Depois de caminhar por um trecho às margens da barragem, você encontra um ponto que pode passar despercebido por alguns. O espaço conhecido como Praça de Iemanjá tem uma bela vista da lagoa e conta com a escultura Rainha do Mar, obra do artista José Synfronini de Freitas Castro, datada de 1982. Inicialmente produzida em mármore sintético branco, a figura de dois metros e 500 kg ficava em um deck de madeira e era bastante depredada. Em 1988, foi substituída por uma feita em bronze, material bem mais resistente, e foi fixada no espelho d’água, a dez metros de distância da margem, em 2003. O Portal da Memória, de autoria de Jorge dos Anjos, foi inaugurado anos depois e homenageia as matrizes culturais africanas.

Trata-se de um puxadinho da Praça Alberto Dalva Simão, espaço que faz parte do complexo arquitetônico da Pampulha e recebe há mais de cinquenta anos as festas de comemoração da Festa de Iemanjá, com purificação da estátua e homenagens à entidade. Além dos jardins e canteiros projetados por Burle Marx, chama a atenção uma grande pérgula de concreto e grandes estruturas de pedra-sabão que formam uma casa aberta, uma fonte d’água (há muito tempo vazia) e canteiros criados com minério trazido da Serra da Piedade.

Um dos meus locais preferidos da orla é a Casa do Baile, projetada para abrigar um salão de festas com mesas, pista de dança e um pequeno restaurante, além de belos jardins. Frequentada pela alta sociedade, a área de eventos recebia muitos visitantes que saíam do cassino e faziam a travessia da lagoa de barco. Com a ilegalidade dos jogos de azar, o público acabou se tornando escasso, o que ocasionou o fechamento da casa e o seu posterior uso para fins diversos nas décadas seguintes. Atualmente, o local funciona como Centro de Referência de Urbanismo, Arquitetura e Design.

Andando por mais algumas centenas de metros, chega-se ao Iate Tênis Clube. Concebido como atrativo público de lazer e esportes, o clube possui piscinas, quadras esportivas e acesso à lagoa, já que antigamente era permitida a realização de atividades náuticas como remo e vela. É estranho pensar que até pouco tempo era possível nadar nessas águas, atualmente poluídas pelo esgoto. O destaque arquitetônico do edifício é seu telhado em V, popularmente chamado de borboleta, que serve para recolher a água da chuva por uma calha central. Após a privatização, o espaço manteve seu uso como local de lazer e práticas desportivas.

Você pode aproveitar que está na área para conhecer o Estádio Mineirão, construído na década de 1960 com a capacidade para abrigar mais de sessenta mil pessoas em jogos de futebol. Eu gosto particularmente de ir até a Esplanada do Mineirão, ampla área no entorno do estádio, para dar umas voltas de patins e bicicleta, mas muita gente também aproveita para andar de skate, fazer caminhadas e correr. Ali também são realizados muitos eventos, como feiras e apresentações artísticas. Quase ao lado fica o Ginásio Mineirinho, inaugurado em 1980 e com capacidade para 25 mil pessoas, tendo como principal função abrigar partidas de vôlei, futsal e artes marciais mistas, mas também servindo como palco de espetáculos.

Um dos cartões postais mais famosos da cidade é a Capela Curial São Francisco de Assis, conhecida popularmente como Igrejinha da Pampulha. Como primeira igreja em estilo moderno a ser construída no Brasil, não é surpresa que não tenha sido bem aceita pela comunidade religiosa da época, só sendo aberta para a realização de missas anos depois. Destacam-se os painéis e pinturas criados por Cândido Portinari, o alto relevo esculpido por Alfredo Ceschiatti, o mosaico de Paulo Werneck e o paisagismo de Burle Marx. Ali também fica a praça que também leva o nome do santo e o Parque Guanabara.

Para fechar o passeio, vale a pena andar mais 1 km até o menos conhecido, mas muito interessante, Museu Casa Kubitscheck, antiga residência de fim de semana do então prefeito da cidade. Construída entre 1940 e 1943, a casa foi projetada pelos mesmos artistas responsáveis pelo conjunto arquitetônico da Pampulha. Bastante recuada no terreno para preservar a intimidade da família, a estrutura apresenta o mesmo telhado em estilo borboleta do clube. Após décadas de uso privativo, a posse foi transferida para a prefeitura, que realizou obras de restauração e adaptação, inaugurando o museu em 2013.
O trajeto entre os dois museus, passando por todos os pontos turísticos citados e também alguns mirantes, totaliza cerca de 6 km de caminhada, o que eu acho bem tranquilo para um dia de turismo na região. Outros pontos como o Parque Ecológico e o Jardim Zoológico exigem, por si só, um bom tempo e bastante caminhada interna para serem explorados, então recomendo que sejam visitados em dias separados.