Como morador de Belo Horizonte desde o início dos anos 2000, posso dizer sem medo de ser injusto que a cidade não é exatamente amigável com os ciclistas. Não digo isso apenas em referência ao terreno acidentado, cheio de sobes e desces que dificultam esse tipo de locomoção, mas também ao comportamento agressivo dos motoristas e à deficiência de ciclovias. Elas estão presentes na região central da cidade, onde podem ser usadas para locomoção no dia a dia, mas confesso que não sinto muita segurança. Também há pistas em alguns bairros, mas sem uma continuidade que justifique o uso desse meio de locomoção como algo viável no dia a dia. O mapa atualizado que mostra as vias já implementadas e as planejadas é disponibilizado pela prefeitura.

Por hora, a Lagoa da Pampulha é o local ideal para andar de bicicleta em beagá, seja na prática de exercícios físicos ou com objetivo meramente recreativo. A faixa exclusiva para ciclistas percorre quase a totalidade dos dezoito quilômetros da orla. No passeio, é possível apreciar o visual único do local, que conta com atrativos como a Igreja da Pampulha, a Casa do Baile, o Museu de Arte Moderna e o Iate Tênis Clube, entre outros. Com um ritmo médio, dá para fazer a volta completa em cerca de uma hora. Se parar para tirar fotos, comprar algo para beber e for em um ritmo mais tranquilo, é provável que você gaste o dobro disso. Também é possível percorrer apenas uma parte do trajeto, fazendo um bate e volta até certo ponto. Seja como for, é bom ter isso bem definido porque o tempo é um fator importante ao considerar as opções de aluguel.

A alternativa mais barata é a Bike BH, projeto de mobilidade urbana com quatorze estações no entorno da lagoa, totalizando cerca de 100 bicicletas. Atualmente, o serviço é patrocinado pela Unimed-BH (antes era o Banco Itaú) e é fácil reconhecer os pontos de parada pelas suas intensas cores verdes. No plano mensal, você pode usar a bike por meia hora, devolver e esperar quinze minutos para pegar novamente. Caso queira fazer viagens mais longas sem interrupção, será cobrada uma taxa pelo excedente. Se preferir fazer a retirada avulsa, sem o plano de assinatura, você será cobrado a cada quinze minutos. Em ambos os casos, os valores são mais que justos. A liberação é feita através do aplicativo e é necessário ser cadastrado, ter um cartão de crédito e estar conectado à internet.

O problema é a alta demanda por essas bicicletas, sendo muito comum encontrar os totens vazios ou com poucas unidades, principalmente durante os finais de semana e feriados. Você pode consultar a disponibilidade antes de se dirigir ao local, mas não é possível fazer reservas. Também é importante verificar as condições dos pneus, freios e acessórios, pois você tem um período limitado para fazer a devolução sem custos se encontrar algum problema. Os preços, regras, locais e outras informações, além do download do aplicativo, estão na página oficial.

Mas o serviço não é exatamente perfeito. É sempre bom conferir no aplicativo se a devolução foi feita corretamente ou serão cobradas taxas absurdas, te obrigando a pedir um reembolso posteriormente – já aconteceu comigo. Caso não encontre nenhuma bike disponível ou tenha outros problemas, como elas estarem avariadas, se encontrarem presas na estação, o sistema ficar fora do ar ou outra coisa do tipo, há algumas empresas ao longo da orla que oferecem o serviço de aluguel, também com algumas vantagens e desvantagens.

Eu já peguei bicicletas em duas lojas que ficam na orla da lagoa. A Guil Bike fica pertinho da entrada do Parque Ecológico, foi a minha escolhida no último passeio porque abre um pouco mais cedo que as outras e me agradou mais pelo atendimento. A Bike Mania também é uma referência na região e há outras que ainda não experimentei. Em cada uma delas, é possível encontrar bicicletas diversas, com ou sem marcha, além de triciclos e também patins. Nos dias de maior procura, é possível que uma ou outra opção esteja esgotada, então eu recomendo chegar na hora da abertura para não ter problemas. Essas duas também tem lanchonetes, o que é ótimo para tomar alguma coisa no fim do passeio.

Os valores praticados por essas empresas ficam acima das bicicletas da Bike BH, principalmente nos modelos superiores. Para início de conversa, eles cobram um valor inicial de uma hora, passando para adicionais parciais acima desse tempo. Ainda assim, não há total garantia de uma alta qualidade, sendo necessário fazer a conferência na hora e pedir a troca, caso encontre problemas. No mais, senti falta de alguns acessórios que considero básicos nesse tipo de passeio, como um suporte para colocar a garrafinha de água, cesto para deixar bolsa ou algum outro item solto, retrovisores, sino ou buzina para comunicar à pessoa na sua frente que você quer ultrapassar, já que as ciclovias são estreitas, entre outros.

Se a intenção é fazer isso de forma esporádica, ambas as opções são interessantes para um passeio. Para um morador da cidade com a ideia de tornar a prática um hábito, aproveitando para andar de bicicleta toda semana, o pagamento do plano mensal pode ser uma boa alternativa. Mas se você quiser explorar a cidade com mais liberdade ou quiser um equipamento melhor, o ideal é mesmo investir na compra de uma bicicleta adequada às suas necessidades. Confesso que tenho bastante vontade fazer isso, mas dependo de realizarem de fato as obras para a criação de mais ciclovias em Belo Horizonte, como planejado.