Embora Austin tenha ótimos museus com obras de arte no sentido tradicional do termo, uma outra forma de expressão espontânea e democrática se destaca para os habitantes e todos que visitam a cidade. A princípio um movimento underground, a street art foi gradativamente sendo mais aceita e valorizada e inclui graffitis, estêncis, stickers, cartazes lambe-lambe, intervenções, instalações, flash mobs, performances, projeções de vídeos e outros.

Embora talvez não tenha sido o primeiro grafite da cidade, o Austintatious foi o responsável por iniciar a popularização da arte. Em 1974, a região da Guadalupe Street era muito frequentada por hippies e pelos estudantes da University of Texas. Foram justamente três alunos de arte que tiveram a ideia de pintar um mural na parede lateral da University Co-op, na 23rd Street. Kerry Awn, Tom Bauman e Rick Turner retrataram vários prédios e elementos marcantes de Austin, colocando como figura central Stephen F. Austin, o fundador, com uma coroa pairando sobre a cabeça e segurando dois tatus.

No espaço, que recebe uma feira de artesanato chamada 23rd Street Artists’ Market, também foi feita uma representação do estado do Texas que destaca a fauna, a flora, a geografia e as construções marcantes de cada uma das mais importantes cidades. Como eu já havia visitado Houston, San Antonio e Dallas, pude identificá-las facilmente no mapa. Uma rua abaixo, chama a atenção o Varsity theater mural, datado de 1980 e feito por Carlos Lowry. Apenas um terço da obra, que mostra cenas clássicas do cinema, sobrevive até os dias atuais.

Essa região, conhecida como The Drag, se desenvolveu com a abertura de livrarias, restaurantes e lojas que atendiam aos frequentadores da universidade. Atualmente, é considerada uma importante parte da vida social da cidade e tem um clima bastante atrativo. Ali é possível encontrar várias pinturas, incluindo a conhecida como Smile now cry later (sorria agora chore depois), que mostra um arco-íris com uma expressão feliz em um estacionamento de carros. É um estilo bem menos complexo que os anteriores, mas que também atrai várias pessoas.

Alias, uma das riquezas desse tipo de arte é justamente a sua grande diversidade. Uma das obras mais famosas da cidade é bem simples, mostrando apenas o que parece ser um sapo sorridente e a frase Hi, how are you. O desenho de Daniel Johnston, que fica na 21st Street e é chamado também Jeremiah the Innocent, é a arte da capa do seu álbum de 1983 e foi encomendado pela loja de discos Sound Exchange, que funcionava no local. Atualmente, o espaço é ocupado por um restaurante de culinária asiática que manteve a figura na parede.

Outra cantora que deixou sua marca na parede e fez sucesso foi a artista local Amy Cook, que usou um spray vermelho para fazer uma dedicatória para a sua namorada, sócia majoritária do Jo’s Coffee, Liz Lambert. Desde que foi criado, em 2010, I love you so much sofreu alguns vandalismos e foi refeito. Eu aproveitei que estava hospedado lá perto, no Stay Alfred at MUSE, e tirei uma foto junto da frase que se tornou tão famosa que passou a ser usada em bonés, camisas e outros produtos vendidos nas lojas de souvenirs. Ali perto também vi o Willie for president, em homenagem ao cantor de música country, e Won’t you be my neighbor?, que mostra o apresentador de programas infanto-juvenis Fred Rogers.

Muitos grafittis também foram criados para mostrar posicionamentos políticos, valorizar a cultura local e defender causas diversas. Um dos exemplos foi criado em 2016 pelo britânico Louis Masai na San Jacinto Boulevard com 6th Street, no centro da cidade. Em um esforço para chamar a atenção para o perigo da extinção dos animais, o artista retratou dois Houston toads gigantes e coloridos.

Outro exemplo é o painel que pode ser chamado de Justicia, feito por Raúl Valdez nos anos 1970. Recentemente restaurado pela prefeitura da cidade, a imagem mostra diferentes eras, incluindo os astecas, os conquistadores espanhóis, o movimento pelos direitos civis dos chicanos (termo empregado para se referir aos norte-americanos descendentes de mexicanos) e a população contemporânea em geral em luta por justiça social.

Outros são menos específicos, mas têm grande apelo estético, como é o caso dessa grande pintura feita na fachada de um estacionamento de dez andares chamada Tau Ceti. A obra, datada de 2018, foi feita por Josef Kristofoletti e leva o nome de uma das estrelas mais próximas do nosso sistema solar. O projeto foi financiado pelo programa Art in Public Places da cidade, que destina 2% das taxas cobradas em hospedagens para a arte urbana.
Como se pode perceber, são muitos murais espalhados por Austin com os mais diversos temas. Alguns deles ficam em áreas bastante movimentadas, como o Historic 6th Street. Outros são um pouco mais difíceis de achar mesmo que você esteja com o endereço, já que ficam localizados em muros de garagens, ruas laterais ou atrás de edifícios como o Spaceman with a floating pizza. Por fim, alguns acabam sendo apagados ou substituídos, daí nem adianta procurar. No mapa interativo acima eu marquei com ícones laranja os que se destacaram para mim de alguma forma e citei nessa postagem, mas andando pela cidade você vai ver muitos outros, inclusive em áreas mais afastadas. Basta observar com um olhar mais atento para que eles não passem despercebidos.