Título Original: Tower
Ano: 2016
Direção: Keith Maitland
No dia primeiro de agosto de 1966, um atirador subiu de elevador até o topo da UT Tower, na Universidade do Texas, e abriu fogo contra pessoas que circulavam nas proximidades, mantendo o campus como refém por longos 96 minutos. O resultado foram 14 mortos e 31 feridos, o maior massacre da história dos Estados Unidos até o momento.

Eu não cheguei a fazer o passeio guiado que leva até o observatório e, certamente, oferece uma bela vista da região (dentro de um contexto definitivamente mais positivo do que o tratado aqui), mas a página oficial deixa claro que se trata de um tour não-histórico e com foco na arquitetura, o que me leva a crer que o tema não é tratado. Também não vi pela área nenhuma referência ao caso. A Littlefield Fountain, que fica logo em frente, tem um memorial da Primeira Guerra Mundial, mas não há por ali nenhuma referência a essa tragédia que marcou o local e a vida de tantas pessoas.

É como se quisessem esconder que algo de ruim aconteceu, apagar a história. De fato, o próprio filme cita que, pouco depois do atentado, simplesmente limparam as marcas de sangue do chão e voltaram as aulas. As pessoas que viveram aquela experiência traumática juntas não tiveram mais contato umas com as outras, não se discutiu profundamente o caso para tentar entender o que tinha acontecido e como evitar novos episódios. Eram alunos, professores, policiais, agentes de saúde, funcionários dos meios de comunicação locais e outros que seguiram a sua vida, tentando esquecer o trauma. Mas não se supera totalmente algo assim.

É justamente daí que vem a força desse documentário, já que ele é focado nas experiências pessoais de quem estava no local, resgatando a memória que corre o risco de se perder para sempre, já passados cerca de cinquenta anos. Ao mesmo tempo é um alerta de que algo continua errado na sociedade americana, marcada por vários acontecimentos parecidos ao longo de sua história. Uma das críticas é exatamente a noção de que é preciso se proteger com recursos violentos, algo atualmente bastante difundido por alguns políticos brasileiros e que vai na contramão da tendência mundial de um maior controle das armas de fogo.

O documentário deixa de lado a figura do assassino, citado apenas vagamente. Basicamente, era um homem de 25 anos que havia servido na Marinha e era ex-estudante da universidade. Após matar a facadas sua mãe e sua mulher na noite anterior, ele se armou com espingardas e outras armas para esse ataque. Nos meses que antecederam o fatídico dia, ele chegou a procurar ajuda profissional devido a impulsos violentos que não conseguia controlar, incluindo a vontade de subir na torre para atirar em pessoas. Posteriormente, uma autópsia realizada identificou que ele possuía um tumor no cérebro que pode ter influenciado seu comportamento.

O documentário usa vídeos, fotografias e áudios de arquivo para retratar o desenrolar da história. Não pude deixar de pensar na postura das pessoas, atualmente, quando veem um acidente ou qualquer outra tragédia e querem logo filmar com seus celulares para distribuir nas redes sociais, o que eu acho de extremo mal gosto. No caso de décadas atrás, o registro ficou por conta da mídia e de fotógrafos amadores. Obviamente que a qualidade não é das melhores e o material é limitado, principalmente se pensarmos no tanto de acontecimentos simultâneos em um espaço grande, já que pessoas que estavam a cerca de 500 metros de distância foram atingidas.

O que eles fizeram para suprir essa falta de recursos foi recorrer à animação por rotoscopia, técnica em que são feitas filmagens com atores e se desenha a partir da referência dessas imagens. O resultado nem sempre é dos melhores, já que exige um trabalho absurdo – para se ter uma ideia, cada segundo de vídeo possui 24 imagens. É possível perceber que algumas cenas receberam melhor tratamento, realmente passando a emoção necessária, enquanto outras foram feitas de forma automática por computadores.

Apesar dos problemas estéticos, achei que o recurso foi interessante para retratar as situações narradas pelos entrevistados. No fim das contas, o que importa mesmo é o conteúdo extraído de mais de cem entrevistas que incluíram pessoas como policiais, estudantes, funcionários da faculdade, profissionais da mídia e outras testemunhas dos eventos. O resultado é bastante satisfatório, mas não completo, já que senti a necessidade de buscar mais informações na internet para me aprofundar um pouco no assunto, principalmente em como se deu a sequência dos fatos, o tempo entre os disparos e o uso de mapas para entender melhor a localização.

No fim das contas, a animação cria um certo estranhamento, mas, depois que me acostumei e passei a me envolver mais com a história dos personagens, acabei relevando. No fim das contas, é um bom registro dos acontecimentos e leva à reflexão sobre o que estamos vivendo hoje, por que continuamos falhando como sociedade, o que pode ser feito para evitar novas tragédias e como o ser humano pode, também, ser maravilhoso em situações extremas.