Muitas pessoas associam o inverno a dias tristes, em que tudo o que você quer é ficar em casa emboladinho em uma coberta. Na verdade, eles podem ser extremamente agradáveis e belos – ao menos no Texas. Foi assim, com um céu sem nuvens e um clima gostoso, que eu fiz o passeio pelo Zilker Botanical Garden, localizado na extensa área verde do Zilker Metropolitan Park. Os preços, dias e horários de funcionamento, além do calendário de eventos e outras informações úteis, podem ser acessados na página oficial.

Com cerca de 125.000 m2 e uma topografia bastante variada, esse espaço é muitas vezes referenciado como uma joia no coração de Austin. Ali se encontram pequenas áreas temáticas que vão desde um jardim japonês até a reprodução do habitat de animais pré-históricos, com lagos, quedas d’água, áreas planas e acidentadas, gramados, rochas e por aí vai. Você pode explorar o espaço livremente, mas, como são muitos caminhos e trilhas que dão voltas, eu preferi seguir o mapa para não ficar sem explorar alguma parte.

Por isso, após passar pela bilheteria na entrada do jardim botânico, me dirigi diretamente para o Austin Garden Center. Além de pegar o mapa do jardim, também aproveitei para dar uma olhada nos produtos da loja e ir ao banheiro, já que eu vinha de uma longa caminhada saindo do Stay Alfred at MUSE, onde fiquei hospedado, e passando pelo Butler Park. Dali segui pelas áreas temáticas seguindo a numeração sugerida no roteiro.

O green garden tem como principal foco as espécies nativas ou bem adaptadas à região, apresentando diferentes paisagismos que podem ser usados como inspiração para uma área verde residencial. Com a crescente demanda por água e a necessidade de controlar o impacto do uso de agrotóxicos, o espaço é usado para ensinar a população quais plantas necessitam de menos irrigação e pesticidas, como podem ser combinadas, o espaço e a quantidade de luz que demandam para crescerem saudáveis, o uso de compostagem, a melhoria da qualidade do ar e outros aspectos importantes para uma vida mais sustentável. Falando em água (ou a falta dela) e plantas nativas, a área do cactus and succulent garden começou com um acervo de plantas texanas, logo ganhando uma área maior.

O jardim foi inaugurado em 1969 após um extenso trabalho de Isamu Taniguchi, que trabalhou voluntariamente por dezoito meses, aos 70 anos de idade, para transformar o solo pedregoso em um jardim. Como costuma ser feito no Japão, os lagos foram projetados para formar uma palavra ou ideograma. Nesse caso, é soletrada a palavra Austin, refletindo o fato de ser um presente para a cidade. Ali perto pode ser visto um dos destaques do local, a mother tree. A árvore mãe era uma companhia para Taniguchi, com quem ele conversava diariamente e de onde tirava a sua inspiração. Após a conclusão dos trabalhos, a mother tree morreu, dando seu espírito ao jardim.

Não é à toa que uma extensa área seja ocupada pelo japanese garden. Além de uma parte dedicada a bambuzais, também é possível ver outros elementos importantes para a cultura asiática como lagos repletos de carpas de cor laranja, uma ponte estrategicamente posicionada para refletir a luz da lua na água ao ser atravessada e uma clássica casa de chás. Nessa estrutura, estão as palavras japonesas ten-wa-jin, que passam a mensagem de que o homem existe em harmonia com a natureza.

Saindo da área japonesa em direção ao roseiral, é possível ver alguns elementos arquitetônicos da cidade adaptados aos jardins. Um dos exemplos é uma antiga ponte de metal da Congress Avenue. Entre 1870 e 1905, essas estruturas foram usadas para que os pedestres atravessassem as valas de drenagem de água da avenida, então feita de terra. Após a pavimentação, as pontes foram removidas e instaladas no Oakwood Cemetery. Em 1969, uma delas foi colocada aqui.

Já a Bickler Cupula ficava no topo de uma das primeiras escolas públicas da cidade. Construída em 1894, na esquina da East Avenue com 11th Street, ela recebeu o nome de East Austin School, sendo renomeada anos depois em homenagem ao educador Jacob Bickler. Em 1968, o edifício foi demolido e a cúpula doada para a cidade, sendo instalada no Zilker Botanical Garden. Outros atrativos arquitetônicos que também fazem parte do acervo são uma janela de alvenaria no inusitado formato de chave, postes de iluminação e portões de ferro.

Essas estruturas estão concentradas no rose garden. Embora atinja o pico de sua beleza entre os meses de abril a junho e, posteriormente, em outubro, eu ainda consegui ver algumas flores em janeiro. O jardim também tem como atrativos as oito colunas onde crescem diferentes espécies de rosas trepadeiras, um grande arco dedicado a membros e empregados falecidos, a trilha sob uma pérgula e uma praça com bancos de madeira.

Dali parti para o prehistoric garden, construído no local onde paleontologistas descobriram vestígios de seis ou sete répteis, além dos restos de uma antiga tartaruga. Por isso, a vegetação representa aquela existente nos tempos dos dinossauros, há muitos milhões de anos atrás. O que mais chama a atenção é a escultura de um ornithomimis na pequena ilha do lago. Esse foi um dos bichos que deixou pegadas com seus pés de três dedos nos jardins. Já o butterfly trail and garden é dedicado a animais bem menores. O jardim possui diversas flores e plantas que atraem borboletas.

Por fim, a pioneer village possui plantações temporárias usando as mesmas técnicas orgânicas empregadas pelos desbravadores da região. Entre os atrativos estão as construções históricas que funcionavam como serralheria, escola e casa, todas devidamente mobiliadas e decoradas. A swedish pioneer cabin, por exemplo, foi construída em 1840 por S. M. Swenson, o primeiro colonizador sueco a se estabelecer no Texas. Considerada uma das mais bem preservadas cabanas de toras de madeira dos Estados Unidos, ela foi trazida para o jardim em 1965. O Zilker Botanical Garden inclui, ainda, áreas dedicadas a orquídeas, ervas e um jardim infantil.