Localizado em uma área residencial, o Menil Collection é composto por cinco prédios voltados para a arte que são conectados por gramados. O Main Building, cuja entrada principal se encontra no endereço 1533 Sul Ross St., é o maior deles e conta com uma extensa coleção permanente, bem como algumas exposições temporárias. O atrativo é complementado pelas instalações de artistas específicos no Cy Twonbly Gallery e no Dan Flavin at Richmond Hall, bem como pelas exibições rotativas do Menil Drawing Institute e da Byzantine Fresco Chapel.

A sensação de que se trata de um conjunto é reforçada por escolhas filosóficas e estéticas. Em todos os espaços, por exemplo, os trabalhos são bem espaçados e instalados ao nível dos olhos. Não há nenhum tipo de guia de áudio ou textos nas paredes, com as explicações se limitando a pequenas etiquetas. Também é proibido fotografar dentro das galerias, garantindo um ambiente sereno de contemplação. Além das artes visuais, o museu publica livros e serve como palco para performances de músicos, poetas e dançarinos, bem como palestras de artistas, curadores e estudiosos. O acesso a todas as estruturas é sempre gratuito. Os dias e horários de funcionamento, bem como o calendário de eventos e outras notícias importantes, podem ser acessados na página oficial.

A coleção teve início com os filantropos franceses John e Dominique de Menil, que se mudaram para Houston durante a Segunda Guerra Mundial, logo se tornando figuras centrais para o desenvolvimento cultural da cidade. Já nos anos 1940, eles começaram a colecionar obras de arte, adquirindo pinturas, esculturas, impressões, desenhos, fotografias e livros raros. Antes da morte de John, em 1973, o casal já havia discutido a possibilidade da construção de um museu. Dominique de Menil foi a responsável por colocar o plano em prática e o Menil Collection foi inaugurado em 1987, se desenvolvendo nos anos seguintes.

Eu comecei a visita pelo Main Building, que abriga a maior parte da coleção. Esse foi o primeiro museu dos Estados Unidos projetado pelo renomado arquiteto italiano Renzo Piano – outra criação dele que já visitei foi o Zentrum Paul Klee, em Berna. A estrutura do prédio é uma atração à parte e se destaca pelo uso da iluminação natural, que varia com o clima, horário do dia e estação do ano, e a integração com os jardins. Inicialmente, o local abrigou a coleção particular da família, continuando a crescer com novas aquisições. Como são muitas salas, o ideal é reservar pelo menos uma hora para percorrer o local.

Um dos destaques do museu são as obras surrealistas e outras pinturas de origem europeia, que eram as preferidas dos Menil, particularmente atraídos pelos artistas da Escola de Paris. Eles também colecionavam objetos históricos das civilizações mediterrâneas antigas, do império bizantino, de africanos, das ilhas do oceano Pacífico e das Américas, vendo uma profunda ligação formal e espiritual entre os trabalhos modernos e a cultura ancestral e dos povos indígenas. Nos anos 1960, eles gravitaram para os movimentos americanos do pós-guerra, com foco no expressionismo abstrato, pop art e minimalismo.

Em 1995 foi inaugurada a Cy Twonbly Gallery, que apresenta apenas obras do artista que dá nome ao local. Ele teve influência direta na seleção e posicionamento dos trabalhos, além e colocar um dedinho na arquitetura do prédio, que foi desenvolvida por Renzo Piano a partir de um de seus sketchs. Nesse projeto, o arquiteto italiano trabalhou com blocos de concreto e proporções de cores para criar uma faixada com impacto visual forte, mas simples. Assim como nos outros prédios, temos o uso da luz natural que, nesse caso, é filtrada pela justaposição de grelhas fixas e móveis, um dossel de aço, uma claraboia e lonas.

Cy Twonbly é conhecido, principalmente, pelos seus trabalhos com caligrafia em larga escala. Na pintura acima, por exemplo, é possível ver algumas frases escritas no canto superior direito, mas elas aparecem em vários pontos. O artista era fascinado com as palavras e encontrou inspiração para as suas obras na história e geografia antigas do Mediterrâneo, nas mitologias grega e romana, na literatura clássica e na poesia. Essas referências são abundantes em seus trabalhos.

O minimalista Dan Flavin revolucionou a arte nos anos 1960 ao usar a luz de tubos fluorescentes na criação de esculturas e ambientes, alcançando resultados belíssimos com o uso de itens disponíveis em qualquer loja de materiais de construção. Já na década de 1990, ele começou a explorar a ideia de uma exposição permanente, daí surgiu o Dan Flavin Instalation at Richmond Hall. O prédio, construído em 1930 para funcionar como armazém, teve sua estrutura original pouco alterada.

O artista criou três obras distintas para o local, uma no exterior e duas na parte interna. A exposição foi inaugurada em 1998 e, no verão de 2003, um conjunto de trabalhos do início da sua carreira foi colocado em um outro cômodo. A atração principal é mesmo esse longo ambiente com luzes coloridas distribuídas pelas paredes. Comparado aos outros espaços do Menil Collection que eu visitei, esse é o mais simples e pode ser visitado rapidamente porque não há muitos elementos. Isso não quer dizer que ele seja inferior, na verdade eu achei bem bonito.

Ao longo dos anos, o museu agregou um ótimo acervo de desenhos modernos e contemporâneos. Reconhecendo a importância que uma coleção desse estilo apresenta, foi criado o Menil Drawing Institute, que passou a organizar exibições e projetos de pesquisa a partir de 2008. Uma década depois, foi inaugurado esse prédio, que é o mais recente do complexo. O projeto ficou por conta da firma de arquitetura Johnston Marklee, que criou três pátios abertos e também valorizou o uso da luz natural. A área verde ao lago também é usada para performances e eventos.

Além de proporcionar um ambiente de estudos para profissionais da área e curadores do museu, o instituto possui um laboratório de conservação de obras de arte e salas de exposição. Ao contrário dos dois anteriores, aqui temos apenas mostras temporárias, o que garante que sempre tenham novidades a serem vistas pelo público.

Por último, passei pela Byzantine Fresco Chapel, mas não pude entrar porque estavam trocando as obras. Em 1980, dois afrescos datados do século XIII que haviam sido roubados de uma igreja em Lysi, Cyprus, e divididos em vários fragmentos foram colocados à venta. A Menil Foundation comprou e financiou a restauração das obras para a instituição religiosa. Em troca do trabalho, elas ficaram expostas nessa capela projetada pelo arquiteto François de Menil e aberta em 1997. Os afrescos voltaram para seu local de origem em 2012 e a capela passou a abrigar exposições temporárias de longa duração.

Por fim, passei também na Menil Collection Bookstore para dar uma olhada nos livros que o museu publica sobre as mostras, as coleções e projetos especiais, além de vários outros títulos sobre arte contemporânea, arquitetura e design. Gostei também da sessão infantil, com vários livros e brinquedos, e dos produtos artesanais feitos por artistas locais. Outro atrativo é o restaurante Bistrô Menil. Passei por lá para dar uma olhadinha no menu, mas acabei decidindo ir comer no Common Bond Café & Bakery, que fica próximo.

Apesar de não fazer parte da Menil Collection, ainda que tenha uma ligação direta com o museu, também aproveitei que estava nessa região para visitar a Rothko Chapel. Trata-se de uma capela que recebe visitantes de qualquer religião (ou nenhuma), além de servir como espaço para a exibição das obras de Mark Rothko e para a realização de encontros em que são discutidos direitos humanos, liberdade e outros temas relativos. O Broken Obelisk, que fica exatamente em frente, é dedicado a Martin Luther King Jr., conhecido por sua luta pelos direitos civis dos negros.

Há, ainda, outras obras de arte nos parques que ficam entre os prédios. Dá para aproveitar para sentar um pouco na grama e descansar no Menil Park – tinha até gente lá fazendo piquenique. Também aproveitei para conhecer o Houston Center for Photography. Os dias e horários de funcionamento, bem como o calendário das exposições, podem ser acessados na página oficial. É uma boa oportunidade para conhecer artistas que não costumamos ter acesso – a fotografia é, de certa forma, desvalorizada quando em comparação com as outras artes. Pelo menos é a impressão que eu tenho, já que vemos bem mais pinturas, esculturas, desenhos e outras coisas nos museus. Todos esses atrativos podem ser visitados gratuitamente e ficam pertinho uns dos outros.