Confesso que, quando eu cheguei nessa capela, com sua fachada sóbria e simples, me peguei pensando no que faria dela uma atração na cidade. Parecia algo tão sem graça que passaria até despercebida pelas pessoas que andassem por ali sem saber de sua importância histórica e artística. Só quando parei para ler as informações sobre o local e fiz a visita na parte interna é que eu entendi que se trata de um espaço relevante não apenas para a espiritualidade, mas também na arte e na política social.

Em 1964, John e Dominique de Menil, também fundadores do Menil Collection, contrataram o artista Mark Rothko para criar um espaço de meditação e as obras para o seu interior com total liberdade criativa sobre a estrutura, o que gerou alguns conflitos com o responsável pelo projeto original, Philip Johnson. Com isso, os planos passaram por várias revisões e arquitetos, incluindo Howard Barnstone e Eugene Aubry. O resultado foi um prédio de tijolinhos à vista em formato octogonal irregular inserido em uma cruz grega. Rothko, entretanto, não viveu para ver a conclusão do trabalho. Após uma longa luta contra a depressão, o artista se suicidou.

Com visitação gratuita, a capela fica aberta todos os dias, das 10 às 18h. Mas, antes de ir até lá, recomendo que você entre no calendário da página oficial, uma vez que o espaço pode estar fechado para eventos públicos ou privados, além de trabalhos de restauração. Não é permitido entrar com alimentos e bebidas, tirar fotos ou usar o celular, deitar no chão ou nos bancos e ter qualquer outra atitude que atrapalhe a atmosfera de silêncio e contemplação. Também deve-se manter uma distância segura das obras de arte. Apesar de serem católicos, os Menils criaram a capela como um espaço ecumênico aberto a pessoas de todas as religiões e também às que não seguem nenhuma crença.

Mais que isso, o local tornou-se um centro cultural e filosófico onde acontecem colóquios e performances. A partir de 1973, por exemplo, passaram a ser realizados ali encontros destinados a fomentar o entendimento mútuo de questões que afetam a justiça e a liberdade em todo o mundo. O primeiro deles atraiu estudiosos de países diversos como o Líbano, Irã, Índia, Paquistão, Nigéria, Japão, Itália, Estados Unidos e Canadá. Já na década seguinte, passaram a ser realizadas premiações para reconhecer indivíduos e organizações que denunciam violações dos direitos humanos. O espaço interno é adaptado para cada evento, podendo ser adicionados mais bancos ou retirados todos eles de acordo com a necessidade.

A exposição é permanente e conta com quatorze pinturas de Mark Rothko datadas de 1964 a 1967. Trata-se de uma série de murais em tons escuros com efeitos de textura. O tom das telas muda de acordo com a intensidade da luz do dia, fazendo com que os visitantes tenham experiências diferentes de acordo com o clima. Segundo o artista, o tema dessas pinturas são as emoções humanas. O resultado é profundo e provocativo, já que nos leva a analisar minunciosamente os detalhes escondidos nas telas aparentemente simples, o que faz com que muitas pessoas reflitam sobre seus próprios sentimentos.

Também é possível apreciar uma obra de arte na parte externa. A história do monumento chamado Broken Obelisk e as circunstâncias que o levaram até a Rothko Chapel são bastante controversas. Tudo começou quando, na conturbada década de 1960, a cidade de Houston recebeu uma concessão para a compra de uma escultura contemporânea. O valor foi oferecido pela família Menil, que escolheu a obra de Barnett Newmann, especificando que ela deveria ser colocada junto à prefeitura e dedicada ao recentemente assassinado ativista político Martin Luther King Jr., conhecido por sua luta pelos direitos civis dos negros e odiado pelos segregacionistas do sul. A cidade aceitou a escolha do monumento e do local, mas se recusou a fazer a dedicatória. Com isso, a família retirou a sua oferta, comprou a escultura para si e a colocou em frente à capela sobre um espelho d’água. O obelisco representa um compromisso com os direitos humanos e a justiça social, honrando as pessoas cujas vidas e trabalhos representam esses valores.