O nome Barranco se deve à topografia do local, com seus penhascos à beira-mar. Inicialmente povoado por pescadores, se tornou um balneário chique para os aristocratas da cidade, que passaram a construir ali ranchos e casas em estilo europeu, onde passavam as suas férias de verão. Com o passar dos anos e a crescente expansão dos distritos, Barranco foi incorporado a Lima, mas manteve sua própria administração. Eu fiz esse passeio por conta própria, mas ali é também o ponto de partida de um free tour, desses que você dá uma gorjeta para o guia no final no valor que quiser. A vantagem é que ele te informa com mais detalhes sobre todos os prédios e atrativos do local.
Outra opção é fazer o Tour de patinete elétrico por Miraflores e Barranco. Como há uma grande área a ser percorrida, eu decidi fazer o aluguel de bicicleta em Lima, já que a capital é bem servida de ciclovias e amplos parques. Barranco é um dos destinos preferidos dos turistas devido à sua atmosfera romântica e boêmia, sendo o local de moradia e trabalho de muitos dos artistas peruanos. A maioria da população é de nível socioeconômico médio e alto. Ali se pode encontrar inúmeros restaurantes, boates, bares e peñas criollas, onde se pode apreciar a música tradicional peruana. O bairro possui coloridas casonas no estilo colonial e republicano, jardins e parques bem cuidados.

Meu passeio por Barranco começou com uma ida até o Museo de Arte Contemporáneo, que estava com uma exposição que me agradou bastante. A entrada é bem barata e ainda é possível fazer um passeio pelos belos jardins e tomar um café. De lá fiz uma caminhada de pouco mais de 1km até chegar à parte que concentra a parte mais famosa do distrito, passando por diversas galerias de artes, ateliers, restaurantes e opções de hospedagens. Acredito que a região seja uma boa alternativa para quem não ficar em Miraflores.

Depois de muito bater perna, chegamos à Iglesia La Ermita, uma pequena capela que atendia aos humildes pescadores e viajantes. Sua origem se confunde com o surgimento da própria comunidade. Diz a lenda que certa vez saiu para o mar um grupo de pescadores que, devido à forte neblina que cobria todo o litoral, se desorientaram e ficaram perdidos por várias horas. Viram, então, uma luz resplandecente em direção à qual se dirigiram, conseguindo chegar à orla. Ao aproximarem-se de onde se originava a luz, encontraram uma cruz, o que fez o local se tornar um ponto de romaria. A estrutura foi erguida em adobe e galhos em meados do século XVIII por um benfeitor chamado Caicedo, um padeiro cuja esposa devota havia sido curada milagrosamente de uma enfermidade justamente pela cruz encontrada pelos pescadores.

No século seguinte, foi reedificada pelo capelão Manuel de la Fuente Chavez, mas logo depois foi incendiada pelo exército Chileno na guerra entre os dois países. Em 1903, foi elevada à categoria de paróquia. Desde 1974 permanece fechada devido aos danos causados em sua estrutura por um grande terremoto. O interessante é que da primeira vez que visitei o local, há anos atrás, dava para ver toda a estrutura do teto, que nunca chegou a ser reformado. Nessa última viagem, entretanto, ele estava todo coberto por lonas. Isso tirou um pouco o charme da vista, mas imagino que seja para evitar maiores danos ou o início de um trabalho de reconstrução.

Ao lado da igreja tem um caminho para pedestres com alguns restaurantes e pousadas que leva até esse mirante, de onde se tem uma bela vista do mar. Quando eu fui estava um dia bem fechado, o que é muito comum em Lima, embora não chova. De qualquer maneira, são menos de 100 metros de caminhada, então vale à pena ir lá dar uma conferida. Voltando pelo menos trajeto, dei uma volta no Parque de la Cruz, que fica na frente da igreja e recebeu esse nome devido à lenda descrita acima. Ali se encontra a pequena Plaza Chabuca Granda, em homenagem à cantora e compositora nativa do distrito, que tem sua estátua ali.

Exatamente em frente a essa praça está a Puente de los Suspiros, construída em 1876 e fonte de inspiração para compositores e escritores, incluindo a própria Chabuca. Embora não passe água por baixo da ponte, ela continua sendo utilizada pelos pedestres na ligação entre as ruas Ermita e Ayacucho. Seu nome vem dos inúmeros romances que tiveram e têm como palco esse pitoresco ambiente. A tradição ali é que quem vê pela primeira vez a ponte, deve passar por ela sem respirar e terá seu desejo atendido. A tarefa é fácil, já que ela é bem curtinha.

Embaixo da ponte se encontra um boulevard para pedestres chamado Bajada de los Baños. O caminho era usado pelos pescadores para chegar até a praia, o que pode hoje ser feito pelos turistas e moradores locais. É uma curta e agradável caminhada por entre casas coloridas, jardins e árvores. Mas é bom lembrar que depois será necessário fazer o caminho de volta se você pretende continuar o passeio pela região, mas eu considero uma subida tranquila.

Ao final da bajada, tem uma passarela para atravessar a avenida e você já cai direto na praia. Vale a pena descer até a Playa Barranco para molhar as mãos e/ou os pés em suas águas geladas. O local é muito utilizado por surfistas, mas, na hora que eu fui, não vi ninguém se aventurando dentro do mar. Achei interessante a praia cheia de pedras, que faziam um escândalo ao serem movimentadas pelas ondas do mar.

Subindo novamente a ladeira, fiz mais uma caminhada até chegar ao Museo Pedro de Osma, criado na casa e a partir da coleção pessoal de Don Pedro de Osma Gildemeister, um grande conhecedor da arte do peru colonial. Ali estão expostas obras dos séculos XVI a XIX, com destaque para a arte-sacra. O distrito conta ainda com outros museus e atrativos que não cheguei a visitar. De qualquer maneira, a visita à região vale muito à pena mesmo que seja apenas para dar uma volta nas ruas e ver suas características casas coloridas.