Muito menos conhecido do que as ruínas de Machu Picchu (ou totalmente desconhecido), esse sítio arqueológico de fácil acesso se encontra no distrito de Miraflores, onde a maioria dos turistas que visitam a cidade de Lima se hospedam. Do Suites Larco 656, por exemplo, são menos de 2 km de caminhada. Para quem preferir economizar as pernas, é possível ir de taxi, lembrando que é preciso combinar o preço com o motorista antes mesmo de entrar no carro, já que lá não tem taxímetro. O ingresso é barato e a visita é feita apenas com guias e dura cerca de uma hora. As explicações podem ser dadas em espanhol, inglês, japonês e francês e espera-se que se dê uma gorjeta ao final do passeio. Outra opção de passeio com foco na história local é o Tour arqueológico com jantar, que passa pelos principais sítios arqueológicos da cidade, como a Huaca Pucllana, a Huallamarca e o Museu Larco, e foca na gastronomia típica.
A Huaca Pucllana pertencia à cultura Lima, que construiu a arquitetura monumental entre os anos 200 a 700 d.C, sendo considerado um importante centro cerimonial e administrativo. Posteriormente, foi utilizada pela cultura Huari para fins funerários, entre 800 e 900 d.C. A última ocupação, Ychsma, utilizava o local como cemitério, repositório de oferendas e aldeia. Com o crescimento desordenado da cidade, o abandono e o desinteresse com o passado, valiosos objetos e pirâmides menores foram destruídos para a construção de casas, parques e avenidas. Para se ter uma ideia, a área original do sítio arqueológico era três vezes maior que a atual, hoje com seis hectares. Em 1981, iniciou-se um trabalho de pesquisa, conservação e restauração das ruínas.

O local foi construído a partir dos primeiros séculos da era cristã e alcançou seu apogeu no século V. Originalmente, era composto por um conjunto de pirâmides, praças, pátios e acessos em rampas, todos construídos à base de barro. Isso era possível porque praticamente não chove em Lima, o que ajudou na conservação da estrutura. Além disso, os paralelepípedos retangulares eram dispostos em posição vertical, como livros em uma prateleira, e com um espaço entre cada um deles, o que criava uma estrutura resistente a terremotos. A técnica ficou conhecida como librero. Os muros eram cobertos por camadas de barro e pintados de amarelo, uma cor que parece ter conotação sagrada muito importante para os construtores.

Durante a visita, é possível observar os arqueólogos que fazem o trabalho de reestruturação do local. Mais que procurar e identificar objetos pertencentes às culturas antigas, acontece uma verdadeira reforma das partes mais comprometidas da estrutura, um procedimento que deve levar muitos anos para ser completado. É realmente um trabalho de reconstrução, o que parece inusitado, visto que na maioria dos casos a opção adotada é de apenas conservar o local como foi encontrado.

Ao contrário do que se pode imaginar, a pirâmide principal não é oca por dentro e chega a ter 25 metros de altura. A subida é feita através de rampas em ziguezague e pequenas passagens. Como foram feitas muitas reconstruções ao longo dos séculos, é difícil interpretar como era administrado o espaço. O que se sabe é que a pirâmide era o ponto mais importante do local, de onde se tinha uma vista privilegiada da região e se controlava a população. Os espaços mais altos, à época pintados de amarelo, reuniam pessoas da elite, que participavam de cerimônias de cultos para os antepassados e divindades adoradas. Na parte sul, encontrou-se uma zona de enterro para pessoas da elite, tanto adultos, quanto crianças. Como o passeio é feito todo em área aberta, recomendo ir bem protegido do sol e utilizar um calçado adequado para caminhada.

Embora não seja tão impressionante quanto outros monumentos encontrados no Peru, é interessante pensar no trabalho que esses povos antigos tiveram em fazer uma construção tão grandiosa, o que testemunha a importância do local. Os restos mortais encontrados consistem, em sua maioria, de mulheres jovens. Também há homens e crianças, mas em quantidade menor. As análises das ossadas revelaram que essas pessoas morreram com golpes violentos, provavelmente em cerimônias de sacrifícios humanos, tendo seus corpos envolvidos em panos simples e sem a presença de oferendas. Também foram achados restos de cerâmicas quebradas, também usadas em cerimônias, e restos de banquetes, predominantemente marinhos. A pequena sala de exposições, inaugurada em 1984, mostra parte dos objetos resgatados pelos arqueólogos.

Além da pirâmide, visitamos a parte mais baixa do sítio arqueológico, voltado para a parte mais administrativa. Ali é possível ver modelos em tamanho real que recriam o cotidiano dos antigos moradores, com estatura bem mais baixa do que as nossas. O guia explica como eram produzidos os tijolos a partir do barro e mais detalhes da vida daquelas comunidades. Também há painéis e textos contando sobre a pesquisa desenvolvida ali. A cerâmica corresponde às fases mais tardias, o que pode ser determinado pela presença de três cores: vermelho, branco e preto, tendo quase sempre motivos marinhos, como ondas, tubarões, leões-marinhos, enguias, polvos e outros.

Com o objetivo de demonstrar melhor os aspectos da vida cotidiana das culturas antigas que ocuparam o local, também há a presença de plantas que animais que eram, respectivamente, cultivados e criados àquela época. Tem ali algumas lhamas, alpacas, cachorros e porquinhos-da-índia, por exemplo. Da flora, é possível ver milho, goiaba, pera e outros frutos. No local também funciona o Restaurante Huaca Pucllana, voltado para a culinária peruana sofisticada e turistas com folga no orçamento.
Que incrível! Nunca tinha ouvido falar desse lugar.
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Só fiquei sabendo quando cheguei na viagem! Passeio bem interessante.
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