Um dos famosos atrativos da Ilha do Sol, além das ruínas deixadas pelo Império Inca, é a trilha que corta a ilha de norte a sul. Aqui vou fazer um relato de como foi a minha experiência nessa caminhada e em outra postagem darei as dicas para fazer o passeio, pois acredito que assim fica mais organizado.

Saí de Copacabana às 8h da manhã no barco da empresa Andes Amazônia. Como eu ia passar a noite por lá, levei uma mochila com roupa, alguns mantimentos e equipamentos eletrônicos, mas tomando cuidado para não levar nada em excesso, já que seria preciso fazer a caminhada carregando o peso. Apesar da distância entre a cidade e a Ilha do Sol ser pequena, o trajeto completo até o norte da ilha dura cerca de 2 horas – antes de chegar ao destino final, é feita uma parada no sul da ilha, na comunidade de Yumani, mas ninguém desceu lá.

Chegando em Challapampa, no norte da ilha. Nesse ponto, é possível utilizar o banheiro (cobrado), comprar água e lanches e pagar a taxa de visitação. Assim que descem do barco, todos são recepcionados por um morador local que oferece seus serviços de guia, que é totalmente opcional e depende do estilo de passeio que você prefere ou pretende fazer. Eu achei e, para mim, valeu à pena, pois ele dá várias informações sobre a cultura e história locais, inclusive apontando para detalhes que passariam despercebidos caso estivéssemos andando por conta própria. Em contrapartida, é preciso acompanhar o ritmo do grupo, o que te impede de ficar mais tempo nos lugares que achar interessante ou ir mais rápido, caso esteja preocupado com o tempo de caminhada e o horário do barco de volta para Copacabana. Caso opte por fazer o passeio com o guia, lembre-se de combinar o preço antes do início da caminhada.

Depois de uma caminhada de quase de 3km em ritmo tranquilo, com algumas paradas para ouvir as explicações sobre a história local, chegamos até as ruínas Incas, que incluem a Roca Sagrada. Após visitar essa parte, temos a opção de tomar a trilha da esquerda, que leva de volta a Challapampa, ou a trilha da direita, que corta toda a ilha de norte a sul e vai até a comunidade de Yumani. Na foto acima, pode-se ver ao fundo as ruínas e a bifurcação do caminho. Esse é o ponto de vista de quem já começou a caminhada rumo ao sul e virou para tirar uma foto.
A trilha é toda bem demarcada, algumas vezes calçada com pedras e em outras partes de terra batida. De qualquer maneira, não há risco de se perder. Como está em uma altitude que chega aos 4.000 metros do nível do mar e possui muitos altos e baixos, essa é uma caminhada bem cansativa. O ritmo varia muito de pessoa para pessoa. Como eu iria dormir em Yumani, não tinha pressa de chegar logo ao sul da ilha e parei algumas vezes para descansar, tirar fotos e simplesmente apreciar a paisagem. Quem volta para Copacabana no mesmo dia precisa apertar o passo e prestar atenção ao horário, já que o último barco sai às 16h.

Com cerca de 2km de caminhada, passamos por uma pequena barraca onde um senhor vendia lanches e bebidas. Eu já havia levado água, Gatorade e alguns petiscos, então não comprei nada (você pode levar essas coisas desde Copacabana ou comprar na Ilha do Sol assim que desembarcar). Algumas meninas que estavam à nossa frente pararam para comprar bebida. Cerca de 1.5km adiante, na frente de uma pousada bem ali no meio do nada, encontramos uma outra lojinha de conveniência dessas. E foi só isso durante todo o trajeto – os próximos 4km não havia nada. A minha dica aqui para não passar aperto é: leve seu próprio lanche e bebida para não passar aperto. Vai saber se esses pontos de venda abrem todos os dias? Melhor não contar com a sorte.

Depois de mais de uma hora de caminhada, chegamos ao ponto de controle onde é preciso pagar pelo uso do caminho, o que funciona basicamente como um pedágio. Segundo a placa indicativa, o dinheiro arrecadado é destinado à escola, anciãos e necessidades básicas da comunidade, incluindo aí a manutenção da trilha e melhorias na infraestrutura em geral. Já li na internet pessoas reclamando sobre essa e outras cobranças locais, mas eu realmente acho que não é preciso fazer tanto drama, já que o valor é baixo. Tudo o que você precisa fazer é saber com antecedência, pois ninguém gosta de ser pego de surpresa. Quando eu fiz esse passeio, a taxa da comunidade norte era de 15 bolivianos.

Praticamente não há sombra durante todo o trajeto que percorremos, então é preciso levar bebidas para se manter bem hidratado e usar protetor solar. Mesmo que esteja um clima frio, o sol acaba torrando a cabeça e o esforço físico faz com que se sinta calor. Outra coisa importante é usar um bom tênis de caminhada. Alguns trechos são de terra batida, enquanto outros possuem calçamento de pedra e são um pouco mais irregulares, sendo necessário tomar cuidado para não pisar em falso. Fora alguns turistas que também fazem a caminhada e um eventual trabalhador rural, você fica basicamente isolado do mundo durante o passeio.

Achei a última parte da caminhada mais tranquila – talvez fosse um efeito psicológico, já que eu sabia que estava me aproximando da vila. O fato é que ali a vegetação estava mais verde, com o caminho passando até mesmo entre algumas árvores e a presença de animais. Por ali existe outro posto de cobrança da comunidade norte, mas não é necessário pagar novamente – basta mostrar o bilhete.

Mas não se iluda. Um pouco mais para frente tem que ser feito o pagamento do pedágio para entrar na comunidade sul da ilha, chamada Uymani. Mas esse é mais barato, não me pergunte por que. Pelo menos já é possível avistar várias casas e dá aquele gás saber que você está prestes a vencer na vida. Agora uma notícia não muito boa para quem volta ao mesmo dia para Copacabana: o porto fica do lado oposto do morro, então é preciso percorrer toda a vila para chegar até o barco, o que representa cerca de mais 1km de caminhada. Já li relatos de pessoas que tiveram que correr nessa parte final para não perder a volta, um estresse que não queremos passar quando estamos realizando um passeio turístico de conexão com a natureza.

No total, do ponto de partida (ruínas Incas) até o porto de Yumani, são quase 9km de extensão. Eu fiz o trajeto em pouco mais que três horas, já que parei para descansar em alguns pontos, tirei fotos e usei o banheiro (mentira, fui para trás de algumas pedras), mas acho que o que realmente influencia no tempo gasto são o ritmo dos passos e das condições físicas de cada um. Acredito que fique em torno de 2 horas para os mais apressadinhos e 4h para os mais lentos.
Para conferir o trajeto total e os locais onde eu encontrei os postos de controle para cobrança de estágio e os pontos de venda de lanches, dê uma aproximada na Isla del Sol no mapa interativo abaixo.