Para visitar as ruínas do império Inca na Ilha do Sol, é preciso descer na comunidade Challapampa, que fica na parte norte da ilha. Trata-se de um pequeno povoado onde moram pouco mais de 500 pessoas que vivem de maneira humilde e tiram seu sustento da agricultura, pesca, criação de animais e, mais recentemente, do turismo. Eu fui para a Isla del Sol no barco que sai de Copacabana às 8 horas da manhã, faz uma parada na comunidade Yumani, ao sul da ilha, e segue até o norte, onde a maioria dos turistas descem para fazer o passeio.
Assim que você desce do barco, você é abordado por um guia local que se oferece para acompanhar o grupo no passeio, cobrando um valor específico por pessoa pelo serviço. O guia é totalmente opcional e depende do estilo de turismo que você gosta de fazer. Se você curte caminhar em grupo, ouvir histórias e informações e apoiar a comunidade local, vale a pena. Se você prefere fazer o passeio no seu próprio ritmo ou pretende fazer a trilha que liga as comunidades do norte e sul da ilha, com cerca de 8km de extensão, e voltar no mesmo dia para Copacabana, recomendo ir por conta própria para ganhar tempo. Seja qual for a opção, é preciso pagar uma taxa de turismo que dá direito a entrar no Museo de Oro Ciudad Sumergida Marka Pampa e visitar as ruínas próximas.

O local da chegada do barco é bem movimentado, com pessoas vendendo artesanatos e turistas chegando todos ao mesmo tempo. Depois de duas horas no barco, aproveitamos para ir ao banheiro (paga um valor baixo) e comprar um sanduíche que era preparado na hora em uma barraquinha, que achamos bem gostoso. Ali também eram vendidas bebidas como chá de coca, café e sucos. Também recomendo comprar água e um lanche para comer no caminho, caso não tenha levado. Como nós íamos dormir na parte sul da ilha, não estávamos com pressa e resolvemos fazer essa parte norte com o acompanhamento do guia, um senhorzinho gente boa que tira seu sustento desses passeios. Ele recolheu o dinheiro e comprou os ingressos do museu, onde resolvemos não entrar porque estava muito cheio.

Caso queira ir por conta própria, simplesmente siga o fluxo e compre você mesmo seu ingresso. Não há risco de não saber por onde ir ou ficar perdido, já que um pequeno mapa está impresso na parte traseira do ticket, o caminho é bem demarcado e o fluxo de turistas é constante. Mas saiba que não há informações sobre os locais visitados, como painéis explicativos. Então, para conhecer realmente o que se está vendo, só com o acompanhamento do guia. Nesse caso, pergunte antes qual será o valor cobrado pelo serviço para não ser surpreendido mais pra frente.

O passeio começa passando pela praia do Lago Titicaca, de água transparente e limpinha. Dá uma vontade de sentar ali e curtir um pouco o visual, molhar o pé e tirar várias fotos. Essa é a vantagem de ir por conta própria, no seu próprio ritmo. Imagino que a água seja gelada.

Mas a praia é curtinha e logo começamos a subida pela bem demarcada trilha que, nessa parte, passa por algumas casas, cercadinhos com animais, muros de pedra, plantações e vegetação natural. O senhor vai explicando sobre a vida no local, a fauna e a flora, o lago, a ilha e vários outros detalhes. Além disso, passamos por algumas coisas antigas que nem perceberíamos a presença caso não fossem apontadas. Essa é a vantagem de ir com um guia.

Mas logo deixamos essa parte urbana para uma paisagem mais natural e de paisagem impressionante de tão linda. Como eu fui em maio, uma época em que praticamente não chove na região, o céu estava aberto e o sol iluminava bastante as águas do Titicaca. O guia ia explicando sobre os arredores, a cidade submersa e os rituais incas. É dito, por exemplo, que antes de chegar à Roca Sagrada, era preciso passar por três portas: a primeira era chamada Pumapunco e guardava a entrada; a segunda era Kentipunco, coberta por penas de beija-flor; a terceira tinha o nome de Pillcopuncu e era coberta com as penas de um pássaro verde da região. Em cada uma dessas portas vivia um sacerdote, ao qual era necessário confessar seus pecados e passar por um rigoroso exame de consciência para seguir o caminho.

O grande atrativo da região é a Roca Sagrada – Titikala, uma grande rocha que estaria relacionada ao deus Sol. Segundo a tradição local, dali teriam emergido os filhos do sol: Manco Cápac (Manqu Qhapaq), fundador e primeiro governador da civilização Inca em Cusco, possivelmente no começo do século XIII; e Mama Ocllo, divindade ligada à fertilidade. Outra versão conta que não houve luz no céu por vários dias até que o sol saiu das rachaduras da pedra. Por último, há quem diga que o sol repousou ali durante uma grande enchente que submergiu toda a região, reaparecendo quando as águas abaixaram e iluminando novamente o céu. Seja qual for a história, acredita-se que o local continua a ser um ponto central de onde emana uma grande energia mística. Outra coisa que o guia aponta é que na rocha está a figura de um puma. Sabe aquelas coisas que você precisa olhar até ficar vesgo, piscar o olho dezenove vezes, dar um mortal para trás e agarrar uma melancia caída do céu para conseguir enxergar? Então, a tal figura da pedra é assim. Bem próximo à rocha está a Mesa de Sacrificio, utilizada pelas comunidades para rituais em que animais eram mortos em homenagem ao deus Sol.

A poucos metros da Roca Sagrada estão os restos do Chincana, uma construção erguida pelos incas com vários cômodos interligados que também é conhecida como Laberinto. Alguns estudiosos dizem que ali moravam os sacerdotes, enquanto outros afirmam que se tratava de um local para armazenamento de alimentos.
Essa visita encerra o passeio pelas ruínas incas da parte norte da ilha. A partir dali há duas opções: voltar caminhando pela mesma trilha até o porto de Challapampa, um percurso de quase 3km de extensão; ou fazer a caminhada até a na parte sul, que precisa de mais tempo e disposição, já que são quase 9km com muitas subidas e descidas até chegar ao porto da comunidade de Uymani.