Esse foi, sem dúvidas, o passeio mais bonito que eu fiz no deserto do Atacama. Vocês verão nas fotos que as paisagens foram de tirar o fôlego, principalmente porque havia nevado durante a noite e quando nós chegamos às lagoas o solo ainda estava todo coberto e branquinho. Aliás, é importante ressaltar que, assim como os Gêiseres del Tatio, esse é um passeio em que se vai a mais de 4.000 metros de altitude do nível do mar. Na prática, isso quer dizer que os cuidados devem ser redobrados para não sofrer com o mal de altitude.
A sensação de frio varia muito de pessoa para pessoa, mas eu te aconselho: levar roupas extras não faz mal a ninguém. Se você não quiser usá-las ou se começar a se sentir mais aquecido no meio do passeio, é sempre possível fazer um strip-tease deixar o excesso guardado no carro da agência. Além da jaqueta, calça comprida, luva, gorro, cachecol e sapatos fechados (no mínimo), é necessário levar um litro de água por pessoa e protetor solar. No frio a gente também queima e a incidência dos raios ultraviolentos no deserto é uma coisa do capeta. Além disso, tem que levar dinheiro porque, assim como os outros passeios da região, é preciso pagar entrada.

Infelizmente, para viver essa experiência, é mais um dia em que é preciso acordar mega cedo – dependendo da época do ano, o sol ainda nem nasceu. Foi o meu caso, que fui em maio. Mas todo sacrifício é recompensado porque o pessoal da Grado 10 distribui cobertores para serem utilizados dentro do ônibus de turismo, então você vai bem embaladinho só apreciando a paisagem. O nascer do sol é lindo e você ainda vê vulcões pela estrada. Não ouse voltar a dormir, mesmo que o caminho seja bem longo.

Antes de chegar ao primeiro destino, paramos no ponto de controle e aproveitamos para ir ao banheiro. O guia providencia o pagamento das entradas com o dinheiro já recolhido entre os passageiros durante o trajeto. Se você tem carteirinha de estudante ou já passou dos 65 anos de idade, pergunte se tem direito a algum desconto. À direita nessa foto está Cerro Miscanti. A elevação tem 5.622 metros de altura e tem a laguna de mesmo nome a seus pés.
Quando chegamos ali, o chão estava todinho coberto de neve, deixando a paisagem ainda mais linda. Segundo o guia, não é sempre que isso acontece. O efeito é ainda mais impressionante para quem nunca viu neve. Falando em ver, saiba que o reflexo do sol na neve é ainda pior do que na areia, então é muito importante adicionar óculos de sol na lista de itens imprescindíveis para esse passeio.
O carro nos deixa na estrada e vamos caminhando um pequeno trajeto a pé até a borda da lagoa. Só é permitido andar nos lugares demarcados, mas dá para chegar consideravelmente perto da lagoa. Essas águas são impróprias para o banho – não que eu quisesse, imagina o gelo!

Depois continuamos caminhando até a Laguna Miñiques. Como tem uma pequena elevação, é recomendado fazer esse trajeto com calma para não causar fadiga. Antigamente, as águas provenientes do desgelo dos vulcões escorriam livremente, chegando ao Salar de Atacama. Mas uma erupção ocorrida há um milhão de anos atrás, do Vulcão Miñiques, que pode ser visto com as nuvens no topo na foto acima, acabou por represar as águas e deu início à criação das duas lagoas.

Enquanto a gente dá um passeio no entorno da lagoa e tira um monte de fotos de todos os ângulos possíveis e imagináveis enquanto tenta se aquecer – e tirar a mão da luva para funcionar o touch do iPhone para disparar as fotos é a pior coisa do mundo nesse momento – o motorista e o guia vão preparando a mesa do café da manhã com essa vista nada menos que perfeita.
Quero salientar, mais uma vez, a importância de levar seus próprios lanchinhos para comer antes desse momento. Entre San Pedro de Atacama e as lagoas, são mais de 100 km de distância, uma viagem de duas horas. Se você chega aqui sem comer nada ou só tendo tomado um leve café da manhã na hospedagem, você já vai estar morrendo de fome.

De qualquer maneira, morrendo de fome ou apenas levemente interessado na refeição, devo dizer que comer algo quentinho nessas condições é divino. Eles fazem uns sanduíches na chapa na hora que são muito gostosos, com presunto, ovo, tomate e cebola. Além disso, tem bolo, biscoitos, frutas, leite, suco, chá, café… enfim. Esse é também um bom momento para reunir todo mundo e conversar sobre os passeios que cada um já fez, trocar experiências, tirar umas selfies e comer mais ainda.

Depois do café da manhã, pegamos a estrada novamente com uma breve parada na comunidade de Socaire. Parece um lugar que parou no tempo. A economia é dominada pela agricultura, inclusive com terraços pré-colombianos que sobreviveram ao tempo fazendo parte da paisagem. É, basicamente, uma visita rápida à essa pequena igreja, na porta da qual alguns habitantes locais ficam vendendo trabalhos artesanais.

Aproveitei para tirar foto com uma obsidiana, essa rocha negra muitas vezes chamada de vidro vulcânico, já que é um material duro e quebradiço que, quando despedaçado, fica com as bordas bem afiadas. Essa propriedade fez com que o material fosse utilizado no passado para a elaboração de ferramentas de corte e perfuração. Mas o que importa mesmo é que comente com isso é possível derrotar os caminhantes brancos de Game of Thrones!

O Salar de Atacama se encontra em uma depressão formada pelo levantamento da Cordilleira de los Andes e da Cordilllera de Domeyko. O bloco central se afundou e foi coberto por material vulcânico que, com o passar dos anos, formou um enorme depósito de sal que, em alguns pontos, alcança 1.450 metros de espessura. Como agora o clima é mais seco, os sais se cristalizaram na superfície.

Mas ainda tem uma grande faixa com água, onde os flamencos (flamingos) ficam o tempo inteiro comendo como se não houvesse amanhã. Parece com uma pessoa que eu conheço – no caso, eu. Segundo o guia, eles adquirem essa cor rosa justamente devido ao seu alimento, uns animais invertebrados aquáticos nos quais está presente o caroteno Na falta dessa substância, as penas tornam-se esbranquiçadas e o animal perde totalmente a sua graça. Desculpa, mas é verdade.
Depois do passeio por ali e de observar os flamingos e outros pássaros, inicia-se o caminho de volta para San Pedro de Atacama. Não vou nem falar para você não dormir durante esse trajeto porque não sou do tipo “faça o que eu digo, não faça o que eu faço”.

A última parada antes de chegar a San Pedro de Atacama é em mais um pequeno povoado, Toconao. Aqui visitamos uma pracinha onde fica uma igreja e cuja particularidade é que a parte da torre com o sino, datada de 1750, é destacada da construção principal. Algumas pessoas aproveitaram a parada para comprar sorvete, já que estava bem quente à essa altura do dia.
Dali para a cidade é pouco tempo de viagem, já que a distância é de apenas 38 km. A chegada é lá pelas 14h, com tempo para almoçar e tomar um banho antes de pegar outro passeio, se este for o seu caso. Como eu tinha mais dias na cidade, preferi fazer uma programação mais light e descansar, mas tudo vai depender da sua agenda. Eu fiz esse passeio com a Grado10, mas também é possível fazer a reserva online.
Esse passeio é realmente um dos mais bonitos do Atacama! Pegou muita neve hein, paisagem toda branquinha! Lindo!
CurtirCurtir
Peguei neve, mas achei lindo. Só teve um dia que tive que cancelar um passeio porque caiu uma tempestade de neve. E olha que fui na primavera!
CurtirCurtir