Nas minhas viagens, sempre busco visitar mirantes para ter uma vista privilegiada da cidade, da natureza ou outros elementos interessantes da paisagem ao redor. No caso de Nápoles, um dos pontos mais procurados é esse castelo que funcionou, por muitos séculos, como estrutura de defesa militar.
Eu estava no Maman Suite, um apartamento nas proximidades do Quartieri Spagnoli, e fiz esse passeio por conta própria. Obviamente, o trajeto de cada um vai depender do seu local de hospedagem ou do ponto de partida escolhido. Mas o mapa interativo acima pode ajudar no planejamento, bastando localizar os lugares que vou citando.

O Castel Sant’Elmo encontra-se no alto de um morro e o acesso pode ser feito por funicular, serviço de transporte sustentável que funciona há mais de cem anos e transporta cerca de sessenta mil passageiros diariamente. Ao todo, são quatro linhas e dezesseis estações. Eu usei a principal delas, chamada Funicolare Centrale e inaugurada em 1928, partindo da estação Augosteo, cujo edifício foi construído em estilo art nouveau.

Quando eu fiz esse passeio, achei o bilhete barato e as viagens aconteciam durante todo o dia com uma frequência boa. As saídas eram a cada dez minutos com paradas nas estações intermediárias e trinta minutos no curso direto, então não tive que esperar por muito tempo. Dois comboios se alternavam, cada um com três carros e capacidade para levar 450 pessoas. Estava bem vazio apesar de ser segunda-feira, no horário da manhã, talvez por agosto ser um mês de férias no país.

São gastos cerca de cinco minutos para fazer o trajeto completo, percorrendo a distância de pouco mais de um quilômetro entre a primeira e a última estação, chamada Piazza Fuga. Vale a pena dar umas voltas pelo bairro Vomero, cuja história está intimamente ligada à construção da fortaleza e de um monastério. Além da parte mais comercial, essa área conta ruelas exclusivas para pedestres que são muito charmosas. Eu passei pela Salita del Petraio, que fica entre a terceira e a quarta parada do funicular, para ir em direção ao castelo.

O funcionamento, os valores atuais e outras informações sobre o Castel Sant’Elmo podem ser acessados na página oficial. É possível comprar com antecedência, mas não achei que seria necessário e, realmente, não tinha nenhuma fila na porta. Em alguns dias e horários, o bilhete sai pela metade do preço, mas já é um atrativo barato de qualquer maneira e inclui a visita ao Museo del Novecento. A exposição foi inaugurada em 2010 e conta com obras de artistas locais produzidas entre 1910 e 1980.

Os primeiros registros da fortaleza datam de 1275, quando funcionava, provavelmente, como uma residência fortificada e cercada por muralhas. Destacam-se os dois canhões junto à rampa que dá acesso à entrada. A estrutura foi expandida a partir de 1329, mas bastante danificada por um terremoto no século seguinte, que derrubou as paredes externas e as torres. Originalmente conhecida como Belforte, acredita-se que ganhou o nome atual devido à capela dedicada a São Erasmo, também conhecido como São Elmo.

Essa parte da península italiana compreendia o Reino de Nápoles e a cidade de mesmo nome era sua capital. Obviamente, era uma época de muitas disputas e o castelo funcionava como um dos fortes para defesa da região contra invasores, além da repressão de revoltas locais. O espaço também serviu como prisão militar até o ano de 1852. Apesar das muitas reconstruções feitas ao longo dos séculos, o castelo conserva, na maior parte, sua estrutura original.

Um grande trabalho de restauração foi feito em 1976, retirando acréscimos e recriando as galerias originais, passarelas, parapeitos e câmaras subterrâneas, onde foi criado um auditório com capacidade para setecentas pessoas. O espaço usado pelos militares foram ocupados por setores administrativos, além de exposições de arte. À medida que vamos subindo, dá para perceber a importância estratégica da fortaleza, com vista privilegiada de toda a região. Para os visitantes, além de conhecer mais sua história, é uma boa oportunidade para tirar fotografias.

De modo geral, é uma construção sóbria, mas algum pontos se destacam, como os arcos na parte superior da rampa. Também chamam a atenção uma escultura de metal em formato de cone com diversos recortes, o Casco de Mimmo Paladino, um enorme capacete de metal, a Chiesetta di Sant’Erasmo, que dá nome ao castelo, e o Orologio Castel Sant’Elmo, um relógio em uma das fachadas internas.

Tudo isso fica no extenso terraço, que pode ser explorado livremente durante a visita. Basicamente, trata-se de uma praça com pequenas casas ao redor e uma construção maior na parte central. As laterais são elevadas e funcionam como um mirante com cerca de seiscentos metros no trajeto completo.

Embora seja grande, eu achei interessante dar uma volta por ali para ter a vista de 360° da região. A paisagem varia bastante entre a densidade de construções da cidade, os montes que se destacam entre as áreas planas e a imensidão do mar. Eles até colocaram placas indicativas com explicações sobre os destaques de cada ponto do mirante.

O sudoeste chama a atenção pela beleza do mar, com os barcos parados junto à marina aos pés do morro Posillipo. O nome vem de uma palavra do grego antigo que significa “uma pausa para cuidados”, em referência à beleza da paisagem, capaz de aliviar a dor. Mais atrás ficam os Campi Flegrei, traduzido com “campos ardentes”, já que foram formados por erupções vulcânicas. Atrás dos montes aparecem as ilhas de Nisida, Procida e Ischia.

Na face nordeste, vários monumentos importantes podem ser identificados entre a paisagem urbana. Na parte mais distante, destacam-se as áreas verdes do Real Bosco di Capodimonte. Foi ali, no meio da floresta, que Carlo di Borbone, rei entre os anos de 1734 e 1759, decidiu construir seu magnífico palácio real, agora sede do Museo di Capodimonte. Poucos anos depois, foi erguido um observatório astronômico no mesmo morro. À direita, depois dos prédios, destaca-se o Aeroporto Internazionale di Napoli.

Eu fiz esse passeio durante o verão e o calor estava bastante intenso. Felizmente, assim como em muitos lugares que visitei pelo país, ali tinha uma fonte de água potável que dava para encher a garrafa. Também aproveitei para ir ao banheiro antes de continuar o passeio com calma.

Também não faltou vontade de descer o morro para tomar um banho de mar, mas acabei não entrando na água em Nápoles, já que iria fazer um passeio bate e volta para conhecer parte da Costa Amalfitana nos dias seguintes. De qualquer maneira, já valeu a pena pela vista que alcançava pontos da quilômetros de distância como o Monte Vesúvio, a península onde fica a cidade de Sorrento e a Ilha de Capri.

Saindo do castelo, vale a pena conhecer a Certosa e Museo di San Martino, que funciona em um antigo monastério inaugurado no ano de 1368. A estrutura foi expandida nos séculos seguintes e chegou à sua forma atual em 1623. Em 1799, forças francesas forçaram os monges a fugir e tentativas de reestabelecer suas funções originais falharam ao longo das décadas seguintes. O museu possui em seu acervo peças das eras espanhola e bourbon na região, além de exposição de presépios.

A entrada se dá pela pracinha do Belvedere San Martino, bastante visitado por moradores e visitantes para ver o pôr-do-sol. Eu fiz esse passeio todo na parte da amanhã e decidi descer o morro, que acaba sendo um ponto turístico por si só. Tem até mesmo um Tour pela escadaria Pedamentina, que possui mais de quatrocentos degraus e faz parte da história da cidade.
Terminei a caminhada nos Quartieri Spagnoli, onde eu parei para almoçar uma típica massa italiana em uma trattoria, como são chamados os estabelecimentos familiares menos formais que os restaurantes, antes de continuar a rodar pelo centro histórico da cidade.