Eu passei uns quatro dias em Nápoles para conhecer tanto os atrativos locais quanto alguns fora da cidade. Escolhi ficar no bem localizado apartamento chamado Maman Suites, que está no miolinho do centro histórico. Eu adorei o clima descontraído dessa região, principalmente nos chamados quarteirões espanhóis.
O desenvolvimento urbano dessa região está ligado ao Castel Sant’Elmo, uma fortaleza medieval localizada no alto do morro com vista privilegiada da cidade. A estrutura foi construída por volta de 1275 como uma residência cercada por muros de pedra, ampliada e remodelada nos séculos seguintes para servir como ponto de defesa militar. O castelo ganhou esse nome após a construção de uma capela dedicada a Santo Erasmo, padroeiro dos marinheiros também conhecido como São Elmo.
Descendo pela colina, foram sendo feitas casas para abrigar os militares espanhóis, que tinham como principal função conter as eventuais revoltas populares. Mas também ficavam ali soldados, que passavam em direção a outros locais de conflitos, e pessoas vindas da zona rural, que se instalavam na capital do reino em busca de melhores condições de vida. Desde sua criação, devido à alta concentração de moradores permanentes e temporários, a área foi tomada pela criminalidade, jogos de azar e prostituição.
Nos séculos seguintes, a presença militar foi diminuindo progressivamente e aumentou o setor de serviços, incluindo artesãos, alfaiates e sapateiros. A presença de importantes escritórios administrativos e financeiros nas proximidades da Via Toledo também tiveram impacto nessa área, que assumiu um aspecto residencial com mistura de nobres, empregados, proprietários e membros da classe média. Hoje em dia, cerca de quatorze mil pessoas vivem no bairro.
Eu estava hospedado a apenas duas quadras da estação de metrô Toledo, inaugurada em 2012 e considerada uma mais bonitas da cidade. Durante as escavações para sua construção, foram encontrados vestígios de assentamentos datados de 1500 anos a.C., além de estruturas medievais nas proximidades. A abertura de novas lojas, mercados, bares e restaurantes, além das características únicas da arquitetura e urbanismo da zona, aumentaram seu potencial turístico.
Mais recentemente, a área começou a receber um número significativo de estudantes universitários italianos e estrangeiros, que alugam apartamentos ou quartos individuais no bairro, próximo a algumas universidades napolitanas. Junto aos turistas, que andam por ali visitando locais de interesse histórico, artístico e cultural, formou-se um clima bastante descontraído que pode ser experimentado em caminhadas pelas pequenas vielas e escadarias.
Eu confesso que achei muito interessante seu visual caótico, com roupas penduradas para secar nas sacadas de prédios com aparência decadente, pessoas circulando de bicicleta ou motocas em meio aos pedestres e muitos cantinhos que tem um certo charme justamente por serem tão representativos do estilo de vida local.
Em meio a tanta informação, vale a pena investir em um passeio guiado como o tour de street art pelo bairro espanhol, que tem duração de duas horas e foca nos diversos murais coloridos e grafites com temas como religião, luta social, personalidades e reivindicação do espaço urbano. Também são feitos relatos sobre lendas e tradições locais, além de compras em lojas de artesanato e lembrancinhas de viagem.
O Quartieri Spagnoli ganha ainda mais vida a noite, quando muitos visitantes e moradores locais enchem os restaurantes e bares. Alguns são muito frequentados por estudantes, que saem para beber, enquanto outros são mais voltados para turistas, que buscam uma refeição mais elaborada. Seja qual for a intenção, vale a pena dar umas voltas por essas ruelas e sentir o verdadeiro espírito italiano.
Viajento 