Quando fiz minhas andanças pelo centro histórico da cidade, passei por essa igreja que ficava pertinho da Maman Suite, apartamento onde eu estava hospedado, e resolvi entrar por curiosidade. Na ocasião, a visitação acontecia em um período limitado do dia. O horário de funcionamento, o valor da entrada e outras informações práticas podem ser encontrados na página oficial.
Tratava-se de um complexo arquitetônico que, além da igreja, também da acesso a algumas áreas do antigo monastério e a um museu de arte moderna religiosa – algo que achei um tanto inusitado porque estou mais acostumado a encontrar exposições com obras mais antigas para esse tema.
No início do século XIII, existia em Nápoles um monastério franciscano chamado Santa Maria ad Palatium. Em 1268, a estrutura foi demolida sob ordem de Carlos I de Anjou, rei da Sicília, para a construção da residência real Castel Nuovo, posteriormente usada como fortaleza militar. Na década seguinte, os frades receberam o terreno para erguer um novo templo, daí vindo o complemento “La Nova” no nome.
Comecei a visita pela sacristia e um antigo refeitório, onde há um belo afresco com cena do calvário feita por Bramantino. Mas o ponto que achei mais interessante foi o claustro, onde há pinturas atribuídas a Simone Papa que representam a vida de San Giacomo della Marca, santo patrono da cidade que teve uma vida conturbada como inquisidor da igreja católica, padre e escritor com posicionamentos polêmicos. Também chamam a atenção as lápides, originalmente dispostas na igreja.
A maior e mais famosa é a tumba é dedicada a Matteo Ferrillo, cujo filho casou-se com Maria Balsa, presumível filha do Conde Vlad III. Não se trata, obviamente, do personagem do romance de Bram Stoker, mas sim do homem que teria inspirado a história do livro e sido imortalizado como o Conde Drácula. A jovem teria transferido os restos mortais do pai para o local com o objetivo de evitar sua profanação. Essa teoria é apoiada por uma série de símbolos presentes na lápide, sendo o mais óbvio a figura do dragão – drácula, do romeno dracul, significa “filho do dragão”.
Lendas à parte, segui a visita subindo alguns andares para conferir o Museo d’Arte Religiosa Contemporanea – ARCA. A exposição está dividida em diferentes salas temáticas e possui obras produzidas desde 1949 até os dias atuais. São mais de cem pinturas, fotografias e esculturas de dezenas de artistas italianos e estrangeiros.
O que eu achei mais interessante foi a grande variedade de estilos e perspectivas, até mesmo gerando um confronto tanto entre as obras apresentadas no museu quanto delas com as pinturas e imagens do patrimônio artístico e cultural do convento e da igreja, muitos dos quais datam do século XV.
Apenas parte do complexo está aberto à visitação, mas é dá para ver o claustro maior e outras estruturas a partir dos andares superiores. Também é possível reservar um quarto no local e vivenciar sua história mais de perto. Depois de passear pelo museu, desci para conhecer a igreja.
Inicialmente, o projeto tinha estilo gótico, mas o edifício foi se deteriorando devido aos constantes terremotos na cidade e sofreu muitos danos com uma grave explosão acontecida no Castel Sant’Elmo. Esse último incidente destruiu quase toda a estrutura, levando a uma reconstrução entre os anos de 1596 e 1599, com a fachada mais sóbria e simples.
Já a parte interna é muito rica. A sensação que eu tive é que não havia um centímetro sequer sem ornamentações. O altar principal data de 1640 e apresenta duas esculturas laterais de madeira. Já a figura central de Maria com o bebê Jesus, pintada em cores metálicas, é da antiga igreja.
O teto é decorado com quarenta e seis painéis de afrescos produzidos entre 1598 e 1600, com molduras talhadas na madeira e cobertas de ouro. As imagens maiores, dispostas na fileira central, representam a Glória do Nome de Maria (Francesco Curia), a Assunção da Virgem (Girolamo Imparato) e a Coroação da Virgem (Fabrizio Santafede). As paredes também são cobertas por afrescos e esculturas.
As laterais são ocupadas por diversas capelas e placas indicam os artistas responsáveis pelas obras. A terceira do lado esquerdo, chamada Cappellone di San Giacomo della Marca, é a maior da igreja e abriga o corpo preservado daquele mesmo santo cuja vida está representada nos afrescos do claustro. Em 1631, uma procissão de fieis carregou seu corpo pedindo pelo fim de uma erupção do Vesúvio. Guerreiros diversos também estão homenageados ou enterrados nesse local.
Embora o coro fique um pouco mais escondido, dá para perceber que foi dada uma atenção especial ao ambiente, com paredes cobertas por pinturas e rodeado por bancos trabalhados em madeira. O piso e a cômoda possuem desenhos feitos em pedra, enquanto o órgão chama a atenção pelo formato quadrado e a disposição central.
Por fim, também havia alguns presépios com riqueza de detalhes, uma das grandes tradições da cidade, surgida a partir de 1700. Quem gosta do tema deve programar uma visita à Via San Gregorio Armeno, famosa pela quantidade de lojas que expõem e vendem estruturas, estatuetas e decorações para os compradores montarem suas próprias cenas. A rua fica especialmente movimentada no fim do ano e mistura imagens sacras e profanas, sendo um passeio muito interessante.
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