A partir de 1713, a área onde hoje se encontra Diamantina passou a ser ocupada para a exploração do ouro no vale do córrego do Tijuco, mas o desenvolvimento mais intenso aconteceu alguns anos depois com a descoberta dos diamantes. Durante esse período, ganhou construções que encontram-se bem conservadas até os dias atuais – um testemunho do período colonial, quando as comunidades eram criadas com ruas estreitas e becos de padrão irregular, seguindo o desenho das encostas.

Com isso, a melhor forma de explorar a área é andar bastante. Acho difícil traçar um roteiro específico, já que os atrativos se espalham por muitas ruas. Além disso, como fiquei hospedado na cidade por alguns dias, acabei explorando a área em diferentes ocasiões. De qualquer maneira, marquei no mapa interativo abaixo todos os pontos que visitei ou apenas passei na porta. Para ver com mais detalhes, é possível aproximar a visualização.
Durante o período de apogeu da exploração dos diamantes, no século XVIII, a comunidade passou por um boom de crescimento urbano com construção de residências, templos religiosos e prédios públicos. Embora muito tenha sido conservado, também se juntou ao conjunto arquitetônico monumentos mais novos, como as construções modernistas projetadas por Oscar Niemeyer.

Minhas andanças sempre começavam pelo Hotel Tijuco, onde fiquei hospedado. Sua construção foi encomendada por Juscelino Kubitschek quando era governador de Minas Gerais. Na década de 1950, Diamantina contava com cerca de dez mil habitantes e não tinha boa estrutura para receber visitantes, apesar de seu grande potencial turístico. A cidade recebeu, além do hotel, uma escola, uma praça de esportes e uma faculdade em estilo modernista, todos eles hoje tombados pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional – Iphan.

Ali pertinho fica a Santa Casa de Caridade. Acredita-se que ela tenha sido criada como continuidade a um hospital construído para atender ao grande contigente de escravos que trabalhava na mineração, cuja manutenção tinha como desafio as condições desfavoráveis de trabalho e os acidentes habituais. A inauguração oficial se deu em 1780 e a instituição se mantém sem fins lucrativos, contando com 155 leitos e atendendo dezenas de municípios da região.

Ao final do século XIX, foi lançada a pedra fundamental para a construção do primeiro Hospício do estado, que ofereceu tratamento aos alienados entre 1889 e 1906. O projeto feito pelo engenheiro Catão Gomes Jardim levou em conta conhecimentos da medicina moderna, com preocupação com a circulação do ar e limpeza. Entretanto, os pacientes foram transferidos para outra cidade e o prédio caiu em desuso, correndo o risco de desabar devido ao abandono. A partir do final do século, passou por restauro e ganhou novas destinações.

A Casa da Glória é constituída por dois sobrados. O mais antigo foi erguido por volta de 1775 e deve seu nome à antiga proprietária, Josefa Maria da Glória. Nos anos seguintes, serviu como sede do bispado, orfanato e colégio feminino. Do outro lado da rua, funcionava uma casa de jogos e prostíbulo a partir de 1850. Não concordando com o que consideravam uma aberração, as freiras juntaram dinheiro e compraram a propriedade. Mas, como não podiam sair à rua devido ao seu voto de clausura, construíram, em 1878, o passadiço que liga as estruturas e é considerado o símbolo da cidade. Mais de um século depois, o conjunto foi adquirido por pesquisadores alemães e abriga o Centro de Geologia Eschwege, hoje comandado pela Universidade Federal de Minas Gerais – UFMG.

A Igreja Nossa Senhora da Luz foi concluída por volta de 1819. A construção foi iniciativa da portuguesa Teresa de Jesus Perpétua Corte Real, em cumprimento a uma promessa feita por ter se salvado de um terremoto em Lisboa ocorrido em 1755. Anexo à igreja, foi erguida uma escola que recebia meninas órfãs, cuja educação era mantida por senhores abastados cujas filhas também estudavam no local. Após sua morte, o corpo de Teresa foi sepultado na entrada do templo, sob o coro. A torre central foi adicionada no século XX, após outras reformas.

Um dos espaços culturais mais visitados da cidade é a Casa de Juscelino, onde o político passou sua infância e adolescência. Trata-se de uma simples construção de pau a pique, técnica típica do século XVIII. Em 1993, o museu foi ampliado sob administração de Serafim Jardim. Atualmente, o espaço conta com sala administrativa, auditório, biblioteca, réplica de um consultório e acervo de objetos pessoais do ex-presidente, incluindo os violões usados por ele em serestas. Ao lado do sobrado, é possível visitar a Praça da Unesco.

Descendo a rua, encontra-se a Praça JK, importante ponto de encontro dos moradores da cidade e bastante visitada pelos turistas. Na confluência de sete ruas, esse espaço elevado tem vista privilegiada da serra e possui uma estátua do ex-presidente Juscelino Kubitschek, personalidade mais ilustre da cidade.

Na frente dessa pracinha fica a Igreja de São Francisco de Assis, construída entre 1766 e 1830 em estilo barroco e com elementos decorativos do rococó. Chama a atenção sua fachada sóbria, marcada com as cores vermelha, azul e dourada. O local desperta a curiosidade dos visitantes por guardar os restos mortais de Chica da Silva, mas também vale a pela observar as belas pinturas no teto realizadas por José Soares de Araújo.

Construído na primeira metade do século XVIII, o Edifício do Fórum era usado originalmente como residência, contando com um imponente quintal. Não é possível precisar quando foi adquirido pelo poder público, mas sabe-se que serviu de Câmara Municipal no andar superior, enquanto na parte de baixo funcionava a Cadeia Pública, expondo os presos em situação degradante aos transeuntes. Em 1912, eles foram transferidos para outro ponto e o espaço foi usado pelo Fórum, que ocupou também o andar de cima a partir de 1950.

O Chafariz da Câmara, localizado na Rua Direita, possui seis carrancas de onde saía água destinada ao consumo da população geral, além de uma à esquerda que servia como bebedouro de animais, como cavalos usados pelos mais ricos. Foi construído em 1835, mas recebeu revestimento de pedra em 1861 e cobertura de cimento em 1899. Infelizmente, encontra-se em mau estado de conservação e sequer estava funcionando quando passei por lá.

Ele fica em frente à Antiga Casa da Intendência, prédio edificado entre 1733 e 1735 por iniciativa do governo colonial para servir como sede da Intendência dos Diamantes. Nos anos posteriores, abrigou diferentes instituições como o Externato de Diamantina, a Escola Normal e um grupo de estudos criado pelo presidente do estado, João Pinheiro. O acesso se dá por uma escadaria externa em pedra, fora do alinhamento da construção. Em uma das salas, um fosso com sete metros de profundidade e estacas pontiagudas de madeira ao fundo se liga por um túnel ao Córrego do Tijuco. A tradição oral dá conta de que serviria como armadilha mortal para vendedores de diamantes que iam até o local oferecer seus produtos.

Ironicamente, do outro lado da rua funciona justamente o Museu do Diamante, criado em 1954. A instituição possui vasto acervo de mineração e garimpo, como os instrumentos utilizados na busca por ouro e diamante, moedas e outros objetos. Conta também com fotografias da cidade e seu entorno, personalidades, casarios e monumentos. Além das exposições, são realizados ali ações educativas e atendimento a pesquisadores. O museu funciona na antiga casa do Padre José de Oliveira e Silva Rolin, cujos bens foram confiscados por ter sido ele um dos principais conspiradores da Inconfidência Mineira.

Um dos pontos mais conhecidos da cidade é a Catedral de Santo Antônio da Sé, que foi inaugurada em 1938 em substituição a uma igreja mais antiga. Embora tenha uma estrutura nova quando comparada aos demais atrativos do centro histórico, possui retábulos barrocos que foram reaproveitados da antiga matriz.

Nem todos os prédios históricos da cidade foram ocupados por museus ou serviços públicos, mas, nessa mesma praça, uma agência do Banco do Brasil ocupa um belo casarão que encontra-se muito bem conservado e sem grandes interferências visuais na fachada externa.

Muitos outros são usados por lojas, restaurantes e outros estabelecimentos. Vale a pena dar uma explorada pelas ruas menores, mesmo que não tenha como objetivo visitar um atrativo específico. Um cantinho particularmente charmoso é o Beco do Mota.

A área mais famosa é a Rua da Quitanda, onde é realizada a famosa Vesperata, evento que reune bandas e artistas nas sacadas dos casarões, enquanto o público acompanha de mesinhas ao ar livre. Nos outros dias, o espaço segue ocupado por bares e restaurantes. Embora seja fechada para o trânsito de carro também durante o dia, é a noite que o movimento fica mais intenso.

Entre as fachadas, a Casa do Muxarabiê se destaca por ter um balcão fechado por uma treliça de madeira com procedência moura. O elemento que dá nome ao local servia para proteger um espaço nobre da casa dos observadores externos. Agora funciona ali a Biblioteca Antônio Torres, voltada para a pesquisa acadêmica de documentos dos séculos XVIII, XIX e XX que contém aspectos históricos locais, regionais e nacionais.

Algumas ruas para baixo fica o Mercado Velho, marcado no passado pela intensa atividade dos tropeiros, responsáveis pelo abastecimento da região mineradora com todo o tipo de mercadoria. Construído em 1889, o espaço buscava centralizar o comércio. Atualmente, junto com a Praça Barão de Guaicuí, é palco de eventos diversos. Esse também é o ponto de partida do Caminho dos Escravos, um trajeto de vinte quilômetros, percorrido em cerca de oito horas, que liga Diamantina ao distrito de Mendanha.

A construção da Capela Imperial de Nossa Senhora do Amparo data de 1776, tendo sido comandada pela Irmandade dos Pardos do Arraial do Tijuco. Entre os acabamentos e ornamentações, destacam-se os altares em estilo barroco-rococó, o púlpito em forma de cálice, as pinturas, um presépio decorado com centenas de conchinhas das minas de salitre da região e o douramento. Ao longo do século seguinte, passou por diversas reformas, incluindo a demolição da torre de pedra original, que causava danos à estrutura e foi reerguida posteriormente.

Outro dos templos mais antigos da cidade é a Igreja de Nossa Senhora do Rosário, construída no centro de uma praça, tendo bastante espaço livre em seu entorno com calçamento de pedra. Quando fiz a visita, a tinta estava bem gasta, mas ainda se destacavam suas cores fortes. Na parte interna, chama a atenção as pinturas e douramento de José Soares de Araújo, principalmente no forro, que mostra a santa rodeada de anjos e nuvens.

O Teatro Santa Izabel foi construído em 1841 com verbas da Santa Casa de Caridade e aberto ao público no ano seguinte, mas sua conservação se tornou muito dispendiosa. Embora tenha recebido importantes peças teatrais, bailes, conferências populares e outros eventos, acabou sendo derrubado para a construção de uma nova estrutura, inaugurada em 1914. Quando passei por lá, estava tendo exposição de fotografias e apresentação de um grupo de capoeira, mas o espaço também recebe outros espetáculos artísticos e exibição de filmes.

Erguida pelos militares por volta de 1771, a Igreja Nosso Senhor do Bonfim teria servido por um tempo aos crioulos. Possui estrutura de barro, com uma torre lateral. Seu principal elemento decorativo é um retábulo que ocupa toda a parede do fundo e faz composição com a pintura do forro, de autoria desconhecida. Na abóboda da capela-mor, é possível ver figuras da mitologia greco-romana que foram cristianizadas, sendo a única representação de sibilas na colônia portuguesa das Américas. Délfica, Líbica, Frígia e Tiburtina eram sacerdotisas de Apolo, tendo como função dar a conhecer os oráculos desse deus.

O edifício onde funciona o Palácio Arquiepiscopal foi construído em 1740 e serviu a diversos propósitos, além de ter passado por diversos acréscimos e modificações estéticas, perdendo suas feições primitivas, inclusive com a retirada das sacadas de madeira originais em 1915. Algumas décadas depois, elas foram refeitas e outras reformas ajudaram a reconstituir a imagem original do prédio.

A Igreja Nossa Senhora do Carmo foi erguida entre 1760 e 1765 com recursos de João Fernandes de Oliveira, um dos responsáveis pela exploração de diamantes no antigo Arraial do Tijuco, onde viveu com a ex-escrava Chica da Silva. Era a única igreja da cidade que não possuía uma torre frontal – ela chegou a ser mudada de lugar, mas voltou ao original após ser tombada como patrimônio histórico.

Falando nela, dá para visitar a Casa de Chica da Silva, possivelmente construída em meados do século XVIII. O casal foi proprietário do imóvel entre 1763 e 1771. Entre suas particularidades, tinha uma capela anexa em homenagem a Santa Quitéria, que foi demolida em data desconhecida e teve apenas sua portada reconstruída em 1951. Devido à sua condição de ex-escrava e relacionamento com João Fernandes de Oliveira, Chica da Silva é uma das grandes referências de poder e conflito na região de Diamantina.

Talvez a Igreja de Nossa Senhora das Mercês seja a mais misteriosa das quais passei durante meu passeio, já que não se sabe exatamente a época da sua edificação. Ainda assim, é possível fazer uma estimativa pelas suas características construtivas, típicas do período colonial. Além disso, existe uma bela imagem de Sant’Ana Mestra no interior datada do século XVIII. A santa é mostrada como era tradicional no estado, sentada e protegendo a Virgem Maria com o braço esquerdo.

Embora fique mais distante dos demais atrativos do centro histórico, muitos visitantes passam pela Antiga Estação Ferroviária por ficar junto da rodoviária. No começo do século XX, o trem ligava a cidade com destinos como Corinto, Curvelo e Belo Horizonte, chegando ao litoral do país. A linha funcionou até o início dos anos 1970. Após ficar muito tempo abandonado, o prédio passou a ser usado pelo Corpo de Bombeiros e encontrava-se em reforma quando fui até lá.