O Parque Nacional da Serra do Cipó, que já foi chamado de jardim do Brasil pelo renomado paisagista Burle Marx, é uma unidade de preservação bastante extensa e rica. Com topografia acidentada, variando de 600 a 1760 metros de altitude, a área conta com muitas nascentes que formam rios, cachoeiras, cânions e cavernas, além de enorme diversidade geológica, fauna e flora.

Para aproveitar melhor os muitos atrativos naturais, além dos restaurantes e bares com boas opções gastronômicas e de entretenimento, o ideal é se hospedar na vila por, pelo menos, um fim de semana. Isso permite começar bem cedo os passeios, tanto para evitar a grande aglomeração de pessoas que aumenta ao longo do dia, quanto para garantir a entrada no parque, já que há um limite de visitantes e não é possível fazer agendamentos prévios. Também fica menos cansativo que um bate e volta de outra cidade.
Eu sempre crio um mapa interativo e vou adicionando os pontos que quero visitar, até mesmo para entender as distâncias e definir qual será a melhor hospedagem. Nesse caso, é um processo ainda mais importante, já que há diferentes entradas para o parque e alguns dos atrativos mais famosos ficam a quilômetros de distância, o que exige um planejamento mais cuidadoso.

Existem quedas d’água bem próximas da vila, que podem ser acessadas com o pagamento de uma taxa por estarem em propriedades privadas. Mas, para quem gosta de um contato mais íntimo com a natureza, será necessário percorrer longas trilhas para chegar às cachoeiras e piscinas naturais mais interessantes, como a Cachoeira da Farofa (8 km), o Cânion das Bandeirinhas (12 km), a Cachoeira do Gavião (6 km) e a Cachoeira Tombador (8 km).

Também é importante considerar o meio de transporte para chegar a tais locais. Como eu moro na capital mineira, sempre vou até a vila de carro, então tenho um veículo para ir até as entradas do parque. Da Portaria Areias, que é a principal, vale a pena alugar uma bicicleta (ou levar, caso você tenha) para ir a alguns dos atrativos mais distantes. Já na Portaria do Retiro, o terreno é bastante irregular e tem que ser caminhando mesmo.

Falando em deslocamento, é importante manter-se sempre nas trilhas pré-determinadas, ainda que elas estejam molhadas, lamacentas ou escorregadias. A dificuldade faz parte do desafio de vivenciar a natureza e fazer desvios causa danos ao meio ambiente. Para maior conforto, a melhor solução consultar o histórico do clima e a previsão do tempo para o dia que pretende fazer a visita. Eu gosto de priorizar a estação seca, entre os meses de abril e setembro.

No período chuvoso de outubro a março, que coincide com o verão, os rios e cachoeiras estão sujeitos a cheias repentinas, podendo arrastar pessoas ou deixá-las ilhadas. O problema é que a chuva pode acontecer na cabeceira do rio, bem distante de onde você está, e surpreender quem está tomando banho ou apenas fazendo uma travessia. Alguns dos sinais do evento, chamado cabeça d’água, são a mudança na intensidade da correnteza, com maior agitação, e na coloração da água. Nesses casos, afaste-se imediatamente e fique em uma área mais elevada até que o fluxo se normalize.

Outra coisa importante é levar o necessário para passeio, o que pode ser um pouco complicado porque você não quer esquecer nada, mas também não deve exagerar e acabar carregando mais peso do que precisa. Em passeios curtos, acaba sendo bem simples. Para facilitar a hidratação, comprei uma mochila que tem uma bolsa interna que comporta dois litros de água. Também carrego alguns curativos, filtro solar e outros itens do tipo. Por fim, presto bastante atenção à bateria do celular, não apenas para tirar fotos, mas também para conferir minha localização no mapa e, caso seja necessário, usar a lanterna. Na maior parte do trajeto, eu não tinha acesso à internet ou sinal para fazer chamadas.

Seja para poucas horas ou para passar um dia inteiro, sempre levo lanches leves. Minha preferência é por sanduíches naturais, suco ou iogurte, barra de cereal, castanhas diversas e frutas – tudo fácil de consumir e que alimenta bem. Nesse caso, é importante deixar em casa embalagens desnecessárias para diminuir o peso e gerar menos lixo, que deve sempre voltar com você e ser descartado em local adequado.

Outra questão importante é usar roupas adequadas, o que pode variar de acordo com a estação do ano. Eu tenho chapéu e blusas com proteção UV, além de óculos de sol, já que se fica exposto por muitas horas durante as caminhadas. Geralmente coloco uma bermuda ou calça próprios para exercícios físicos. O calçado deve ser de caminhada e ter sido bastante usado, já que os novos tendem a causar calos e bolhas nos pés. Também levo uma toalha de microfibra, que fica bastante compacta e serve tanto para secar depois de um banho quanto para proteger ainda mais do sol.

No caso de acampamentos, o planejamento é mais complexo. Muitos acidentes e agressões à natureza são causados por improvisações e uso inadequado de equipamentos, então tenha certeza de levar tudo que precise. Fique somente em áreas pré-determinadas, quando existirem, e tente causar o menor impacto possível ao local – não arranque vegetação ou remova pedras, tente encontrar o espaço adequado. Algumas recomendações importantes são evitar áreas frágeis, ficar a uma distância de pelo menos sessenta metros de qualquer fonte de água, não cavar valetas, usar plástico sob a barraca e não fazer fogo. Ao ir embora, certifique-se que deixou tudo como estava antes da sua estadia. Caso não existam instalações sanitárias, as fezes devem ser enterradas a quinze centímetros de profundidade, longe da água, das trilhas e da área de camping, onde não seja necessário remover a vegetação. O lixo, incluindo papel higiênico, não deve ser queimado ou enterrado – tem que levar tudo de volta.

Algumas lesões comuns em ambientes naturais são provenientes de quedas, como escoriações, entorses e fraturas. As minhas estratégias para não ter esses problemas é usar um calçado adequado, andar com bastante atenção, evitar áreas molhadas, respeitar as sinalizações e não me aventurar por espaços mais perigosos. Também são frequentes hipotermia, hipertermia, desidratação, afogamentos e reações alérgicas. A maior parte pode ser evitada com planejamento e responsabilidade.

O salvamento em ambientes naturais é caro e complexo, podendo ser bastante demorado e causar danos ao ambiente. Alguns cuidados podem ajudar nessa questão, como manter-se nas trilhas pré-determinadas; aprender técnicas básicas de segurança, navegação e primeiros socorros; deixar o roteiro do passeio com um amigo ou familiar; avisar os funcionários do parque sobre o tamanho do grupo, equipamento utilizado, nível de experiência e data esperada de retorno; e contratar um guia especializado.

Também é preciso considerar os perigos e riscos inerentes a esse tipo de atividade ao ar livre, como animais peçonhentos, quedas e rolamentos de pedras, ocorrência de raios, cabeças d’água, terrenos acidentados e escorregadios, quedas de árvores e galhos, além de outros fenômenos naturais como mudanças climáticas bruscas. Para ter mais segurança, é recomendado andar em grupo, já que assim uma pessoa pode ajudar a outra. Mas não exagere. Formar em grupos pequenos ajuda no melhor contato com a natureza e causa menos impacto.

Durante os passeios, é possível encontrar outros visitantes, funcionários e até mesmo moradores da área, que devem ser tratados com cortesia e respeito. Ao passar por porteiras e cancelas, certifique-se que as deixou fechadas, evitando a fuga de animais para propriedades vizinhas ou ambientes naturais. As conversas devem ser mantidas em nível baixo e nem considere a possibilidade de levar caixas de som ou instrumentos para tocar música. A ideia é preservar a tranquilidade e a sensação de harmonia que são favorecidas pela natureza.

Preferencialmente, pede-se evitar o uso de cor forte nas roupas e acessórios, que podem ser vistos a grande distância e interferem visualmente na experiência, criando uma poluição visual nos locais mais frequentados. Para chamar a atenção de uma equipe de socorro, em caso de emergência, recomenda-se um tecido ou plástico grande na cor laranja. Nos banhos de rio e cachoeira, evite o uso de produtos como xampu, sabonete, creme ou outros, que acabam contaminando as águas.

Sempre observe à distância os animais nativos, já que a proximidade pode ser interpretada como uma ameaça e provocar um ataque. Além disso, bichos silvestres podem transmitir doenças, incluindo algumas graves. Eles também não devem ser alimentados, sob o risco de se acostumarem e passarem a buscar comida nas barracas, mochilas e outros equipamentos dos visitantes. Já os animais domésticos devem ser deixados em casa, já que podem causar problemas como afastar os animais locais, introduzir de novas doenças e ameaçar o ambiente natural.

Durante a caminhada, é possível que se passe por trilhas mais fechadas. Não arranque galhos ou colha flores e plantas silvestres. Nem deveria ser preciso dizer, mas fazer pichações ou marcar árvores é inaceitável. É possível apreciar a beleza local sem agredir a natureza, mantendo o balanceamento e garantindo a mesma oportunidade para os demais turistas. Colabore com a educação de outros visitantes, transmitindo os princípios de mínimo impacto sempre que tiver oportunidade. Se vir algo errado, denuncie aos órgãos responsáveis.