Pelo que eu pude perceber nos meus passeios pelo Parque Nacional da Serra do Cipó, a maior parte dos visitantes opta por fazer as trilhas acessadas pela entrada principal. Dessa vez, meu objetivo foi conhecer Vale do Bocaina, que também tem atrativos interessantes e é acessado por uma portaria secundária.Como as trilhas demandam bastante tempo, eu recomendo se hospedar na comunidade por um ou dois dias, assim dá para fazer tudo com mais calma e disposição.

Depois de viajar a partir da capital mineira e dormir uma noite na pousada, me dirigi até a Portaria do Retiro e deixei o carro um pouco antes da guarita de controle. Não havia um estacionamento formal, basta chegar e parar na rua mesmo. Na entrada, um funcionário passa informações aos visitantes e entrega um folheto com informações diversas e um mapa. Na época, não estava sendo cobrada entrada – recomendo acessar a página oficial para dados atualizados, incluindo horário de funcionamento e outras orientações.

Os primeiros setecentos e cinquenta metros são percorridos pela estrada calçada bem plana. Depois, começa a estrada de terra, com subidas e descidas. Nesses primeiros trechos, dá para ir de bicicleta ou em uma caminhada tranquila. Depois de passar por um restaurante de comida caseira comandado por moradores locais, chega-se ao Bambuzal. Quem quiser descansar ou até mesmo se refrescar, pode parar nesse local, que fica a dois quilômetros da entrada do parque. Como é o atrativo de mais fácil acesso, os visitantes costumam levar suas próprias bebidas e curtir o rio como se fosse uma praia ou piscina natural.

A partir dali, a caminhada se dá por trilhas mais estreitas, com trechos de pequenas pedras soltas, areia, lama, subidas de escadas formadas por rochas , raízes de árvore e outras variações no terreno, o que inviabiliza o uso de qualquer veículo. Também é preciso andar com mais cuidado para não se machucar. Você vai ter percorrido cerca de três quilômetros e meio do percurso quando chegar na porteira da foto acima – como tem que abrir e fechar, não tem como passar despercebido.

Ao longo do caminho, é preciso fazer a travessia de diversos córregos. Eu achei tranquilo, pois há pedras que ficam acima do nível da água e não é necessário tirar os sapatos. O maior deles é o Córrego Dona Odília, que fica logo depois da porteira. Se seu objetivo é ir até o ponto mais distante da trilha, ele fica um pouco antes da metade do caminho.

Com pouco mais de cinco quilômetros chega-se a uma bifurcação que indica uma cachoeira para a direita, enquanto os outros atrativos são seguindo em frente. Eu visitei tudo em um dia só, mas confesso que foi bastante cansativo. Se decidir fazer o mesmo, recomendo começar o passeio bem cedo para ter tempo de aproveitar melhor.

A Cachoeira das Andorinhas tem o acesso dificultado no seu trecho final, já que depois de quase seis quilômetros da entrada do parque, é preciso atravessar cerca de duzentos e cinquenta metros subindo e descendo pedras grandes, sem uma definição clara de por onde é melhor passar. De fato, percebi que algumas pessoas acabaram decidindo ficar nos poços formados pelo rio, antes de chegar à queda d’água. Eu fui até o fim e achei que vale à pena.

De volta à trilha principal, basta percorrer quinhentos metros depois das placas para chegar à Cachoeira do Gavião. Somente na chegada é preciso caminhar sobre pedras para fazer a travessia do córrego e alcançar o poço, mas é bem mais fácil que na cachoeira anterior. Como é um dos atrativos principais do vale e a única dificuldade de acesso é realmente a distância, a cerca de seis quilômetros da entrada do parque, ali acaba se concentrando grande parte dos visitantes.

Com mais setecentos metros de caminhada, encontra-se a Cachoeira da Éricka, ignorada pela maioria dos visitantes por ser bem menor do que as outras. Ela nem mesmo aparece no mapa oficial. A vantagem ali é que, justamente por ser pouco procurada, não fica absolutamente ninguém – ideal para quem quer curtir um tempo sozinho com a natureza, sem outras pessoas conversando ou disputando espaço.

Totalizando oito quilômetros de trilha, chega-se à Cachoeira Tombador, a mais distante desse roteiro. Eu acabei ficando a maior parte do tempo lá, já que havia menos gente. A parte inferior possui um poço bem amplo, dividido em uma parte rasa e outra bem profunda. Subir pelas pedras, chega-se à parte superior, que achei mais interessante por ter um volume maior de água.

Entre as recomendações principais para aproveitar bem o passeio no Parque Nacional da Serra do Cipó, destaco a necessidade de levar uns dois litros de água por pessoa, já que a caminhada é longa e, na maior parte do tempo, sob o sol. Como os pontos de venda ficam apenas no começo do parque, tenha em mãos um lanche leve e sempre recolha seu lixo.

Também é importante usar roupas adequadas. Eu fiz esse passeio no final da época de chuvas e o mato estava avançando bastante em muitos trechos da trilha. Eu estava de bermuda e a vegetação acabou incomodando um pouco, irritando a pele. Talvez fosse melhor ter usado uma calça leve, dessas de fazer exercício físico mesmo. Fora isso, eu estava todo paramentado com roupas adequadas, incluindo camisa e chapéu com proteção UV, tênis de caminhada e muito protetor solar.

Também passei por um trecho mais selvagem e de árvores, mas ainda com a trilha bem marcada pela passagem constante de pessoas. Como eu tinha feito o download do mapa offline, consultava o celular de vez em quando para ter uma noção melhor das distâncias e conferir se estava no rumo certo – na maior parte do tempo, não tinha sinal de celular.

De modo geral, eu achei fácil me localizar. Ainda assim, um ou outro ponto podem gerar dúvidas, mas basta prestar atenção nas placas indicativas. Eu só senti falta de colocarem a distância já percorrida ou ainda restante, o que ajudaria a entender quanto tempo se tem pela frente.

Por fim, é imprescindível conferir a previsão do tempo antes de fazer qualquer passeio desse tipo, já que as chuvas deixam as trilhas bem mais perigosas pelo risco de quedas. Além disso, as pancadas podem ocasionar o rápido aumento do nível da água, causando acidentes e afogamentos. No mais, é fazer um bom planejamento e curtir todo o trajeto, que é feito entre as montanhas da serra.
Para facilitar a localização dos atrativos, entender melhor o trajeto descrito nessa postagem e escolher seu próprio itinerário, disponibilizo acima um mapa interativo com tudo que já visitei do parque e da comunidade. Para ver mais detalhes, basta aproximar com o zoom.