Santuário do Bom Jesus de Matosinhos

Congonhas – Santuário do Bom Jesus de Matosinhos

A origem desse santuário está ligada a Feliciano Mendes, garimpeiro português nascido nas imediações da cidade de Guimarães que teria vindo a Minas Gerais em busca de ouro. Após ser acometido por uma grave doença, rogou pela cura a São Matosinhos, muito adorado em sua região natal, e fez a promessa de erguer um espaço de fervor religioso. Com a graça alcançada, ergueu um oratório e assentou uma cruz no alto de um morro em 1757. No mesmo ano, conseguiu autorização para a construção do templo, utilizando recursos próprios e provenientes de esmolas.

Basílica do Bom Jesus de Matosinhos
Basílica do Bom Jesus de Matosinhos

Ele chegou a ver a igreja erguida, mas ainda faltavam as torres e a ornamentação interna quando faleceu – a obra só ficaria pronta mais de cem anos depois.  Em 1939, o conjunto foi tombado pela SPHAN – Secretaria do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional. Já em 1985, foi reconhecida como Patrimônio Cultural Mundial pela Unesco. Além da religiosidade, destaca-se o grande valor artístico do santuário, que conta grandes nomes como João Nepomuceno, Manoel da Costa Ataíde, Bernardo Pires, Francisco Vieira Cervas, João de Carvalhais e Francisco de Lima Cerqueira.

Jardim dos Passos
Jardim dos Passos

O projeto do conjunto arquitetônico pode ter sido inspirado no Santuário de Bom Jesus do Monte, em Braga, com o qual guarda algumas semelhanças. Ambos contam capelas distribuídas ao longo do jardim à frente, na subida do morro que dá acesso à entrada principal. A diferença está no número, já que na cidade portuguesa são dezessete capelas, enquanto em Congonhas foram erguidas seis. Em seus interiores, são narrados os Passos da Paixão de Cristo por meio de 64 esculturas de madeira.

Os Doze Profetas
Os Doze Profetas

Mas as obras mais famosas, também de autoria de Antônio Francisco Lisboa, o Aleijadinho, ficam um pouco mais acima. As estátuas de Isaías, Jeremias, Baruc, Ezequiel, Oséias, Daniel, Jonas, Joel, Amós, Nahum, Abdias e Habacuc, cada uma segurando um pergaminho, são popularmente conhecidas como Os Doze Profetas. Elas foram esculpidas entre 1800 e 1805 em pedra sabão de tonalidade cinza-esverdeada e estão expostas sem uma estrutura de apoio atrás, como um nicho ou uma parede. De fato, elas encontram-se na área externa, organizadas geometricamente na escadaria da basílica.

Elementos decorativos e iconografia
Elementos decorativos e iconografia

A parte interna também impressiona e é preciso fazer uma visita com calma para observar melhor os detalhes. Os arquitetos, escultores e pintores mineiros da época jamais saíram da região. Seus conhecimentos dos elementos decorativos e da rígida iconografia religiosa vinha por meio de gravuras e desenhos europeus, que circulavam avulsos ou em livros, como bíblias e missais. Eles eram copiados com poucas ou muitas alterações, dependendo do artista, que também podia combinar influências de diferentes fontes.

Altar da capela-mor
Altar da capela-mor

Os quatro relicários do altar, representando os santos Ambrósio, Agostinho, Jerônimo e Gregório, são considerados as últimas obras esculpidas em madeira por Aleijadinho e se destacam pela cor dourada das lâminas de ouro trabalhadas por Mestre Ataíde. A pintura do teto da capela-mor é de autoria de Bernardo Pires da Silva.

Pintura do forro
Pintura do forro

As imagens em perspectiva dos forros são representativas dos primórdios do rococó mineiro. No centro, um medalhão emoldurado por rocalhas e volutas mostra a visão do céu. O teto da nave é obra de João Nepomuceno Correia e Castro. Também são atribuídos a ele as telas que ornam o templo.

Painéis decorativos
Painéis decorativos

Esses painéis narram a história da redenção do homem desde o pecado original até a glorificação de Jesus ao lado de Deus Pai. Predomina a leveza, com figuras pintadas em tons claros e valorizadas pelos espaços vazios, contrastando com os tetos em estilo barroco, que apresentavam composições mais pesadas, cores sombrias e telas totalmente preenchidas.

Coro e ornamentos
Coro e ornamentos

A devoção a Matosinhos é explicada em uma lenda que conta que Nicodemos, discípulo de Jesus, teria lançado ao mar várias imagens da crucificação para se proteger da perseguição dos romanos e judeus. Uma dessas esculturas alcançou a costa de Portugal, sendo resgatada pela população num lugar chamado Matosinhos, em 3 de maio do ano de 124. Desprovida de um dos braços, foi recolhida ao Mosteiro de Bouças, mas não conseguiam repor o membro. Cinquenta anos mais tarde, uma mulher recolheu lenhas na praia e observou que uma das madeiras não queimava, saltando quando lançada ao fogo. Tratava-se do braço que faltava à imagem, fato anunciado milagrosamente por sua filha, que, até então, era surda e muda.

Sala dos Milagres
Sala dos Milagres

Muitas pessoas buscaram na fé a solução dos problemas mais diversos. É possível observar isso na Sala dos Milagres, que possui uma grande coleção de ex-votos – nome dado aos quadros, esculturas e objetos oferecidos como pagamento de uma promessa ou agradecimento da graça alcançada. Os itens são datados do século XVIII ao XX, servindo como testemunho de alterações no comportamento religioso por representarem os devotos em seus quartos, com mobiliário, acessórios e indumentárias da época. É interessante também porque, são descritos os milagres.

Capela externa
Capela externa

Por fim, há uma pequena capela que contrasta com o restante da estrutura do santuário pela sua simplicidade. Também vale a pena dar uma volta completa pelo pátio, observando detalhes da arquitetura da igreja, e visitar o Museu de Congonhas para mais informações históricas e artísticas sobre o monumento.

2 comentários

  1. André Candreva - Presidente do Instituto Histórico e Geográfico de Congonhas disse:

    O Santuário do Bom Jesus de Matosinhos em Congonhas é ímpar… e vale muito a visita. Bela matéria. Parabéns.

    Curtido por 1 pessoa

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