Embora a área urbana de Arraial d’Ajuda seja pequena, a escolha de onde se hospedar influencia bastante na experiência como turista. Uma boa parte escolhe ficar na parte norte, pertinho da travessia da balsa para Porto Seguro, o que permite um acesso mais fácil à cidade, além de ser um ponto de saída movimentado para diversos passeios na região.

Outra opção é ficar na área central, cujo ponto de referência é a Rua do Mucugê, propagandeada como a mais charmosa do país. Repleta de restaurantes, lojas e hospedagens, ela certamente vale a pena ser visitada por suas boas opções de entretenimento, como música ao vivo nos bares. Mas o movimento por lá é maior a partir do fim da tarde, quando a maioria das pessoas já voltou dos passeios pelas praias.

A rua liga a praia de mesmo nome, muito frequentada justamente pela sua localização estratégica e pela boa estrutura de barracas, com a Praça São Brás. Embora não seja particularmente atraente, a pracinha é importante por ser um ponto de encontro onde são realizados eventos ao ar livre e a famosa feira de artesanato local, cuja produção é ligada à cultura indígena. Além disso, o local está rodeado de comércios importantes.

Muitas pessoas que ficam hospedadas em albergue com cozinha ou casa de temporada, como foi o meu caso, optam por fazer compras no Supermercado Cambuí para preparar suas próprias refeições. Também vale a pena para quem não quer consumir tanto nas cabanas de praia que, como é esperado em toda essa região, cobram valores bem altos por comidas e bebidas. Até o mercado mesmo é mais caro do que em outras cidades, o que era mesmo esperado por se tratar de um local turístico, mas ainda assim vale a pena.

Dessa praça sai outra rua importante da vila. A Broadway não tem nada a ver com a famosa avenida americana, famosa pelos seus teatros. De fato, seu nome oficial é Rua São Pedro e se destaca pelas várias lojinhas de tudo que se pode imaginar, mas com foco no artesanato e artigos de praia, espalhadas em pouco mais de cem metros e apenas uma quadra. Depois ela continua por mais duzentos metros, dessa vez chamada Bela Vista, chegando até o mirante atrás da igreja.

No caminho se passa pela Praça Brigadeiro Eduardo Gomes, que é bem mais agradável que a anterior, com jardins bem cuidados e bastante sombra de árvores, ideal para sentar no banco e passar alguns momentos mais calmos. Ela também está rodeada de atrativos gastronômicos como bares, restaurantes, lanchonetes e cafés.

O comércio ocupa diversas casas históricas que se apresentam bem conservadas e chamam a atenção com suas simples fachadas coloridas. Inicialmente, Arraial d’Ajuda servia como um ponto de observação da costa e a comunidade prestava auxílio aos moradores de localidades próximas contra possíveis ataques. Algumas pessoas atribuem a isso o nome da vila, mas tudo começou no ano de 1549, quando chegaram às terras brasileiras três naus chamadas Conceição, Salvador e Ajuda. Os nomes seriam, posteriormente, adotados por cidades baianas e suas primeiras igrejas.

Quem vê o Santuário de Nossa Senhora d’Ajuda pode pensar que se trata de uma construção muito simples, mas o fato é que ela evoluiu bastante da sua forma original. Junto à comitiva de Tomé de Souza, chegaram os cinco primeiros jesuítas a desembarcar em nosso território. Eles foram os responsáveis por erguer a capela que contava apenas com um altar móvel, um crucifixo e a imagem de Nossa Senhora trazidos de Portugal. Os móveis e objetos eram cobertos por folhas de palmeiras. Somente em 1722 surgiu a estrutura atual, erguida com pedra e cal. Embora muitas reformas tenham sido feitas ao longo dos anos, o santuário conserva até hoje o antigo altar e a milagrosa imagem de Nossa Senhora d’Ajuda.

O interior é bem simples, sem pinturas na parede, com piso de pedra e bancos antigos de madeira. O destaque fica para o altar com as imagens religiosas. Já na sala dos ex-votos, vários objetos servem como testemunha das inúmeras graças alcançadas pelos fiéis que visitaram o local e fizeram as suas promessas. A devoção também aparece do lado de fora, principalmente na parte de trás do santuário. Ali os visitantes amarram as famosas fitinhas coloridas que podem ser compradas de vendedores ambulantes, nas lojas de artesanato e outros estabelecimentos.

As fitas de santos são usadas para fazer um pedido ou agradecimento. Diz a tradição que elas tiveram sua origem no costume de utilizar tiras das roupas de santos para ter sorte ou proteção. Com o passar do tempo, com os tecidos ficando cada vez mais raros, passou-se a utilizar fitas coloridas, que eram produzidas artesanalmente. O correto seria usá-la no pulso esquerdo com duas voltas e três nós, cada um deles correspondendo a um pedido feito em silêncio. As requisições seriam realizadas com o rompimento natural, tempos depois. Outra regra é que elas deveriam ser recebidas como um presente e não compradas. Mas o passar do tempo e a popularização mudou tudo e, atualmente, o apetrecho é fabricado industrialmente e colocado em todo lugar. No Santuário de Nossa Senhora d’Ajuda, elas tomam todo o guarda-corpo do mirante.

A parte de trás da igreja é uma das mais visitadas pelos turistas, já que dali é possível ter uma ampla vista do litoral e das praias que se estendem em direção a Porto Seguro até o Rio Buranhém, onde é feita a travessia da balsa. Entre milhares de metros de reserva natural, destacam-se o parque aquático, com toboáguas, tirolesas e outros atrativos, e alguns condomínios. Já as praias do sul, mais desertas e com falésias beirando o mar, não podem ser avistadas desse ponto. É um ótimo ponto para tirar fotos e o nascer do sol e da lua.

Dali, vale a pena pegar a escadaria da fonte para cortar caminho até a rua de baixo. São duas opções, uma com degraus mais altos e descida direta, e outra que faz uma curva e é menos inclinada. Ambas dão acesso ao mesmo local, onde uma imagem da santa marca o local de visita para pedidos e agradecimentos.

A Fonte de Nossa Senhora d’Ajuda faz parte do santuário e tem grande valor histórico e simbólico. Embora a estrutura tenha sido erguida entre 1929 e 1930, fiéis já vinham de longe em busca dos milagres e curas atribuídas às águas desde a época da construção da igreja. As peregrinações religiosas se mantêm até dias atuais. Além dos milhares de romeiros, os turistas também aproveitam para tomar um banho nas águas, já que existe a lenda de que isso garante a sua volta à cidade.

Como a maioria das pessoas dedica o dia para fazer passeios pelas praias, a região central tem bastante movimento à noite, quando a maioria dos estabelecimentos ficam abertos. O clima continua quente, mas mais agradável, o que permite se acomodar nas cadeiras dispostas nas calçadas. Na Broadway e em outras ruas da área é possível encontrar opções diversas para jantar.

O movimento maior, entretanto, é mesmo na Rua do Mucugê, que concentra o maior número de restaurantes e bares da cidade. Mesmo para quem não tiver intenção de comer ou beber em algum lugar, vale a pena dar uma caminhada por lá para curtir um pouco da cidade e observar o movimento.