Visitas a lugares religiosos estão sempre inclusas nas minhas viagens porque eles representam bastante da cultura e da história local, seja na arquitetura, nas obras de arte, na sua importância junto à população em esferas socais e políticas ou qualquer outro aspecto que chame a atenção. Além disso, a maioria tem entrada gratuita, como é o caso da catedral localizada no número 203 da East 10th Street, no centro histórico.

As origens da Saint Mary Cathedral datam dos anos 1850, quando uma comunidade católica de irlandeses em Austin, então a temporária capital do Texas, com uma população de apenas 600 pessoas, construiu uma pequena igreja chamada St. Patrick’s na esquina da 9th com Brazos Street. Em 1872, quando a cidade já tinha se tornado a capital permanente do estado e o número de habitantes e, consequentemente, fiéis havia aumentado, em grande parte devido a chegada de alemães, deu-se início à construção da atual estrutura um quarteirão acima. O projeto ficou por conta do arquiteto Nicholas Clayton, que, pela primeira vez em sua carreira, desenhava uma igreja. Já a estrutura original acabou sendo demolida.

Cada detalhe da fachada do edifício em estilo vitoriano faz alusão à doutrina católica: o triângulo é uma forma ligada à Santíssima Trindade; a torre dos sinos, um aproveitado da primeira igreja e outro de 1886, é uma referência ao trecho dos Salmos 61:3 que diz “pois tu és o meu refúgio, uma torre forte contra o inimigo”; a cruz no alto anuncia a vitória da ressurreição; a estátua da Virgem Maria sobre a porta recebe os fiéis e os ramos de lírio simbolizam a sua pureza; e, logo atrás dela, a grande rosácea lembra a alma, com sua luz e energia penetrando a matéria.

Ao ingressar nas igrejas católicas, geralmente encontramos uma porta interna. Essa segunda barreira serve para separar o mundo externo, cheio de distrações, do espaço onde fica o sagrado. Em termos práticos, ela ajuda a barrar o vento e abafar os sons da rua. Já o santuário tem a forma de uma nave ou navio, uma configuração também bastante tradicional. A ideia é que, quando o ambiente está cheio, os fiéis se assemelhem aos peixes que os apóstolos pescaram ao obedecer à ordem do Senhor para jogar as redes na água.

Quando eu passei por lá, não havia absolutamente ninguém. Pude andar tranquilamente pelos corredores, sentar nos bancos e observar os detalhes da arquitetura, mas não consegui subir até a parte superior, onde fica o coro, porque o acesso estava fechado. Ainda assim, foi possível ver o belo trabalho com a madeira nas estruturas, móveis e outros detalhes criados com formas orgânicas para lembrar os espaços naturais em que os homens encontram o divino, com colunas que parecem árvores e capitéis esculpidos em folhagem. Já os arcos pontiagudos nas portas e janelas, bem como os pináculos, evocam montanhas.

Originalmente, a paróquia pertencia a Galveston. Quando foi formada a diocese de Austin, em 1948, a Saint Mary Cathedral se tornou a moradia do novo bispo. Nessa época, a igreja foi toda remodelada e a maioria das suas decorações em estilo neogótico foram removidas. Os vitrais e outros elementos continuam originais. Embora eu não tenha um profundo conhecimento religioso, sempre gosto de dedicar um tempo para olhar as imagens criadas nessas janelas, geralmente contendo passagens relevantes das histórias contadas na Bíblia Sagrada.

A parte que mais chama a atenção, entretanto, é o altar, com o teto elevado e a cúpula azul repleta de estrelas. Se, além da visita, você quiser acompanhar uma missa na catedral, é recomendado chegar com quinze minutos de antecedência em dias comuns e com pelo menos quarenta e cinco minutos em datas especiais, como a Páscoa e o Natal. Os dias e horários podem ser conferidos na página oficial e todos são bem-vindos, só sendo indicado vestir roupas recatadas e manter um comportamento adequado, obviamente sem tirar fotografias para não atrapalhar os outros. No mais, uma volta pelo interior da igreja já é o suficiente para conhecê-la rapidamente.