O MFAH, como também é conhecido o Museum of Fine Arts, Houston, é um dos maiores museus dos Estados Unidos, com uma coleção permanente de aproximadamente 64.000 trabalhos provenientes de todos os continentes que abrange mais de 6.000 anos de história. Essas obras estão em vários edifícios, sendo que os principais, Caroline Wiess Law Building e Audrey Jones Beck Building, têm 12.000 m2 de espaço para exibições. Eu visitei esse museu de belas artes, que fica no Museum District, em duas ocasiões. Na primeira, ganhei os convites pelo meu trabalho no Viajento, tendo sido convidado a conhecer a coleção. Na segunda vez, aproveitei a regalia que acontece às quintas-feiras e vale somente para a coleção permanente – exibições temporárias continuam sendo cobradas à parte. Todos têm acesso gratuito nesse dia da semana.

Outra opção é o programa Lunch + Look, válido para todos os dias da semana no horário de almoço. Basicamente, você leva o recibo do food truck que fica na porta do Beck Building ou do café e pode entrar no museu sem pagar mais nada entre meio dia e duas da tarde, podendo explorá-lo por quanto tempo quiser. Os detalhes estão descritos nessa página. Como a visita pode se estender por algumas horas, eu aproveitei para conhecer o MFAH Café. Para informações mais atualizadas sobre os dias e horários de funcionamento, bem como valores de entrada, exposições e a confirmação de que esse esquema das quintas e do food truck continuam valendo, acesse o site oficial.

Esse é um dos mais antigos e completos museus de arte do Texas. Eu iniciei a minha visita pelo Caroline Wiess Law Building, um prédio em estilo neoclássico projetado pelo arquiteto William Ward Watkin e inaugurado em 1924, com adições de novas alas em 1926. Posteriormente, foram feitas novas estruturas, o que aumentou a sua área e trouxe avanços estruturais, como o sistema de ar-condicionado. Dei primeiro uma volta completa pelo prédio para observar os aspectos arquitetônicos da construção, o jardim e uma obra de arte. Depois me encaminhei para a entrada principal, na 1001 Bissonet Street (há mais de uma entrada).
Ali passei na recepção e ganhei um desses identificadores que ficam pregados na blusa e devem estar à mostra durante toda a visita. Aproveitei para pegar um mapa para me orientar, pois são três andares e várias salas nesse prédio. Também tive que deixar a minha mochila, pois não é permitido entrar com volumes grandes no museu.

Eu comecei a visita no andar térreo pela pequena sala da Contemporary Dutch Design, uma seleção de trabalhos dentre o acervo sempre em mudança. Também nessa área fica a Art of the Islamic Worlds, dividida em duas pequenas salas. O foco dessa exposição é o islamismo, religião que patrocinou grandes obras da arquitetura e arte pelo mundo, incluindo templos, cerâmicas, manuscritos e outros. Essas exposições vão mudando com o tempo.

O tema continua com a exposição Arts of Islamic Lands, uma das mais completas e distintas coleções de arte islâmica do mundo. Trata-se de uma pequena amostra dos milhares de objetos que compõem a coleção, que abrange vários séculos e territórios, indo da Espanha até a China. Para chegar até ela, é preciso subir um pequeno lance de escada.

Dali passei para o que é a maior sessão desse andar, chamada Arts of Asia, com cada sala dedicada a um país. A Coréia é destacada tanto por suas tradições milenares quanto pela tecnologia de ponta, além de ser um centro de comunicações multiculturais da Ásia há séculos. Nessa galeria, estão expostos artefatos históricos e contemporâneos. O mesmo acontece na parte da Índia, país cuja história foi marcada pelo comércio, invasões e migrações, muito influenciados pela sua localização geográfica estratégica. Ao norte, os impressionantes picos do Himalaia marcam as divisas com nada menos que sete países. O sul é cercado pelo mar. Por estar acessível em todas as direções, a diversidade artística, política, religiosa e social influenciou o país nos últimos 5.000 anos, deixando suas marcas também na arte.

O Japão e a China me fascinam e eu sou doido para conhecer os dois países. No caso da sala chinesa, uma das obras que chama a atenção é a pintura das paredes. Um vídeo do lado de fora explica que a criação de Cai Guo-Qiang foi feita com o dinâmico e explosivo poder da pólvora, material inventado no país no século IX. O resultado foi uma pintura de paisagem em larga escala em que é possível identificar elementos clássicos da arte chinesa, como jardins, montanhas distantes, cachoeiras e palmeiras. Já na escadaria e no corredor que dá acesso ao próximo nível, há uma exposição de peças em ouro da Indonésia.

O andar superior é dividido em três exposições. A primeira que eu visitei é focada na African Art, apresentando a cultura do país em forma de acessórios, vestimentas e outros elementos. Uma parte mais próxima de nós é da Pre-Columbian Art, com foco nas criações das civilizações que ocupavam a América Central e a América do Sul antes da chegada de Cristovão Colombo e a “descoberta” dos nossos continentes. Em exposição estão peças encontradas, principalmente, em tumbas e cemitérios, onde eram colocadas para acompanhar os mortos no além.

Descendo dois andares, cheguei ao subterrâneo. A passagem é chamada Selections from the Museum Collection e é aproveitada para expor obras escolhidas pela curadoria do museu, sendo uma área em constante mudança. Ela fica em frente ao Brown Auditorium Theater, onde é possível assistir filmes de arte do cinema mundial. Quando eu passei por lá, estava em cartaz uma mostra de filmes do diretor Ingmar Bergman. Os ingressos são pagos à parte e a programação pode ser conferida na página oficial.

Há, ainda, uma sala dedicada à Native American Art of the Southwest. Quando os Europeus chegaram à América do Norte, eles também encontraram civilizações milenares de povos que foram chamados de indígenas. Ali estão expostos tecidos e cerâmicas, além de outros objetos. Com isso acaba a parte da exposição do primeiro prédio. Através de uma passarela subterrânea iluminada chamada The Light Inside, chega-se prédio Audrey Jones Beck Building que fica do outro lado da rua e foi projetado por Rafael Moneo, sendo aberto ao público em 2000.

Assim como no outro prédio, os corredores aqui são utilizados como espaço para exposição de seleções do acervo do museu. Também havia um apanhado da história da fotografia e uma sala dedicada aos Digital Worlds. A tecnologia começou a transformar a arte contemporânea já na década de 1960. Entretanto, somente com a popularização dos equipamentos a partir dos anos 1990 é que os artistas realmente mergulharam de cabeça na produção de video arte e fotografias digitais. Nessa parte do subterrâneo também fica o MFA Café, um restaurante com pratos inspirados na culinária italiana com influências texanas. Eu aproveitei para fazer um lanche, especificamente um croissant recheado e um café. Gostei do ambiente e os preços são pareceram justos. O cardápio pode ser acessado na página oficial.

Subindo pelas escadas rolantes ou de elevador, chega-se ao andar térreo desse segundo prédio, que também serve como entrada para o museu. O hall principal e uma das salas são dedicados a Antiquities. Ali é possível ver esculturas, bustos, sarcófagos, cerâmicas e painéis. Também há uma área grande dedicada à American Art 1800-1970. No século XVIII, a arte produzida pelas colônias britânicas na América do Norte era dominada por retratos da burguesia local. Já na virada do século, começaram a aparecer outros temas como pinturas históricas, paisagens e naturezas mortas.

Além da coleção permanente, pude conferir no museu uma das exposições temporárias que estava de graça nesse dia. Imagino que seja porque as outras salas estavam fechadas para a montagem de novas peças ou porque já era a última semana. Enfim… tratava-se do inovador trabalho do aclamado designer holandês Joris Laarman, cujos móveis são gerados por algoritmos no computador e executados por robôs. A mostra contava com várias cadeiras modernas, experimentações com projetos, desenhos, vídeos e outros. Uma das coisas que eu gostei nesse museu é que ele vai desde a arte de milhares de anos atrás até coisas que parecem ter saído de um filme de ficção futurística.

O andar superior desse prédio é praticamente todo dedicado à European Art 1200-1940. Organizado em ordem cronológica, é interessante começar pela parte mais antiga (basta observar a numeração da sala). Embora não seja meu estilo preferido, é inegável que a arte do renascimento impressiona pela qualidade dos trabalhos produzidos na época, geralmente com retratos da alta corte e temas religiosos. Também é possível observar grandes tapeçarias, usadas para exaltar o poder da aristocracia, uma vez que custavam muito mais caro que as pinturas.

Acho interessante destacar que, apesar de ser um dia de visitação gratuita, o museu estava bem tranquilo, o que permitia andar com calma e apreciar as obras em paz. As salas desse prédio mais novo também são maiores e as obras dispostas com mais espaço. Vão me matar, mas eu prefiro museus assim do que o Louvre, que possui cinquenta quatros pregados na mesma parede e você fica até tonto de olhar para tanta informação visual.

A parte que mais me interessou foram as pinturas menos representativas e mais artísticas que apareceram com movimentos como o impressionismo, expressionismo, arte abstrata e outros. O museu conta com obras de vários artistas renomados como Picasso, Monet, Chagall, Kandisnky e tantos outros, seja de sua própria coleção, seja de empréstimos. Além disso, vale a pena ficar atento às exposições temporárias, que se aprofundam na vida e carreira de determinadas personalidades ou em movimentos específicos.

Para fechar o passeio, vale a pena passar pela MFA Shop, a loja do museu que vende os mais diversos itens relacionados às obras. Eu confesso que nunca compro nada, mas gosto de passar como se fosse uma parte das exposições.
Como complemento a esse passeio, eu também visitei o Cullen Sculpture Garden e a Glassell School of Art, que fazem parte do mesmo complexo e ficam na quadra ao lado. Já para 2020 está prevista a inauguração de uma nova unidade do museu. O Nancy and Rich Kinder Building irá abrigar as obras de arte pós 1900. Espero ter oportunidade de conhecê-lo em uma próxima viagem a Houston.